Tributo ao Pe. Ricardo Basso, o apóstolo da alegria
Aprendi com minha mãe a ser comedido nas críticas e ainda mais nos elogios, porque, quando exagerados, podem perder a muitos pelo desânimo ou pela vaidade. Mas ela também me ensinou a nunca calar as verdades que precisam ser ditas, e a sempre reconhecer o valor das pessoas de bem.
Redação (14/12/2023 10:15, Gaudium Press) Decidi começar este artigo lembrando os ensinamentos de minha querida mãe, já falecida, porque os seus preciosos conselhos nortearam a minha vida e foram de grande valia nos momentos mais importantes. Deixar de apontar o mal é ser negligente, mas deixar de reconhecer o bem é ser injusto. O segredo está em circular entre esses dois extremos com equidade e equilíbrio.
Quem acompanha os meus artigos deve ter se habituado a ler algumas críticas mais ácidas, outras nem tanto, sempre procurando apontar e provocar reflexão sobre os acontecimentos que deformam o mundo. Não sei se consigo fazê-lo com isenção e sem as tintas do exagero, conforme os ensinamentos aprendidos de minha mãe, pois reconheço que há coisas que me deixam tão indignado que é difícil não exagerar.
Hoje, porém, eu vou pender para o lado oposto, usando este espaço para homenagear uma pessoa por quem tenho grande estima e consideração, o Pe. Ricardo Basso, dos Arautos do Evangelho.
Infelizmente, minha mãe não o conheceu
Minha mãe costumava advertir a mim e aos meus irmãos para termos cuidado com pessoas mais velhas e com o que elas falam, e repetia muitas vezes que “a velhice não santifica ninguém”. Com isso, ela queria dizer que a pessoa carrega consigo aquilo que vai cultivando ao longo da vida e que ninguém se torna instantaneamente bom ou sábio apenas porque começa a envelhecer.
Se foi uma pessoa boa, honrada, honesta, que cultivou a fé, é isso que ela refletirá nos seus anos de maturidade. Mas, se a pessoa não viveu dignamente, se não praticou o bem e esteve afastada dos caminhos de Deus, mesmo que ao envelhecer tente mostrar o contrário, em suas mínimas atitudes se poderá perceber as contradições entre aquilo que ela de fato é e o que tenta parecer.
Eu conheço o Pe. Ricardo há quase trinta anos, e posso dizer que, mesmo de longe, acompanhei boa parte da sua trajetória que hoje resulta na luz que ele transmite a quem dele se aproxima. Infelizmente, minha mãe não o conheceu, mas não tenho dúvida de que, se estivesse viva e o conhecesse hoje, ela saberia, apenas por olhá-lo e ouvi-lo, que se trata de uma pessoa que vem trilhando o caminho de Deus e acumulando um cabedal de graças que o transforma em exemplo e fonte de sabedoria para aqueles que têm o privilégio de conviver e aprender com ele. Assim é o Pe. Ricardo, um homem que merece respeito e admiração pelo conjunto da obra de toda a sua vida.
Um segredo revelado
Uma das características que mais se destaca no Pe. Ricardo é a alegria. Nestes quase 30 anos que o conheço, sei que nem tudo foram flores em sua vida; junto com os seus irmãos de vocação, ele enfrentou momentos difíceis e desafiadores, mas sempre manteve a sua postura de alegria.
Tive oportunidade de conversar com ele há alguns meses e perguntei-lhe se nunca ficava triste. Ele deu aquele seu sorriso típico e falou: “O senhor foi fundo agora, hein?” Em seguida, disse que me confidenciaria um segredo: “Eu fico triste muitas vezes, mas não deixo que isso destrua a minha alegria. Quando enfrento uma dificuldade, um problema, paro tudo e penso na tristeza de Nossa Senhora diante da Cruz, vendo seu Filho ultrajado, humilhado, crucificado e, finalmente morto, aparentemente derrotado. Então digo: ‘Nunca houve e nem haverá no mundo dor maior que essa!’”
