Clarissas de dois mosteiros na Espanha se declaram sedevacantistas
Em um comunicado, a abadessa do mosteiro de Belorado declara que se submeterá à autoridade de Pablo de Rojas Sánchez-Franco, que foi excomungado em 2019. Elas mencionam ambiguidades de doutrina na Cátedra de Pedro.
Redação (14/05/2024 15:14, Gaudium Press) As religiosas escolheram o dia de Nossa Senhora de Fátima para deixar a Igreja, declarando-se sedevacantistas. “A partir de hoje, festa de Nossa Senhora de Fátima do ano de 2024, a nossa comunidade (Belorado e Orduña), deixa a Igreja Conciliar a que pertencia e passa a fazer parte da Igreja Católica sob a tutela e jurisdição de S. Ilma Revma. Dr. Dom Pablo de Rojas Sánchez-Franco, legítimo Bispo da Santa Igreja Católica”.
Estas são as religiosas Clarissas de Belorado e Orduña, 15 no total, que a partir de agora estarão sob a autoridade de um ‘bispo’ excomungado, que foi ‘consagrado’ em duas ocasiões, a primeira, “pelo Sr. Daniel L. Dolan, da linhagem do cismático Monsenhor Ngô Dình Thuc” e a segunda, “pelo cismático Dom [Richard Nelson] Williamson, atualmente em situação de excomunhão”, segundo o decreto de excomunhão emitido em 2019 pelo então bispo de Bilbao, Dom Mario Iceta, contra Pablo de Rojas.
As Clarissas, em documento assinado pela abadessa Irmã Isabel de la Trinidad, afirmam que reconhecem “como último Sumo Pontífice válido Sua Santidade Pio XII”, decisão explicada através de um texto anexo intitulado Manifesto Católico de 70 páginas no qual elas declaram que “a Sé de São Pedro está vaga e usurpada”. Nesse documento, as Clarissas justificam sua decisão enfatizando que atualmente há um “caos doutrinário e moral” na Igreja.
Há um “silêncio persistente por parte dos Pastores” diante de acontecimentos “de grande magnitude que têm afetado as almas das irmãs contemplativas”, e que “da Cátedra de Pedro ultimamente têm surgido contradições, linguagem dupla e confusa, ambiguidades, lacunas de doutrina clara”, segundo as religiosas.
Elas também mencionam problemas específicos com a Sé Romana: “chegamos ao ponto de sermos bloqueadas por Roma porque eles não querem nos conceder uma licença para vender o Convento de Derio”, o que teria resolvido os problemas financeiros da comunidade.
O Arcebispado de Burgos responde
O Arcebispado de Burgos e o Bispado de Vitória divulgaram uma declaração conjunta em resposta às religiosas, abordando três questões: 1) a situação dos mosteiros de Belorado e Orduña; 2º) a carta e manifesto das Clarissas, tornados públicos nesta segunda-feira, 13 de maio; 3) uma lista das ações realizadas.
Em relação à situação dos mosteiros, elas sempre foram atendidas, recebendo cuidados adequados por parte de seus capelães e que, durante as visitas do Arcebispo de Burgos, Mons. Mario Iceta, em 2021 e 2023, as religiosas não manifestaram qualquer desconforto ou reclamação. Nem no dia 12 de abril, quando o Delegado Episcopal para a Vida Consagrada conversou por telefone com a abadessa.
Nos próximos dias 27 e 28 de maio, estava prevista uma visita canônica a Belorado e Orduña (as duas sedes que compõem esta comunidade, uma na Arquidiocese de Burgos e outra na Diocese de Vitória) antes da eleição da nova abadessa no dia 29.
Em 2020, a comunidade concordou com o Bispado de Vitória a respeito da aquisição do Mosteiro de Orduña, para o qual a comunidade se transferiu do Mosteiro de Derio (Diocese de Bilbao). Segundo o comunicado episcopal, excluindo-se um pagamento inicial, a comunidade deixou de efetuar os demais pagamentos.
Em março de 2024, “a Irmã Isabel afirmou ter um benfeitor”, mas, “diante das suspeitas de que essa pessoa não pertencia à Igreja Católica”, o bispo de Vitória, Dom Juan Carlos Elizalde, tentou se encontrar com a abadessa, sem sucesso. No dia 7 de maio deste ano, o Bispado de Vitória intimou as Clarissas de Belorado perante um tabelião para rescindir o contrato de compra e venda. “Como a Irmã Isabel não aceitou a rescisão do contrato, ela levou o assunto à Justiça”.
Os bispos também afirmam que nem a carta da abadessa nem o Manifesto católico foram enviados “de forma oficial e confiável” ao Arcebispado de Burgos ou aos bispados de Vitória ou Bilbao.
Quanto ao conteúdo, rejeitam-se as acusações de “silêncio e aquiescência dos pastores” e as alusões à “ambiguidade e lacunas doutrinárias”.
Em relação ao alegado bloqueio de Roma à venda do Convento de Derio, o comunicado episcopal salienta que não é da competência do Arcebispado de Burgos ou do presidente da federação das Clarissas a que a comunidade pertencia até hoje, e que nenhuma comunicação foi recebida nem em Burgos nem em Bilbau.
O comunicado questiona também se a decisão cismática foi tomada por toda a comunidade, visto que tanto a carta quanto o manifesto trazem apenas a assinatura da abadessa.
Arcebispado de Burgos suspeitava o cisma
O Arcebispado de Burgos foi alertado para o possível cisma em 13 de abril, por isso iniciou uma investigação em 24 de abril, que foi comunicada à Santa Sé.
No dia 13 de maio, Dom Iceta tomou conhecimento dos documentos – a carta e o manifesto – indiretamente. No meio da manhã, ele conseguiu falar por telefone com a irmã vigária da abadessa, Irmã Paz, “confirmando o abandono da Igreja Católica pela comunidade e afirmando que a decisão havia sido tomada por unanimidade por todas as religiosas”, ao que o prelado exigiu “uma comunicação oficial”.
Irmã Paz também confirmou a Dom Iceta que o “bispo” excomungado Pablo de Rojas visitou o Mosteiro de Belorado em pelo menos três ocasiões e que uma pessoa “que afirma ser sacerdote e assistente direto” de Rojas também o fez e que celebrará missa para elas a partir de hoje. O arcebispo, ao tomar conhecimento dessa circunstância, alertou “para a gravidade do ato e da pena canônica em que incorrem”.
Por fim, o comunicado da Igreja Católica exorta “todos os fiéis a absterem-se de participar em qualquer ato realizado no Mosteiro de Santa Clara de Belorado ou no Mosteiro de Santa Clara de Orduña”.
As religiosas são conhecidas pela fabricação de doces.
Com informações Aciprensa
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