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Sete Santos Fundadores

Nossa Senhora apareceu em Florença a sete homens nobres, ricos, corretos, e recomendou-lhes que abraçassem uma vida mais perfeita. Eles fundaram a “Ordem dos Servos de Maria”, cujos membros são chamados servitas.

A Santíssima Virgem entrega o escapulário aos sete santos fundadores dos Servitas - Igreja das Dores, Córdoba (Espanha)Foto: Francisco Lecaros

A Santíssima Virgem entrega o escapulário aos sete santos fundadores dos Servitas – Igreja das Dores, Córdoba (Espanha) Foto: Francisco Lecaros

Redação (16/02/2024 20:08, Gaudium PressNa solenidade da Assunção de Nossa Senhora – 15 de agosto – de 1233, a Virgem apareceu em Florença a sete homens nobres, ricos, corretos, e recomendou-lhes que abraçassem uma vida mais perfeita.

Alguns eram solteiros, outros casados ou viúvos. Atendendo ao conselho de Maria Santíssima, e com a aprovação do Bispo da cidade, abandonaram tudo que possuíam e passaram a usar cilícios e hábitos desgastados.

Na festa do Nascimento da Mãe de Deus, 8 de setembro, estabeleceram-se num local próximo à Florença, levando uma vida de oração e sacrífico, com ardente devoção a Nossa Senhora.

Pouco tempo depois, começaram a percorrer as ruas, mendigando de porta em porta. Em certo momento, algumas crianças – entre as quais São Felipe Benício, com apenas cinco meses – os aclamaram como servos da Santíssima Virgem. Posteriormente, eles fundaram a “Ordem dos Servos de Maria”, cujos membros são chamados servitas.

Um só coração e uma só uma alma

São Felipe Benício procedia de nobre família, cursou Filosofia na Universidade de Paris e Medicina na de Pádua. Tornou-se servita e, em 1267, foi eleito Superior da Ordem.

Após a morte de Clemente IV, durante o longo conclave de Viterbo, em 1269, os cardeais quiseram elegê-lo Papa, mas ele não aceitou e o Beato Gregório X foi escolhido.

Os sete Fundadores mudaram-se para as encostas do Monte Senário, nas proximidades de Florença, e ali passaram a residir em cavernas.

Numa Sexta-feira Santa, Nossa Senhora apareceu-lhes e recomendou que usassem um hábito negro, acrescentando que a nova Ordem deveria cultuar de modo especial as dores por Ela sofridas aos pés do Calvário.

Os servitas construíram um Oratório no local onde viviam, tiveram grande expansão e receberam o apoio entusiasta de São Pedro de Verona, Inquisidor da Lombardia – Norte da Itália.

Em 1888, Leão XIII canonizou-os em conjunto, e sua memória é celebrada em 17 de fevereiro, dia em que o último deles, já centenário, morreu, em 1310.

No Monte Senário, um único túmulo recolheu os restos mortais desses varões de Deus, tão unidos entre si que haviam se tornado um só coração e uma só uma alma.

Índice de saúde espiritual e de alta civilização

Sobre os sete Fundadores, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira teceu comentários que a seguir sintetizamos.

“Nessa narração, há vários fatos magníficos como índice de saúde espiritual, de virtude, de alta civilização, que ocorriam outrora, mas em nossos dias não se dão mais, o que indica a profunda putrefação na qual se encontra o mundo moderno. […]

“Essa é uma das mais antigas Ordens especialmente fundadas para propagar a devoção a Nossa Senhora. É muito bonito trazerem o título de Servos da Bem-Aventurada Virgem Maria.

“Como é evidente, este título prenuncia a devoção de São Luís Grignion de Montfort da escravidão a Nossa Senhora, com um despojamento completo de todos os bens presentes, passados e futuros, inclusive os espirituais, que são os méritos das nossas boas obras, postos nas mãos de Maria Santíssima”.[1]

São Pedro de Verona, conselheiro dos servitas

A respeito de São Pedro de Verona – cidade do Nordeste da Itália –, que muito ajudou os servitas, apresentamos alguns dados.

