Cardeal Müller: promover diaconisas é fazer concessão às ideologias feministas mundanas
O ex-prefeito da Doutrina da Fé conversou longamente com Michael Haynes, do LifeSite. Ele comentou o Caminho Sinodal Alemão.
Redação (26/03/2024 10:05, Gaudium Press) O Cardeal Gerhard Müller, ex-prefeito da Doutrina da Fé, concedeu uma extensa entrevista ao correspondente do LifeSite em Roma, Michael Haynes, que será publicada em três partes.
Veja abaixo alguns trechos da primeira parte.
Ao se referir ao Conselho Sinodal – um órgão de governo misto de clérigos e leigos que está sendo promovido na Igreja alemã – e ao seu precursor, o Comitê Sinodal, o Cardeal Müller afirmou: “O Comitê Sinodal contradiz absolutamente a constituição sacramental da Igreja Católica”, acrescentando que se trata de uma “forma de ideias protestantes, ou melhor, ideias anglicanas em que a Igreja é governada pelo rei ou diretamente por um comitê de bispos, padres e leigos”. Segundo o cardeal, governar a Igreja “não tem nada a ver com governo político, mas é uma representação do trabalho pastoral de Jesus Cristo”.
“Jesus, o pastor, é o Bom Pastor, que conduz as pessoas não a uma meta definida por nós ou a um paraíso mundano, mas para chegar a Deus, ao conhecimento de Deus nesta vida, neste curto espaço de tempo. Temos nossa existência na terra, mas temos a vocação para a vida eterna e, por isso, os bons pastores têm que dar suas vidas para conduzir todas as pessoas a Deus e à vida eterna”, sublinhou o cardeal.
Ele ainda salientou que “por trás do Comitê Sinodal há uma ideia equivocada do que é a Igreja e qual é a missão da Igreja”. Isso se deve ao fato de que os líderes do Caminho Sinodal alemão veem “a Igreja mais como uma realidade política e ideológica para o progresso da humanidade em um paraíso mais socialista ou liberal na terra, algo que nunca acontecerá”.
Procurar a raiz da doença
Ao elogiar o Vaticano por não permitir esse Conselho Sinodal na Alemanha, o Cardeal Müller observou que “teria sido melhor entender o que está acontecendo, não para derrotar o mal no último momento, mas desde o início”.
A respeito dos vários encontros que personalidades da Cúria Romana têm mantido com bispos alemães nos últimos anos sobre as questões levantadas pelo Caminho Sinodal Alemão, o Cardeal enfatizou que “a Cúria, a Cúria Romana, é responsável pela Igreja universal com e sob o Santo Padre. Eles não devem fazer concessões, [praticar] diplomacia, como na política, mas entender os princípios dessas questões e voltar às raízes dessa divisão, do perigo, do cisma ou da heresia”.
O cardeal exortou a Cúria Romana a não apenas “lidar com os sintomas” das prioridades heterodoxas do Caminho Sinodal, mas a “analisar as verdadeiras feridas dessa doença, porque é uma doença teológica, um mal-entendido do que é uma Igreja e não podemos fazer um acordo entre a verdade e o erro. Isso não é possível”.
O ex-prefeito da Doutrina da Fé passa, então, para uma análise mais universal.
Segundo Jesus Cristo, não segundo as nossas ideologias
O Cardeal destacou que os sínodos “também devem ser entendidos dentro do contexto da eclesiologia católica”. Além disso, o Sínodo da Sinodalidade não tem autoridade para realizar mudanças na doutrina ou na constituição sacramental da Igreja.
Müller denuncia que “por trás dessa ideologia [sinodal] está a crença de que ‘a Igreja é antiquada, medieval, e nós, esta é a nossa Igreja, nós somos a Igreja. Temos de mudar essa Igreja como um instrumento para a implementação de nossas ideologias, não para pregar a Palavra de Deus, mas para implementar nossas ideologias'”.
Falando como bispo, o cardeal lembra que “somos apenas os representantes de Jesus Cristo, e não somos os mestres ou os donos da Igreja. Se eles falam em termos de reforma e modernização, devem saber que nós precisamos ser reformados em nosso pensamento e em nosso comportamento de acordo com Jesus Cristo”.
O cardeal alertou que há um movimento para que a “Igreja deixe de ser o instrumento, o sinal, o sacramento de nossa profunda comunhão com Deus em amor, e seja o instrumento para a unidade da humanidade em Jesus Cristo: eles querem transformar a Igreja em outra organização global de saúde, como uma ONG”.
“Isso está absolutamente errado”, declarou Müller, “e, portanto, nem o Sínodo da Sinodalidade nem esse Caminho Sinodal podem [ser autorizados a] ter essa agenda, esse programa para alterar a essência da Igreja, transformando-a em uma organização auxiliada pelo mundo”. Nesse sentido, ele também aponta os movimentos em prol das diaconisas femininas como uma “concessão às ideologias feministas”.
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