Israel e Vaticano: posições antagônicas sobre as operações em Gaza
As relações entre o Vaticano e Israel ficaram abaladas após as declarações do Cardeal Parolin, que descreveu a operação militar em Gaza como uma “carnificina”.
Redação (16/02/2024 09:28, Gaudium Press) As relações entre o Vaticano e Israel passam por um período delicado, particularmente após as recentes declarações do Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano. Ele caracterizou a operação militar em Gaza como uma “carnificina”, indicando que ultrapassa o direito legítimo de autodefesa de Israel. Esses comentários foram feitos durante o encerramento de um encontro bilateral com o governo italiano, ocorrido na última terça-feira, em comemoração ao 95º aniversário dos Pactos de Latrão, que estabeleceram a independência da Santa Sé do Reino da Itália em 1929 e a reconheceram como um Estado soberano.
De acordo com o Cardeal Parolin, o uso do direito de defesa por parte de Israel para justificar tal operação deve ser proporcional, e claramente, “não o é”, considerando o grande número de mortos, 30.000. Ele enfatizou que existe um consenso geral de que a situação não pode continuar assim e que é necessário encontrar outras formas de resolver o problema de Gaza e da Palestina.
O Cardeal Parolin concluiu suas declarações dizendo: “Acredito que todos nós estamos indignados com o que está acontecendo, com essa carnificina, mas devemos ter a coragem de seguir em frente e não perder a esperança”. A palavra “carnificina”, proferida pelo renomado Cardeal Parolin, causou um grande impacto.
Conforme era de se esperar, as palavras do Secretário de Estado provocaram uma forte reação por parte das autoridades israelenses que prontamente emitiram uma resposta, por meio de seu embaixador em Israel, qualificando-as como “deploráveis”. Segundo o escrito da embaixada, julgar a legitimidade de uma guerra sem considerar todas as circunstâncias e dados relevantes inevitavelmente leva a conclusões equivocadas. “A responsabilidade pela morte e destruição em Gaza é do Hamas e somente do Hamas”.
Além disso, foram especificadas circunstâncias que, segundo eles, o cardeal italiano não levou em consideração, como a transformação de Gaza pelo Hamas na maior base terrorista existente. Foi destacado que praticamente toda a infraestrutura civil foi usada pelo Hamas para seus planos criminosos, incluindo hospitais, escolas, locais de culto e muitos outros locais.
Em uma referência incomum, o Estado de Israel insinuou que há conivência de civis com as ações do Hamas, citando o apoio ativo da população civil local ao projeto do grupo. Também frisaram o engajamento ativo dos civis de Gaza na invasão não provocada do território israelense em 7 de outubro, mencionando casos de assassinato, violência e sequestro de civis. Todas essas ações são classificadas como crimes de guerra.
Israel defendeu suas ações militares, alegando estar em total conformidade com o direito internacional. De acordo com os dados disponíveis, para cada militante do Hamas morto, três civis perderam a vida. O comunicado sublinha que todas as vítimas civis devem ser lamentadas, mas que “a proporção de civis mortos em guerras e operações anteriores das forças da OTAN ou das forças ocidentais na Síria, no Iraque ou no Afeganistão era de 9 ou 10 civis para cada terrorista”.
Após reiterar que o Hamas é exclusivamente responsável pelo que aconteceu, a declaração da embaixada ressalta que não é suficiente simplesmente condenar o genocídio em 7 de outubro e posteriormente apontar o dedo para Israel, referindo-se ao seu direito de existir e à autodefesa apenas como um simples dever e sem considerar o contexto mais amplo.
Por outro lado, mostrando que as declarações do Cardeal Parolin não foram um lapso, a Santa Sé expressa solidariedade com o cardeal, e, no editorial intitulado “Parar a Carnificina”, o site de notícias Vatican News, afirma que o Cardeal possui uma visão realista da tragédia atual na Faixa de Gaza, enfatizando que a Santa Sé está sempre do lado das vítimas e aponta o elevado número de civis inocentes [mortos], um terço dos quais são crianças.
As opiniões do Cardeal Parolin, descritas como voz geral, certamente terão um impacto significante sobre os católicos dos países que apoiam a intervenção israelense. Assim, é provável que o relógio esteja correndo contra Israel. A posição aparente do Vaticano parece ter mudado, se posicionando contra Israel, com todas as consequências provenientes desse fato. (SCM)
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