São Dositeu
São Dositeu da Palestina, padroeiro de Gaza, nasceu no século 6, e sua memória é celebrada em 29 de fevereiro nos anos bissextos.
Redação (29/02/2024 10:02, Gaudium Press) São Dositeu viveu nos primeiros séculos da Idade Média, sendo um exemplo perfeito de santidade conquistada pela renúncia à própria vontade. Educado de forma mundana, talvez tivesse se desviado do reto caminho se um acontecimento não o levasse à conversão.
Percorrendo um dia a Palestina, viu em Getsêmani um quadro que representava o Inferno. Contemplava-o aterrorizado, quando uma Senhora de surpreendente majestade e beleza lhe apareceu, explicando-lhe o que via. Impressionado com a terrível ameaça do castigo eterno, Dositeu perguntou à desconhecida o que ele deveria fazer para nele não cair.
“É preciso — respondeu a Senhora — fugir do pecado e rezar”. E desapareceu.
O jovem buscou o mosteiro dirigido por São Sérido, um dos mais florescentes da Palestina. O abade entregou o neófito a um de seus melhores religiosos, São Doroteu. Este percebeu logo que o noviço não fora chamado para acompanhar as austeridades do convento, então decidiu inspirar-lhe o sacrifício completo da vontade.
Começou por ensinar-lhe o jejum gradativamente. Depois, encarregou-o da enfermaria. Nesse trabalho, Dositeu irritava-se às vezes com os enfermos.
Era então tomado de enormes escrúpulos. Ia para a cela chorar, e aí permanecia dias se São Doroteu não aparecesse e o acalmasse. Imediatamente o santo confiava na palavra do diretor e reiniciava o trabalho, afastando suas dúvidas.
São Doroteu nunca lhe impôs rudes penitências corporais, mas o repreendeu continuamente, humilhava-o sempre que podia, e o obrigava a renunciar às menores coisas.
Aprendendo a renunciar à própria vontade
Um dia em que Doroteu visitava a enfermaria, o noviço perguntou-lhe: “Estais contente, meu pai, com os leitos dos doentes, em ordem e limpos?”
— É verdade — replicou o religioso — que vós sois bom enfermeiro. Mas não sei se sereis um dia bom religioso.
Quando Dositeu precisava de uma roupa, seu mestre dava-lhe o tecido para fazê-la. Mas quando ele a terminava, obrigava-o a dá-la para um de seus irmãos, e fazer outra para si.
Em certa ocasião, um monge deu a São Dositeu uma faca que ele achou muito boa para seu trabalho na enfermaria. Ao pedir permissão para usá-la, o diretor respondeu: “É assim que colocais vossa satisfação na posse dessas bagatelas? Quereis ser senhor de uma faca ou servidor de um Deus? Não vos envergonhais, Dositeu, de fazer de um objeto o senhor de vosso coração?”
E o obrigou a desfazer-se do presente. São Dositeu gostava muito de ler as Escrituras, e sua alma muito reta fazia com que compreendesse trechos muito obscuros. Mesmo assim, quando tinha dúvidas, recorria a seu superior que não perdia ocasião de repreendê-lo rudemente e não responder às suas perguntas. Um dia, em vez de atendê-lo, enviou-o a São Sérido. O abade, já prevenido, olhou o discípulo severamente.
“Não vos compete — disse — ignorante que sois, falar sobre coisas tão elevadas. Refleti antes em vossos pecados e na vida mundana que levastes.” E o despediu com duas bofetadas. E Dositeu, após essa humilhação, voltou tranquilamente ao seu trabalho.
Após cinco anos de noviciado, o santo adoeceu gravemente dos pulmões. Recebendo a visita de São Barnassufo – um dos religiosos mais eminentes do convento – como estivesse sofrendo demais, implorou ao visitante:
“Meu pai, ordenai-me que morra, porque não posso mais”.
“Tenha ainda paciência” — respondeu o ancião.
Após alguns dias, pediu novamente Dositeu: “Meu pai, não posso mais viver”.
E o religioso respondeu: “Ide então agora em paz, meu caro filho, apresentar-vos ante o trono da Santíssima Trindade”.
Então, diz a vida dos Padres do deserto, esse bem-aventurado filho da obediência adormeceu o sono dos justos, no seio desta bela virtude que fora como sua mãe no caminho da perfeição.
São Dositeu é considerado um dos santos padroeiros de Gaza, e sua festa é celebrada em 29 de fevereiro. Ele praticou a mais absoluta e heroica obediência. Fazer continuamente a vontade de outros, ou seja, dos superiores para obedecer a Deus, é desapegar-se continuamente de manias, fobias, venetas e caprichos, o que supõe uma força de vontade sobrenatural.
A vitória de um homem contra obstáculos é, principalmente, uma vitória contra si mesmo, ou seja, contra todos esses defeitos. Quando um homem não leva a cabo uma tarefa que Deus quer dele, não é porque o obstáculo foi grande, nem porque o inimigo foi forte, ele é que foi pequeno.
Texto extraído, com adaptações, de conferência de 12/2/1972. Por Plinio Corrêa de Oliveira.
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