Depois de algum tempo de silêncio, como se contemplasse uma cena longínqua, ele continuou: “Diante disso, respiro fundo e me adianto três dias no tempo, vou direto para a Ressurreição. E – embora as Sagradas Escrituras não mencionem – interiormente eu guardo a certeza de que, antes de aparecer às santas mulheres e aos apóstolos, Nosso Senhor tenha visitado sua Mãe, Maria Santíssima. E Ela talvez lhe tenha dito: “Meu filho, por que você demorou tanto?”, e Ele certamente terá respondido: “Porque assim estava escrito, minha Mãe. Era preciso que o Filho de Deus estivesse morto e ressuscitasse no terceiro dia”. Imaginando esta cena, sou tomado pela certeza de que nunca houve e nem haverá no mundo alegria maior que essa. E todos os meus problemas, todos os motivos que eu possa ter para ficar triste, desaparecem.”
Alegria genuína, que nasce na alma
Desde que nos conhecemos, eu nunca ouvi falar de alguém que se aproximasse desse homem de Deus triste e não saísse alegre e aliviado. Assim, acabei concluindo que o Pe. Ricardo foi agraciado com o dom da alegria.
E não é aquela alegria vazia e artificial que o mundo produz, o rir por rir ou a distração provocada pelo humor. Trata-se de uma alegria genuína, que nasce na alma e se expressa no sorriso, nos gestos, nos olhos, nas palavras, no acolhimento, na fé.
Por isso, costumo me referir a ele como o “Apóstolo da Alegria”, pois é assim que aprendi a vê-lo, mesmo antes de ele ser ordenado sacerdote. E, neste mês de dezembro, quando o Pe. Ricardo celebra 50 anos de Consagração a Nossa Senhora, eu me sinto no dever de escrever algumas palavras sobre ele.
Trabalhando com a evangelização de jovens e famílias católicas, durante muitos anos, o Pe. Ricardo ministrou um Curso de Preparação à Consagração a Nossa Senhora, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort. Um apostolado muito frutífero, que levou algumas centenas de pessoas a se aproximarem mais de Jesus pela devoção a Maria.
No entanto, durante a pandemia, com as igrejas fechadas, surgiu o desafio de evangelizar pelas redes sociais. O Pe. Ricardo que, sem demonstrar tristeza, lamentava interiormente a interrupção das aulas para os futuros consagrados, ao receber o convite para ministrar o Curso de Consagração pela internet, aceitou prontamente, apesar de não conhecer absolutamente nada da internet.
Não tinha ideia de como aquilo poderia dar certo
Ele confessou que, mesmo assustado diante do desafio, decidiu aceitar porque viu ali a vontade de Deus, mas não tinha ideia de como aquilo poderia dar certo. Então, como de costume, ao pensar na tristeza de ver as igrejas fechadas e as pessoas vivendo uma espécie de “orfandade espiritual”, imediatamente se lembrou da dor de Maria diante da Cruz e da alegria de Maria na Ressurreição, e se encheu de ânimo, pois sabia que poderia contar com o auxílio dEla para a nova empreitada.
E estava certíssimo. Conforme os Arautos do Evangelho divulgaram, no programa especial que fizeram para homenagear o aniversário de Consagração do Pe. Ricardo, no último dia 11, desde a primeira turma do Curso Virtual de Preparação à Consagração, em 2020, até o momento, mais de um milhão de pessoas se consagraram, graças a esse apostolado.
Quem o conhece sabe que o Pe. Ricardo é muito modesto, e ele disse que aceitou participar do programa porque a homenagem não era para ele, mas para Nossa Senhora, que o chamou para essa missão tão sublime, da qual ele sequer se acha digno, mas que cumpre com todo o empenho e entusiasmo. A homenagem foi justíssima e muito bem feita, e esse querido filho de Maria e grande exemplo de fé foi totalmente merecedor dela.
O apóstolo da alegria
Se ainda há algo que possa ser dito a respeito do Pe. Ricardo, eu me atrevo aqui a destacar exatamente essa alegria tão pura que ele espalha por onde passa, mostrando que um católico não precisa ser triste e acabrunhado, muito ao contrário, deve ser alegre, indo da Cruz à Ressurreição. Que este belo exemplo do Pe. Ricardo possa sempre nos inspirar em nossos momentos difíceis, quando parece não haver saída.
“Sem recear de que minhas palavras possam provocar no senhor o menor vestígio de vaidade, meu estimado Pe. Ricardo Basso, eu peço que aceite essa simplíssima homenagem, do amigo que o respeita e admira e que aprendeu tanto com o senhor, verdadeiro apóstolo da alegria! Que Nossa Senhora conquiste mais alguns milhões de almas por meio do seu amoroso apostolado!
Por Afonso Pessoa
Deixe seu comentário