Bélgica: eutanásia para “pessoas cansadas da vida”
Luc Van Gorp, presidente da companhia de seguro de saúde, Mutualité Chrétienne, na Bélgica, que tem como objetivo fornecer assistência médica digna a todos, apresentou uma proposta de eutanásia para “pessoas cansadas da vida”. Em resposta, os bispos belgas enfatizam que a Igreja sempre defende a dignidade humana.
Redação (17/04/2024 09:55, Gaudium Press) A Bélgica está diante de uma horrível cultura da morte. Luc Van Gorp, presidente da companhia de seguro de saúde belga, Mutualité Chrétienne, que visa proporcionar a todos cuidados de saúde dignos, apresentou uma proposta de eutanásia para “pessoas que estão cansadas da vida, mesmo que não haja sofrimento insuportável ou má qualidade de vida; elas devem ter a liberdade de acabar com suas vidas”.
Luc Van Gorp iniciou um debate sobre o suicídio assistido de idosos na imprensa flamenga na semana passada. Ele destacou a pressão financeira sobre o sistema de saúde resultante de cuidados aos idosos e, muitas vezes, aos doentes. Ele propôs uma solução radical para o “problema do envelhecimento”. Ele ressaltou que “aqueles que estão cansados da vida devem ser capazes de realizar seu desejo de fim da vida”, e que “não se pode prolongar a vida de quem não quer mais, porque se trata de orçamento e custa muito dinheiro ao governo”. Ele observou que o envelhecimento populacional na Europa apresenta um grande problema e há uma escassez do pessoal adequado para o atendimento.
Segundo Van Gorp, muitas pessoas que precisam de cuidados têm medo de serem abandonadas. “Também vemos isso nos números: 10% dos idosos sofrem de depressão ou queixas de fadiga da vida. […] Porque se você não consegue criar um ambiente de qualidade, fica a pergunta: eu ainda quero estar aqui? É uma tragédia terrível ter que viver em um momento em que você não quer”.
Já Joachim Coens, atual prefeito da cidade de Damme, no oeste de Flandres, mostrou-se indignado com esta proposta e escreveu no X (antigo twitter):
“Defender que aqueles que estão cansados da vida devem sair dela? É essa então a sociedade que queremos nos tornar? Uma cultura descartável também nessa área? Não seria melhor ajudar essas pessoas em vez de defender ‘atalhos’?”
Comunicado dos bispos Belgas
Em um comunicado, os bispos belgas reagiram com indignação:
“Esta proposta contradiz o que está no cerne de uma sociedade humana e de uma longa história de civilização, ou seja, o respeito fundamental pela vida humana, em primeiro lugar e acima de tudo, a dos mais vulneráveis. É incompreensível que o presidente de uma grande organização cristã de saúde esteja questionando esse princípio”.
“O presidente do CM falou sobre os custos de uma população que está envelhecendo e a procura por uma assistência necessária. É verdade que os desafios são grandes, os recursos não são infinitos e certamente há escolhas a serem feitas. Mas, em uma sociedade verdadeiramente humana, isso nunca pode ser feito às custas do cuidado para com aqueles que precisam. Muito menos que, como solução, as pessoas possam optar por tirar a vida, se assim o desejarem”.
E a declaração conclui: “Achamos estarrecedor que o presidente da CM tenha proposto esta opção. Afinal, a dignidade humana é inviolável e fundamento de toda a convivência humana”.
Em 2002, a Bélgica foi o segundo país a legalizar a eutanásia. Em 2014, tornou-se o primeiro país a abolir a restrição de idade à eutanásia. Atualmente, a eutanásia é permitida para menores que sofram de uma doença supostamente “terminal” e que estejam supostamente perto da morte ou experimentam dor crônica, desde que tenham o consentimento dos pais e médicos.
Em 2018, um relatório do governo revelou que três menores receberam injeções letais entre 2016 e 2017.
O número de casos de eutanásia tem aumentado desde a sua legalização em 2002, atingindo quase 3.000 casos em 2022.
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