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De Jesus dependemos e n’Ele devemos permanecer

Quem se divorcia de Nosso Senhor, fenômeno infelizmente não muito raro na História, por mais que faça sacrifícios e reze, não pode obter mérito algum, pois este consiste na transferência dos méritos de Jesus Cristo a nós, ramos seus. Se falta comunicação com a Fonte das graças, torna-se impossível “dar fruto” no campo sobrenatural.

Jesus com seus discípulos - Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, Belém (Pará). Foto: João Paulo Rodrigues

Jesus com seus discípulos – Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, Belém (Pará). Foto: João Paulo Rodrigues

Redação (09/05/2024 10:10, Gaudium Press) Uma etapa importante no cultivo da vinha é a limpeza dos ramos produtivos, a qual exige esforço, atenção e acuidade do agricultor. Nos períodos adequados, torna-se necessário suprimir, por meio de instrumento apropriado, o excesso de brotos e outras saliências inúteis ou prejudiciais ao vegetal, como os pequenos filamentos em espiral, denominados gavinhas, que se aboletam nos sarmentos.

Semelhante é o proceder do Pai com os espíritos generosos, que procuram corresponder à graça e estreitar sua união com Cristo. Para purificá-los de seu amor-próprio, caprichos e outros defeitos, o Senhor promove situações de luta, sacudindo-os com o sofrimento. Tentações, dramas ou doenças, se enfrentados com amor, dispõem a alma para receber mais graças e, assim, gerar frutos excelentes.

Num sentido mais amplo, encaixam-se nessa divina diplomacia as perseguições que ao longo da História se levantam contra os bons, pondo-os em choque com o mal e incitando-os a defender a verdade. Deus as permite para apurar a fé de seus eleitos e, após cada embate, faz surgir maravilhas maiores na Santa Igreja.

Uma profunda realidade sobrenatural

Como é comum aos vegetais, a videira nunca deixa de extrair do solo os nutrientes necessários para dispensar seiva a cada um dos ramos.

Ora, Nosso Senhor Jesus Cristo, Verbo de Deus Encarnado, possui em Si a infinitude do bem, da verdade e da beleza; portanto, da parte d’Ele jamais faltarão graças para nos sustentar e santificar. Por outro lado, Ele sempre está disposto a permanecer em nós, estabelecendo como única condição que desejemos permanecer n’Ele.

Permanecer, com este verbo Nosso Senhor empenha-se em demonstrar a importância de nossa união com Ele. Mais do que em um desponsório místico, essa profunda realidade espiritual consiste quase numa fusão, semelhante ao ferro que se confunde com o fogo na forja. Poderíamos dizer que se trata de uma inserção nossa no Sagrado Coração de Jesus e, ao mesmo tempo, de uma inserção de Jesus no nosso próprio coração.

Mesmo quando depositado na terra ou num copo d’água, o ramo destacado já não se beneficia do sustento vital proporcionado pela videira. Incapaz de frutificar, logo murcha e seca.

Tal é a situação de quem se divorcia de Nosso Senhor, fenômeno infelizmente não muito raro na História: por mais que faça sacrifícios e reze, não pode obter mérito algum, pois este consiste na transferência dos méritos de Jesus Cristo a nós, ramos seus. Se falta comunicação com a Fonte das graças, torna-se impossível “dar fruto” no campo sobrenatural.

Lembremos o comentário de São Luís Maria Grignion de Montfort sobre a Santíssima Virgem, a qual dava mais glória a Deus com a menor de suas ações do que São Lourenço no momento de seu martírio. Ninguém permaneceu em Jesus como Nossa Senhora e, por isso, qualquer gesto d’Ela superava em méritos os maiores heroísmos dos Santos.

Quando permanecemos em Jesus e suas palavras permanecem em nós, pela prática dos Mandamentos, nossa vontade se encontra em inteira consonância com a d’Ele. Por esse motivo, o Redentor não põe limites às nossas súplicas, mas diz: “Pedi o que quiserdes”. Ou seja, tudo quanto almejarmos na linha da santidade e da perfeição sempre estará em conformidade com os desejos d’Ele e, por isso, ser-nos-á concedido. Quantas vezes durante a vida comprovamos o cumprimento dessa divina promessa!

Ora, se Nosso Senhor confere à nossa súplica esse caráter de onipotência, não há razão para acanhamento em nossas intenções. Para a glória d’Ele, precisamos ter grandes anseios! E a quem julgasse pretensiosa ou petulante nossa atitude, poderíamos responder com Santa Teresinha do Menino Jesus: “Considero-me apenas um frágil passarinho coberto somente de leve penugem, não sou uma águia, dela só tenho os olhos e o coração pois, apesar de minha extrema pequenez, ouso fixar o Sol Divino, o Sol do Amor, e meu coração sente em si todas as aspirações da águia”. Quem quer muito, obtém muito; quem quer pouco, obtém pouco!

Peçamos a graça de jamais deixarmos de nos beneficiar da seiva divina e de alcançarmos a total permanência em Jesus, para que também Ele permaneça em nós, por meio de Maria.

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 233, maio 2021. Por Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP.

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