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Autor explica por que o Papa estaria punindo Cardeal Burke

Fontes indicaram que Francisco vai retirar do cardeal o direito a um apartamento no Vaticano e o seu salário de aproximadamente 6 mil euros sem maiores justificativas.

Foto: austeni.org

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Redação (30/11/2023 10:39, Gaudium Press) Segundo fontes do New York Times e Associated Press, o Papa Francisco anunciou, em uma reunião com chefes de dicastérios vaticanos, no dia 20 de novembro, que punirá o Cardeal Raymond Burke, visto como um “inimigo” do papa. As fontes indicaram que Francisco vai retirar do cardeal o direito a um apartamento no Vaticano e o seu salário de aproximadamente 6 mil euros sem maiores justificativas.

Segundo a matéria da Associated Press, no dia 27 de novembro, o papa anunciou que seriam tomadas medidas contra o cardeal norte-americano Raymond Leo Burke, que já serviu a Santa Sé como chefe do tribunal mais alto do Vaticano, a Assinatura Apostólica e líder da Ordem de Malta, um cargo de menor significância, mas ainda relevante na Igreja.

Burke tem criticado as propostas do Sínodo – assim como outros bispos e cardeais – e questionou o Papa Francisco sobre suas posturas, assinando 2 vezes as dubia (dúvidas) enviadas ao pontífice sobre pontos do seu magistério. Burke também é crítico da sinodalidade e favorável à livre utilização do Missal de São Pio V, contrariando o pontífice que o havia restringido.
Burke é um apoiador conhecido de movimentos chamados tradicionalistas e defensor do matrimônio tradicional, do direito à vida e vocal opositor do Caminho Sinodal Alemão.

Por sua parte, Austen Ivereigh, autor e biógrafo do papa, justifica as ações do pontífice afirmando que o cardeal utilizou os privilégios concedidos pelo papa para “minar” a autoridade do Chefe da Igreja Católica.

“A pergunta que a maioria dos católicos tem em relação à decisão do Papa Francisco de remover os privilégios do Cardeal Raymond Burke no Vaticano não é: “porque ele fez isto?” mas “por que ele demorou tanto?””, diz Ivereigh no site Where Peter Is, conhecido pela defesa do Papa Francisco e promoção do seu pontificado.

“O Papa é um homem surpreendentemente paciente e adora dar uma segunda oportunidade às pessoas”, declarou Ivereigh. “Qualquer um que tenha acompanhado as atividades, os discursos e as travessuras do cardeal tradicionalista americano na última década deve ter se surpreendido pela forma com a qual foi permitido a Burke minar constantemente a autoridade do papa, colocando-se contra o papado e considerando-o como um antimagistério, e construindo uma carreira lucrativa apresentando-se como o verdadeiro guardião da tradição”.

Ainda segundo Austen Ivereigh, a oposição do cardeal Burke ao Sínodo sobre a Sinodalidade que acontece em Roma até outubro de 2024 terá posto fim à paciência do pontífice.

“As artimanhas de Burke no início da Assembleia Sinodal, em Roma, para promover um opúsculo tradicionalista denunciando o sínodo como uma conspiração herética, foram indiscutivelmente semelhantes aos ultrajes anteriores”. O cardeal estaria “criando confusão e dúvida nos fiéis comuns sobre o processo mais importante da Igreja Católica desde o Concílio Vaticano II”.

“Um cardeal, em seu juramento, promete obediência ao bem-aventurado Pedro na pessoa do sumo Pontífice”. A redação não é acidental. Quem quer que seja o papa possui o carisma de autoridade que Jesus confiou ao apóstolo Pedro. Não se trata de uma questão de preferência pessoal por este ou aquele papa. Minar, questionar e colocar em dúvida a legitimidade da autoridade do cargo de Pedro, alegando que não se pode confiar esse ofício ao seu ocupante, vai diretamente contra o juramento feito pelos cardeais”, afirmou.

 “Se um cardeal chega a esta convicção em consciência, a integridade exige que ele renuncie ao seu cargo”, assevera o autor e biógrafo do Santo Padre.

Ivereigh acusou ainda o Cardeal Burke de articular contra o pontífice enquanto “recebe um salário do Vaticano de cerca de 5 a 6 mil euros por mês”, e vive “num espaçoso apartamento gratuito no Vaticano, com mais de 400 metros quadrados”.

O autor confirmou a veracidade das informações da Associated Press com o próprio Francisco que lhe disse que “que tinha decidido retirar os privilégios cardinalícios do Cardeal Burke – seu apartamento e seu salário – porque ele estava usando esses privilégios contra a Igreja”. O pontífice, no entanto, não queria tornar esta decisão pública.

O papa, na correspondência que teve com Ivereigh, negou ter dito aos chefes de dicastério que o cardeal Burke era seu inimigo, mas confirmou que iria tomar algumas medidas de natureza econômica e canônica contra o purpurado. “Nunca usei a palavra ‘inimigo’ nem o pronome ‘meu’. Simplesmente anunciei o fato na reunião dos chefes dos dicastérios, sem dar explicações específicas”, destacou o pontífice em uma nota pessoal ao autor.

Ivereigh, no entanto, afirma que o papa não estaria vingando-se de Burke. “O Papa Francisco nunca conduziria uma vingança pessoal. Estava convenientemente alinhado com a narrativa tradicionalista de um papa impiedoso e vingativo que ‘castiga’ de forma imprudente e injustificada aqueles que discordam dele. Qualquer pessoa que conheça ou trabalhe com o Papa sabe como isto é totalmente falso e que é uma ficção promovida com grande vigor pelos meios de comunicação e websites que apoiam o Cardeal Burke”.

Esta não é a primeira vez que o pontífice toma medidas contra bispos tidos como opositores.

Em 2016, o papa decidiu não renovar o mandato do Cardeal Ludwig Muller como Prefeito para a então Congregação para Doutrina da Fé, hoje conhecida como Dicastério para a Doutrina da Fé. Muller já havia se manifestado contrário a certas posturas do pontífice e diz que foi afastado sem explicações do pontífice.

Mais recentemente o papa afastou do cargo o bispo Joseph Strickland da diocese de Tyler, nos Estados Unidos. Strickland disse em uma rede social que era contrário ao “programa do Papa Francisco de minar o Depósito da Fé”. O ex-bispo de Tyler tampouco recebeu explicações para seu afastamento.

Outro prelado alijado por Francisco foi o Arcebispo Georg Gänswein, ex-secretário pessoal de Bento XVI, que foi enviado de volta à sua Diocese na Alemanha sem qualquer cargo.

O Código de Direito Canônico prevê que bispos possam ser afastados do cargo por motivos graves como heresia, abusos de poder ou escândalo. Ademais, o Sumo Pontífice como Juiz Universal pode cessar o mandato de um bispo sem justificativa e a qualquer momento.

Não foi esclarecido como o cardeal Raymond Burke, agora com 75 anos, idade da aposentadoria compulsória dos bispos irá se sustentar. Ele segue trabalhando na Assinatura Apostólica e poderia receber um estipêndio pelos seus serviços. Mas, outras fontes indicam que o papa poderia, na verdade, retirar de Burke o título cardinalício. No entanto, nenhuma destas fontes foi confirmada e não se sabe se o cardeal regressará aos Estados Unidos.

Gaudium Press tentou entrar em contato com fontes próximas ao Cardeal Raymond Burke que ainda não responderam aos pedidos de confirmação dos fatos. O prelado americano, por sua parte, se limitou a informar à imprensa que não fará declarações públicas no momento.

Por Rafael Tavares

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