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São Francisco de Sales: o santo da doçura

Doutor da doçura e da suavidade, São Francisco de Sales – cuja memória a Igreja celebra no dia 24 de janeiro –  transmitia os aspectos doces da Religião Católica e conduzia as almas, por meio da doçura, a realizar verdadeiros sacrifícios para alcançar a santidade.

Foto: Reprodução

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Redação (24/01/2024 09:51, Gaudium Press) Quando nos referimos ao amável bispo de Genebra, imediatamente pensamos naquele homem gentil, porém sério, que fez enormes esforços para controlar seu temperamento, que era bastante explosivo.

De tal maneira que, ao exumarem seu corpo após sua morte, descobriram seu fígado endurecido, devido à contensão da raiva, que ele não expressava nem descontava nos outros. Sob sua mesa e nas laterais dela, encontraram profundas marcas deixadas por suas unhas, resultado de segurar sua raiva, mesmo quando esta ira muitas vezes tinha motivações santas diante de injustiças proferidas contra ele.

Assim, imaginamos que São Francisco foi um daqueles santos inatingíveis para nós, simples mortais e pecadores; aqueles admiráveis amigos de Deus que dormiam apenas três horas por dia, que sobreviviam à base de pão e água, ou que se penitenciavam com rigor.

O bispo de Genebra tinha, de fato, suas penitências; no entanto, ele é um exemplo a ser seguido no combate aos defeitos que julgamos mais difíceis de vencer. Vejamos alguns fatos de sua vida.

A infância de um menino inocente

Em 1567, Francisco veio ao mundo no castelo de Sales, em Savoy, um país independente composto por territórios que hoje pertencem a França, Itália e Suíça. Sua mãe, Dona Francisca de Boisy, uma dama muito virtuosa, incutiu nele desde tenra idade o amor por Jesus e Maria. Talvez tenha sido dela que adquiriu uma das virtudes que mais o definiria: nunca perder a calma, nunca se agitar, ter sua alma inteiramente em suas mãos.

Sua mãe ao ensinar o catecismo e contar belos exemplos das vidas dos santos, despertou no jovem Francisco um desejo de santidade e zelo pelos assuntos de Deus.

Desde a infância, ele foi sempre muito ativo e cheio de vida. Um fato pitoresco revelou seu caráter combativo e irascível. Ainda muito jovem, ouviu falar dos calvinistas que dominavam a Suíça e uma grande parte da França. Um dia, soube que um desses hereges estava visitando o castelo de seus pais. Como não podia entrar na sala para protestar, pegou um pedaço de madeira e, cheio de indignação, entrou o galinheiro, gritando “Fora com os hereges! Não queremos hereges!” As pobres galinhas fugiram cacarejando de seu agressor inesperado. Elas foram salvas pelos criados, que conseguiram conter o menino a tempo.

Francisco mais tarde se tornou tão doce e bondoso que São Vicente de Paulo exclamou, quando teve a oportunidade de viver com ele: “Meu Deus, se Francisco de Sales é tão amável, como sereis Vós!”

As batalhas na juventude

Em sua juventude, surgiu nele um forte desejo de dedicar sua vida a Deus. Entretanto, seu pai tinha outros planos para ele. Foi enviado a Paris para estudar no colégio dos jesuítas, onde conheceu o bondoso Padre Déage, que se tornou seu diretor espiritual. Mais tarde mudou-se para Pádua a fim de estudar Direito Civil, atendendo ao desejo de seu pai, mas também frequentou aulas de Direito Canônico, conforme o fervor religioso de seu coração. Além disso, praticava esgrima, equitação e participava de eventos sociais.

Viver a graça de Deus nesses ambientes não foi fácil, mas Francisco soube fugir das ocasiões perigosas e das amizades que pudessem ofender a Deus. Na universidade, alguns estudantes perversos tentaram humilhá-lo por sua piedade, e Francisco, que era habilidoso na arte da esgrima, defendeu-se derrotando todos. Após desarmá-los, retirou-se dizendo: “Agradeçam a Deus, em quem acredito, pois é por isso que não lhes faço mal”.

Apesar de seu temperamento, conseguiu se conter diante de provocações e zombarias, levando muitos a acreditar que jamais perdia o controle. O demônio, percebendo que não podia vencê-lo com tentações comuns, atormentou-o com a terrível tentação do desespero da salvação. Ele tinha 20 anos quando isso ocorreu.

O conhecimento da doutrina de Calvino sobre a predestinação provocou nele a ideia fixa de que estava destinado à condenação. Isso o levou a perder o apetite e o sono. Ele suplicava a Deus, pedindo-lhe que, se fosse condenado ao inferno por Sua justiça infinita, lhe concedesse a graça de continuar amando-o nesse lugar de tormentos.

