Beata Isabel Canori Mora: vidente das tribulações da Igreja
Há quem sustente que Deus apenas consola, e que o pecado nunca precisa ser punido… A Beata Isabel Canori Mora descreve visões de terríveis castigos vindouros, invectivas de um Deus que promete restaurar e glorificar sua Igreja.
Redação (05/02/2024 20:12, Gaudium Press) Há quem sustente, movido por um falso conceito de misericórdia, que Deus apenas consola e afaga; outros ainda pregam que o pecado nunca precisa ser punido… Entretanto, não é o que se depreende das revelações recebidas pela Beata Isabel Canori Mora. Como em tantos outros prognósticos de almas dotadas do carisma profético ao longo da História, em seus escritos sobressaem duras recriminações contra o mundo pecador, visões de terríveis e ameaçadores castigos vindouros, e invectivas de um Deus justiceiro que, irado pelos crimes cometidos contra sua Igreja, promete vingá-la, restaurá-la e glorificá-la.
Quem foi Isabel Canori Mora
Maria Isabel Cecília Canori Mora nasceu em Roma, no dia 21 de novembro de 1774. Aos doze anos fez, por ordem do Senhor, o voto de castidade. Deixando-se, porém, influenciar pela família, algum tempo depois abraçou os mais mundanos costumes. Não obstante os problemas de consciência que lhe causava sua incorrespondência, contraiu núpcias com um afamado advogado de Roma, Cristóvão Mora, que se transformou desde então na cruz e no aguilhão de sua vida.
Era o amor de Deus que a perseguia, encaminhando sua vida rumo a uma dolorosa conversão. Com o auxílio da graça, ela encontrou no sofrimento o caminho para purgar seus numerosos pecados e o meio para iniciar um íntimo relacionamento com Deus.
Aos vinte e nove anos de idade, o Senhor a visitou com as primeiras experiências místicas. Isabel se tornou uma vidente das tribulações da Igreja, sendo favorecida com dons proféticos e com os estigmas da Paixão. Deus lhe mostrou, em visões sobrenaturais, as duras batalhas que a Igreja Militante teria de travar nos últimos tempos contra as forças do mal que, externamente e em seu interior, urgiam para destruí-la.
Em 1814, Isabel decidiu fazer um ato de oferecimento de sua vida, dispondo-se a tudo renunciar e a padecer em si todas as penas que o Senhor lhe quisesse enviar. Sedento de tais sacrifícios, Deus logo a colheu como vítima de amor pela Igreja e pelo Papado, encorajando-a, em duas ocasiões, com estas palavras: “Minha amada filha, oferece-te a meu Pai Celeste em favor da minha Igreja. Prometo-te minha ajuda”; “Confia nos excessos incompreensíveis de minha infinita misericórdia. Anima-te a padecer por meu amor. Estarei sempre contigo para ajudar-te e fazer-te vitoriosa sobre ti mesma. Deixo-te minha amada Mãe para que te conforte. Filha, meu amor te crucificará sobre esta cruz. Eu serei o sacerdote, e tu a vítima”.
Dolorosas aflições da Santa Igreja
As visões de Isabel são insistentes em relação a tragédias que, embora já tivessem se iniciado em seu tempo, ainda estavam por descarregar-se em sua plenitude sobre o mundo e sobre a Igreja. Foram-lhe mostradas as dolorosas aflições que a Santa Igreja teria de sofrer “daqueles que, sob o nome de bem e de vantagem, procuram arruiná-la; são eles lobos vorazes que, em pele de ovelhas, procuram sua total destruição”.
A Beata percebia com clareza que, muitas vezes, os piores inimigos e perseguidores de Jesus crucificado encontravam-se na própria Igreja, conspurcando a santa fé dos Apóstolos e desviando os fiéis da Lei Divina com doutrinas nefandas; “servindo-se”, dizia ela, “das mesmas palavras das Sagradas Escrituras e dos Santos Evangelhos, para perverter o reto sentido e para sustentar sua perversa malícia e suas máximas indignas”.
Com grande horror, Isabel compreendeu o estado lamentável de inúmeras almas consagradas ao Senhor: “Vi os sacrilégios cometidos por tantos ministros de Deus! Vi a gula destes, o apego que têm aos bens transitórios, o esquecimento do verdadeiro culto a Deus! Vi o bem aparente, praticado com fins escusos! […] Foi-me mostrada a má administração dos santuários. Vi a grande desonra que Deus recebe de maus sacerdotes”.
Sua maior tristeza consistia em constatar o quanto a Esposa Mística de Cristo era prejudicada pela infidelidade de seus ministros que, em vez de sustentá-la ao preço do próprio sangue, traíam-na, apoiando-se nas falsas máximas do mundo…
Verdadeira vítima pela Igreja, Isabel sofria profundamente com os pecados do clero e pedia a Deus com ardor: “Descarregai sobre mim o terrível castigo, aniquilai-me, fazei de mim o que Vos aprouver; mas salvai os pobres pecadores, salvai a Igreja!” O Eterno Pai, então, vendo-a transbordar desse desejo, condescendeu em dar aos pecadores um tempo para a conversão.
O triunfo da justiça sobre a misericórdia
Nosso Senhor, entretanto, insistia em convencê-la de que as iniquidades da humanidade clamavam ao Céu: “Minha justiça está cansada de sustentar o grave peso de tantos horrores. Meu Eterno Pai já não quer aceitar os sacrifícios de suas almas escolhidas que, quais vítimas, se oferecem com rígida penitência para conter a sua irada indignação”.
