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Papa Francisco publica livro sobre o Presépio

A obra, que apresenta uma série de textos, reflexões, discursos e homilias que o Santo Padre dedicou ao presépio e aos personagens que o povoam.

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Foto: Divulgação.

Cidade do Vaticano (21/11/2023 16:57, Gaudium Press) Foi lançado nesta terça-feira, 21 de novembro, o novo livro escrito pelo Papa Francisco sobre o Natal. Intitulado “Il mio Presepe. Vi racconto i personaggi del Natale” (O meu Presépio. Conto a vocês sobre os personagens do Natal).

A obra, que apresenta uma série de textos, reflexões, discursos e homilias que o Santo Padre dedicou ao presépio e aos personagens que o povoam, já está disponível sete idiomas: português, italiano, francês, inglês, alemão, espanhol e esloveno.

Um texto inédito escrito pelo Pontífice é apresentado como introdução da publicação. Nele, Francisco comenta que já esteve duas vezes em Greccio, cidade italiana na qual São Francisco de Assis montou um presépio vivo na véspera de Natal de 1223, modelo para tantos presépios desde então. Confira abaixo o texto na íntegra:

Papa Francisco publica livro sobre o Presepio 1

Foto: Divulgação.

Duas vezes desejei ir a Greccio.

A primeira, para conhecer o lugar onde São Francisco de Assis inventou o presépio, que também marcou a minha infância: em casa dos meus pais, em Buenos Aires, estava sempre presente este símbolo do Natal, mais até do que a árvore.

Da segunda vez voltei de boa vontade a esta localidade, hoje situada na província de Rieti, para assinar a carta apostólica Admirabile Signum sobre o sentido e o significado do presépio nos nossos dias.

Em ambas as ocasiões senti libertar-se uma emoção especial da gruta onde podemos admirar um fresco medieval que retrata a noite de Belém e a de Greccio, que o artista põe como que em paralelo.

A emoção daquela visão leva-me a aprofundar o mistério cristão que gosta de se esconder dentro daquilo que é infinitamente pequeno.

Com efeito, a encarnação de Jesus Cristo continua a ser o coração da revelação de Deus, mesmo quando facilmente se torna discreta a ponto de passar despercebida.

A pequenez é, de facto, o caminho para encontrar Deus.

• O meu presépio – Vou falar-vos das personagens do Natal •

Num epitáfio comemorativo de Santo Inácio de Loyola diz-se: «Non coerceri a maximo, sed contineri a minimo, divinum est» NT. É divino ter ideais que não sejam limitados por nada do que existe, mas ideais que, ao mesmo tempo, se contenham e sejam vividos nas coisas mais pequenas da vida. Em suma, não vale a pena assustar-se com as coisas grandes, importa antes andar em frente e reparar sempre nas coisas mais pequenas.

É por esta razão que salvaguardar o espírito do presépio se torna uma imersão salutar na presença de Deus, que se manifesta nas pequenas coisas, por vezes banais e repetitivas, do quotidiano. Saber renunciar àquilo que seduz, mas leva por maus caminhos, e escolher os caminhos de Deus é a tarefa que nos espera. Para este efeito, o discernimento é um grande dom e nunca nos devemos cansar de o pedir na oração. No presépio, os pastores são aqueles que acolhem a surpresa de Deus e vivem com espanto o encontro com Ele, adorando-O: na pequenez reconhecem o rosto de Deus. Humanamente, somos todos impelidos a procurar a grandeza, mas é um dom saber encontrá-la de verdade: conseguir encontrar a grandeza naquela pequenez que Deus tanto ama.

Em janeiro de 2016 encontrei-me com jovens de Rieti precisamente no Oásis do Menino Jesus, pouco acima do Santuário do Presépio. Recordei-lhes então, e recordo hoje a todos, que são dois os sinais que, no Natal, nos guiam para reconhecer Jesus. Um é o céu cheio de estrelas. São tantas, infinitas, mas entre todas brilha uma especial, que impele os Magos a deixar as suas casas e a iniciar uma viagem, um caminho que não sabem aonde os vai levar. Acontece o mesmo na nossa vida: em certo momento, uma «estrela» especial convida-nos a tomar uma decisão, a fazer uma escolha, a iniciar um caminho. Devemos pedir a Deus com força que nos mostre essa estrela que nos impele para além dos nossos hábitos, porque essa estrela levar-nos-á a contemplar Jesus, aquele Menino nascido em Belém que quer a nossa felicidade plena.

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Naquela noite que se tornou santa pelo nascimento do Salvador encontramos um outro sinal poderoso: a pequenez de Deus. Os anjos mostram aos pastores um menino nascido numa manjedoura. Não um sinal de poder, de autossuficiência ou de soberba. Não. O Deus eterno reduz-Se a Si próprio a um ser humano indefeso, pobre, humilde. Deus rebaixou-Se para que nós possamos caminhar com Ele e para que Ele possa pôr-Se ao nosso lado; Deus não quer pôr-Se acima ou longe de nós.

Espanto e maravilha são os dois sentimentos que emocionam todos, pequenos e grandes, perante o presépio, que é como um Evangelho vivo que transborda das páginas da Sagrada Escritura. Não interessa como se arranja o presépio, se é sempre igual ou diferente todos os anos; o que importa é que ele fale à nossa vida.

O primeiro biógrafo de São Francisco, Tommaso da Celano, descreve a noite de Natal de 1223, cujo oitavo centenário festejamos este ano. Quando Francisco chegou, encontrou o berço com a palha, a vaca e o burrinho. As pessoas que acorreram manifestaram uma alegria indescritível, nunca antes experimentada, perante aquela cena de Natal. Depois o sacerdote celebrou solenemente a Eucaristia sobre a manjedoura, mostrando assim a ligação entre a Encarnação do Filho de Deus e a Eucaristia. Em Greccio não existia então nenhuma figura: o presépio foi feito e vivido pelos próprios presentes.

Estou certo de que o primeiro presépio, que realizou uma grande obra de evangelização, pode ocasionar ainda hoje espanto e maravilha. Assim, o que São Francisco realizou com a simplicidade daquele gesto permanece nos nossos dias uma forma genuína da beleza da nossa fé.

Francisco

Cidade do Vaticano, 27 de setembro de 2023. (EPC)

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