Essa oração lhe trazia certa paz, mas a tentação persistia. Sua angústia foi finalmente aliviada quando, ajoelhado diante de uma imagem da Santíssima Virgem em uma igreja em Paris, recitou a oração de São Bernardo: “Lembrai-Vos ó piíssima Virgem Maria…”. Ao terminar, os pensamentos de tristeza e desespero o deixaram para sempre, trazendo-lhe a segurança de que “Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo. 3, 17).

A vida religiosa e a conquista dos calvinistas

De volta à casa paterna, aos 24 anos, recusou um casamento brilhante e um posto no Senado do Reino. Embora contra a vontade de seu pai, assumiu o cargo de deão da Catedral de Chambéry — por influência de seu tio, Luís de Sales, cônego da Catedral de Genebra, que obteve tal nomeação do Papa — e pouco tempo depois foi ordenado sacerdote.

Pregou em Annecy e outras cidades. Embora dotado de grande cultura, suas práticas eram simples, atraindo enormemente todos os que o ouviam.

Mas sua dura batalha começou quando se ofereceu para reconquistar Chablais, na costa sul do lago de Genebra. Esta região estava totalmente dominada pelos calvinistas, cujo exército não deixava os habitantes católicos viverem em paz.

Foto: Francisco Lecaros

Foto: Francisco Lecaros

Em 14 de setembro de 1594, dia da exaltação da Santa Cruz, com a autorização do bispo Cláudio de Granier, partiu Francisco de Sales a pé para a grande missão. Provações não lhe faltaram. Muitas vezes teve de dormir ao relento. Em uma ocasião refugiou-se no alto de uma árvore durante toda a noite para escapar ao risco de ser devorado pelos lobos. Na manhã seguinte, foi salvo por um casal de camponeses calvinistas que adquiriram grande simpatia por ele. Posteriormente esses camponeses se converteram, dando início à grande transformação religiosa da região. A cada noite, São Francisco e seus companheiros católicos passavam de casa em casa, jogando debaixo das portas folhetos escritos à mão, nos quais eram refutados os falsos argumentos da heresia calvinista. Esse fato lhe valeu o título de patrono dos escritores e jornalistas católicos. Esses escritos foram posteriormente reunidos e publicados sob o nome de Controvérsias.

Poucos anos mais tarde, depois de duras lutas e perseguições, Chablais se converteu totalmente, e o Pe. Francisco foi nomeado bispo coadjutor de Genebra. Para receber a sagração episcopal, dirigiu-se a Roma, onde o próprio Papa Clemente VIII o interrogou sobre 35 pontos difíceis de Teologia, em presença do Colégio cardinalício. “Ninguém dos que examinamos mereceu nossa aprovação de maneira tão completa!” — exclamou o Papa ao descer de seu trono para abraçá-lo.

Bispo príncipe de Genebra

Com a morte de D. Garnier, São Francisco de Sales assumiu o cargo vacante. A generosidade e a caridade, a humildade e a clemência do santo eram inesgotáveis. Em seu trato com as almas foi sempre bondoso, sem cair na debilidade; sabia ser firme quando necessário.

Fundou a Ordem da Visitação com sua dirigida espiritual, Santa Joana de Chantal, em 1604. Entre as obras por ele escritas destacam-se o Tratado do Amor de Deus, que lhe valeu o título de Doutor da Igreja, e Introdução à vida devota — Filotéia, nascida das anotações enviadas à sua prima, Senhora de Chamoisy.

A medida de amar a Deus

“A medida de amar a Deus consiste em amá-Lo sem medida. Este ensinamento de São Francisco de Sales talvez possa resumir toda a sua existência, pois ele não foi senão um exemplo vivo de tudo o que ensinava.

Estando ele ainda vivo, havia já pessoas devotas que guardavam como relíquias os objetos por ele usados.

Vítima de uma paralisia, perdeu a palavra e algo da sua lucidez, porém, recuperou-as em breve tempo. Os esforços médicos feitos para salvá-lo de nada adiantaram. Em seu leito repetia: “Pus toda a minha esperança no Senhor; Ele escutou minha súplica e me tirou do fosso da miséria e do pântano da iniquidade.”

Foto: Francisco Lecaros

Foto: Francisco Lecaros

Faleceu aos 56 anos de idade, na festa dos Santos Inocentes, em 28 de dezembro de 1622. Seu fígado, devido ao constante esforço para controlar seus ímpetos de cólera, havia-se transformado em pedra. Seu corpo foi encontrado incorrupto 10 anos após seu falecimento.

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 13, janeiro 2013. Por Ir. Juliane Vasconcelos Almeida Campos, EP.

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