Dura revelação para um coração inflamado de caridade como o de Isabel! As barreiras que seus desejos de misericórdia opunham a essa afirmação fizeram-na sofrer imensamente mais que as privações e os sacrifícios com os quais torturava seu corpo para aplacar a justiça divina.
Certo dia, Deus lhe apareceu sob o aspecto de um forte guerreiro armado. “Com sua espada vingadora, estava para punir os graves ultrajes que recebe dos seus”, narra a vidente. Incapaz de se comprazer diante das desgraças que estavam por abater-se sobre o mundo, Isabel sentiu iniciar-se em seu interior um terrível duelo… Afinal, a justiça triunfou sobre a misericórdia e a Beata se rendeu aos divinos anseios que lhe eram manifestados.
Terríveis castigos sobre o mundo
Igualmente impressionantes são as mensagens recebidas pela Bem-Aventurada sobre as penas reservadas ao mundo pecador. O Senhor mostrou-lhe a enormidade dos pecados que reinavam sobre a terra, a injustiça, a fraude, a libertinagem e todo tipo de iniquidades: “Meu Deus! Que dor sentiu meu pobre espírito ao ver que todos aqueles povos tinham fisionomia mais de bestas que de homens. Oh, que horror meu espírito tinha de todos esses homens tão deformados pelo vício!”
Assim descreve Isabel a visão que o Senhor lhe confiou: “O céu estava coberto de um azul tenebroso, e só vê-lo causava terror. […] O terror e o espanto deixarão todos os homens e todos os animais num estado de supremo pavor. Todo o mundo estará em convulsão e [os homens] matar-se-ão uns aos outros, se trucidarão mutuamente sem piedade. No tempo de sangrenta pugna, a mão vingadora de Deus pesará sobre esses infelizes e, em sua onipotência, punirá o orgulho, a temeridade e a descarada ousadia deles”.
Talvez essas palavras não pareçam exageradas à vista da brutalidade das guerras contemporâneas, inimaginável na época da Beata. Na realidade, porém, elas parecem apontar para eventos diversos, ainda não contemplados pela humanidade.
De fato, é digno de nota que, segundo Isabel, os executores da justiça divina nessa ocasião serão os próprios demônios e seres infernais que procuram destruir sua Igreja.
Aurora do triunfo e da glorificação
Ora, uma vez encerrado esse período em que se manifestará a santíssima cólera de Deus como nunca, Isabel relata que o castigo cederá lugar a uma feliz e universal restauração da ordem e da virtude. Com efeito, mesmo em sua mais implacável justiça, a Providência sempre tem como objetivo promover o bem e fazer reinar a santidade. Além disso, Ela não deixará de premiar com uma era de graça e santidade o pequeno número de seus eleitos que se mantiverem fiéis durante a grande purificação do mundo.
As palavras divinas dirigidas à Beata Isabel são muito claras e carregadas de esperança: “Mandarei zelosos sacerdotes a pregar minha Fé, formarei um novo apostolado, enviarei meu Divino Espírito para renovar a terra. […] Darei um novo pastor à minha Igreja, douto e santo, repleto do meu espírito; com seu santo zelo, reformará a grei de Jesus Cristo”.
Ao receber essas revelações e compreender a imperiosa necessidade do castigo para que elas se cumprissem plenamente, Isabel passou a amar com maior profundidade as sábias disposições de Deus. Assim relata ela a respeito dos efeitos da punição divina: “Tendo feito isso, parecia-me que o mundo inteiro respirasse em paz, e que por meio de homens cultos e santos se restabelecesse uma ordem justa sobre a terra, para a suprema glória de Deus e honra de nossa Santa Igreja Católica. Parecia-me que os pecados cessaram e que se fazia verdadeira penitência em todos os lugares. Parecia-me que reinava a paz, reinava a justiça; a Fé de Jesus Cristo triunfava em toda parte e tornava os homens seguidores do Santo Evangelho”.
Purificada e restaurada, a Esposa Mística de Cristo irradiará sua santidade sobre os povos: “Toda a Igreja foi reordenada de acordo com os verdadeiros ditames do Santo Evangelho, se restabeleceram as Ordens Religiosas, e todas as casas cristãs se tornaram outras casas religiosas; tal era o fervor, o zelo pela glória de Deus, que tudo foi ordenado em função do amor a Deus e ao próximo. Dessa forma, verificou-se em um momento o triunfo, a glória, a honra da Igreja Católica: por todos foi aclamada, por todos estimada, por todos venerada; todos decidiram segui-la, reconhecendo o Vigário de Cristo, o Sumo Pontífice”.
“Tempus faciendi!”
Analisando a História com atenção, desde os tempos da Beata Isabel Canori Mora até os dias atuais, não podemos afirmar que suas revelações já tenham se cumprido por inteiro. Ao mesmo tempo, é inegável que os pecados e calamidades previstos por ela têm se confirmado de forma crescente, e em escala global. Não será lícito e até mesmo sensato esperar, portanto, que a intervenção de Deus esteja próxima e que Ele espere de seus filhos passos decisivos rumo à conversão dos corações?
Se a resposta a essas indagações for afirmativa, imploremos à Virgem Maria e a seu Filho Santíssimo que nos concedam fazer parte do número dos que, mesmo em meio às mais terríveis convulsões, verão nestas a mão misericordiosa de Deus velando pelo bem da humanidade, de forma a permanecerem fiéis à Santa Madre Igreja e lutarem com afinco por seu triunfo!
Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n. 266, fevereiro 2024. Por Caroline Fugiyama Nunes.
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