Seus pais eram cátaros, mas permitiram que ele estudasse numa escola católica, na qual se converteu sendo adolescente. Devido a sua marcante capacidade intelectual, ingressou na Universidade de Bolonha, foi ordenado sacerdote, tornou-se dominicano e recebeu o hábito das mãos de São Domingos de Gusmão.

Grande orador, fez pregações pela Itália setentrional fortalecendo os católicos e increpando as heresias.  Em Florença, foi conselheiro da Ordem dos Servitas.

Em 1252, quando caminhava rumo a Milão, um indivíduo pago por um bispo herege o assassinou. Onze meses após sua morte, foi canonizado por Inocêncio IV, e sua memória é celebrada em 6 de abril.

É importante salientar que São Pedro de Verona foi inquisidor. Houve outros Santos que também exerceram esse cargo, como São Raimundo de Peñafort, Superior da Ordem dos Pregadores, e o Papa São Pio V.

Este incentivou e organizou a guerra contra os turcos maometanos que ameaçavam conquistar a Europa, e que foram fragorosamente derrotados na Batalha de Lepanto, em 1571.

Cristandade: família de nações cristãs

Daniel-Rops, membro da Academia Francesa, afirma: “A Inquisição foi, no sentido exato do termo, um tribunal de salvação pública da Cristandade”.[2]

Dr. Plinio Corrêa de Oliveira explica o que era a Cristandade medieval.

“Na Idade Média, a Europa, homogeneamente católica, formou uma família de nações sob a direção espiritual vigorosa e constante dos Papas, e a presidência temporal mais ou menos efetiva, e mais ou menos honorífica, dos imperadores do Sacro Império Romano Alemão. Era a Cristandade.

“Teoricamente, e muitas vezes também na prática, esta família de nações constituía um só bloco a defender a civilização cristã contra os maometanos, ou contra os bárbaros que infestavam as fronteiras orientais da Cristandade”.[3]

“É interessante notar como há na palavra Cristandade uma doçura, uma certa suavidade majestosa, serena e inigualável”.[4]

Investindo contra a Igreja e a Cristandade, houve heresias que pregavam doutrinas defendendo, por exemplo, o igualitarismo social e a abolição da família. Na Alemanha, a seita gnóstica dos luciferinos realizava o culto a satanás.

Além de promoverem a perdição das almas, as heresias atentavam contra o próprio Estado. Assim, muitos soberanos solicitaram o auxílio da Igreja para combatê-las.

Em 1231, o Papa Gregório IX instituiu os “Tribunais permanentes para lutar contra as heresias”, confiados aos dominicanos e franciscanos. Era a inquisição monacal. Os acusados de heresia tinham o direito de serem auxiliados por advogados de defesa.

Inocêncio IV – pontificado de 1243 a 1254 – estabeleceu o júri, composto de “católicos conhecidos pela pureza da sua fé e que deviam ser os fiadores da justiça eclesiástica. (…) O júri existiu, portanto, quinhentos anos antes de 1789 – ano em que eclodiu a Revolução Francesa –, junto aos tribunais da Inquisição”.[5]

Naquela época histórica, os tribunais civis condenavam os criminosos a penas terríveis. “O tribunal da Inquisição foi o mais equitativo dos tribunais, assinalando um verdadeiro progresso na legislação penal”.[6]

Por Paulo Francisco Martos

 Noções de História da Igreja


[1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Senso hierárquico e contrarrevolucionário, In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XXV, n. 287 (fevereiro 2022), p. 28, 30.

[2] DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja das catedrais e das Cruzadas. São Paulo: Quadrante. 1993, v. III, p. 6605.

[3] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Catolicismo. Campos dos Goitacazes, junho 1954.

[4] Idem. Cristandade, a chave de prata do papado. In Dr. Plinio.  Ano II, n. 18 (setembro 1999), p. 21

 [5] DANIEL-ROPS, op. cit., v. III, p. 611.

[6] VILLOSLADA, Ricardo Garcia. Historia de la Iglesia Católica – Edad Média. 3. ed. Madri: BAC. 1963, v. II, p. 759.

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