Vaticano explica porquê arquivos da Nunciatura na Suíça não são acessíveis para pesquisa sobre abusos sexuais
O Vaticano explicou, por meio do Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, que não pode autorizar o acesso aos arquivos da Nunciatura na Suíça devido à Convenção de Viena, que regula as relações diplomáticas entre os Estados
Redação (10/01/2023 13:00, Gaudium Press) No último mês de setembro, duas pesquisadoras da Universidade de Zurique, na Suíça, apresentaram um relatório sobre os abusos sexuais cometidos por membros da Igreja Católica no país desde 1950. As historiadoras Monika Dommann e Marietta Meier receberam a missão das autoridades eclesiásticas suíças para conduzir essa pesquisa.
Explicação da Santa Sé ao negar o acesso aos arquivos
A fim de avançar nas investigações, as pesquisadoras solicitaram acesso aos documentos da Nunciatura da Santa Sé na Suíça, pedido que foi negado pelo Vaticano. O Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado da Santa Sé, explicou que, de acordo com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, os arquivos são invioláveis, o que impede a abertura dos arquivos da Nunciatura para pesquisas.
Apesar da recusa em relação à Nunciatura, o Cardeal Parolin informou que os arquivos das dioceses católicas da Suíça estão abertos para o grupo de pesquisa. Ele acrescentou que os arquivos do Dicastério da Doutrina da Fé, responsável por tratar casos de abusos na Igreja, podem ser abertos pontualmente, conforme solicitação das historiadoras.
Insatisfação do grupo de pesquisa
O acesso aos arquivos da Nunciatura, que supostamente contêm documentos e trocas de informações entre o Vaticano e a Suíça, é crucial para a pesquisa. Insatisfeitas com a resposta do Vaticano, Dommann e Meier anunciaram que renovarão o pedido em algumas semanas, explicando que os arquivos da Nunciatura são de extrema importância para o projeto. Além disso, uma consulta pontual aos arquivos do Dicastério da Doutrina da Fé seria insatisfatória para o desenvolvimento do projeto de pesquisa, segundo elas.
Vale ressaltar que os arquivos da Nunciatura são propriedade do Estado independente do Vaticano e seguem as diretrizes estabelecidas pela Convenção de Viena de 1961, que regula as relações diplomáticas entre Estados, garantindo a inviolabilidade dos arquivos das embaixadas em qualquer circunstância.
Primeiro relatório sobre os abusos na Suíça
Encomendado pela Igreja Católica na Suíça, um primeiro relatório sobre os abusos sexuais cometidos por membros da Igreja no país foi apresentado em 12 de setembro de 2023. O documento de 136 páginas foi elaborado sob a supervisão de um comitê de pesquisa da Universidade de Zurique, liderado pelas historiadoras Monika Dommann e Marietta Meier.
O relatório compilou mais de mil casos de abuso, envolvendo aproximadamente 921 vítimas e 510 agressores, no período entre 1950 e 2022. Desde então, o projeto de investigação continua, buscando detalhes sobre os casos relatados e possivelmente identificando outros casos ainda não revelados. (FM)
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