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Santa Clara de Assis pôs em fuga os muçulmanos

Segurando em suas virginais mãos um cibório com hóstias consagradas, Santa Clara afugentou os muçulmanos que investiam armados contra o mosteiro do qual era abadessa.

Santa Clara de Assis clarissas de Derio Espanha

Redação (20/10/2023 09:30, Gaudium Press) Procedente de uma família nobre e possuidora de grande fortuna, Clara nasceu em Assis, centro da Itália, em 1194. Seu pai era conde e cavaleiro.

Pouco antes de seu nascimento, sua mãe implorou a ajuda de Deus e ouviu uma voz que dizia: “Não temas! Darás ao mundo uma luz que o iluminará. Por isso, chamarás Clara à menina”.[1]

Jovem de grande formosura, consagrou ao Divino Redentor sua virgindade. Tendo 16 anos de idade, foi assistir uma homilia de São Francisco de Assis e ficou tão enlevada que resolveu tornar-se sua discípula.

Ao atingir a maioridade, numa noite ela deixou furtivamente a casa paterna e, acompanhada de uma parenta, tomou o caminho rumo à Igreja Santa Maria dos Anjos. São Francisco e alguns frades foram ao encontro delas com tochas nas mãos e as introduziram no santuário mariano.

O Santo cortou seus cabelos, deu-lhe o hábito, o véu e a corda. Após fazer os votos de obediência, castidade e pobreza, ela passou a residir num convento feminino das proximidades.

Encolerizado, o pai, acompanhado de alguns parentes, foi ao convento e quis obrigá-la a voltar para sua residência. Tendo Clara retirado o véu que cobria sua cabeça, todos viram que seus cabelos haviam sido raspados e, indignados, se retiraram.

Santa Clara cabelos

Comentando esse fato, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira afirmou:

“Faço notar a necessidade de medirmos o genuíno valor das coisas santas e católicas, como o da cena acima descrita, para fazermos o confronto com a profunda decadência na qual o mundo vai imergindo, tornando-se indiferente a essas maravilhas”. [2]

Irmã, sobrinha e a própria mãe recebem o hábito

A cólera de seu progenitor aumentou quando soube que sua outra filha, Inês, a qual estava com casamento marcado, também se mudara para o convento.

Enviou doze homens armados, comandados por um tio de Inês, a fim de trazê-la de volta. Invadiram a casa religiosa, mas ela reagiu com firmeza. Foi, então, arrastada pelos cabelos e espancada. A jovem gritava pedindo socorro a Clara, a qual rezava implorando a intervenção de Nosso Senhor.

De repente, o corpo da moça tornou-se tão pesado que os doze robustos homens não conseguiam arrastá-la. Tomado de fúria, o tio, com suas luvas de ferro, tentou feri-la no rosto, mas ficou com o braço paralisado no ar.

Clara, então, levantou sua irmã – que ficara leve como uma pena – toda esfolada e a reconduziu ao convento. Confundidos, seus agressores se retiraram.

De nada adiantou as tramas dos inimigos, pois ambas se tornaram freiras exemplares e conseguiram a honra dos altares.

Muitas outras jovens da nobreza de Assis quiseram abraçar a vocação religiosa, e São Francisco fundou um mosteiro para elas do qual Clara se tornou abadessa.

Certo dia, sua sobrinha de nome Amada foi visitá-la. Recebeu tal graça de Deus que resolveu ser religiosa naquele convento. Levou uma vida de perfeição e foi beatificada pela Igreja.

Inclusive sua mãe, tendo se tornado viúva, recebeu o hábito e passou a obedecer à sua filha.

Cena de extraordinária beleza

Nessa época, o Sacro Império Romano Alemão era governado por Frederico II, neto de Frederico Barba Ruiva. Homem ímpio, fizera acordos com os maometanos, admitiu em seu exército uma tropa desses pagãos e mantinha um harém. Perseguidor dos papas, foi excomungado diversas vezes.

A respeito de Frederico II, escreveu Dr. Plinio:

Ele “comunicava à Itália a infecção dos costumes muçulmanos, inundava-a de livros ímpios. Suas chancelarias aninhavam escribas que sabiam lisonjear toda paixão, envenenar toda verdade. Ele os fazia difamar o que desejava fazer morrer. Aliava-se a todos os perversos; entorpecia, enganava ou intimidava os fiéis”.[3]

Em determinada ocasião, seus soldados muçulmanos tentaram invadir o mosteiro de Santa Clara. A heroica abadessa, segurando em suas mãos virginais um cibório com hóstias consagradas, avançou contra os inimigos que, apavorados, fugiram.

É “mais uma cena de extraordinária beleza: esta virgem consagrada a Deus que não recua diante do invasor e o enfrenta. (…) Diante dela, ostensório vivo que leva o Santíssimo Sacramento nas mãos, os agressores recuam e fogem”.[4]

Santa Inês de Praga e Beata Isabel de França

Entre as damas da nobreza que se tornaram discípulas de Santa Clara, destacou-se Inês, filha do Rei da Boêmia – atual República Tcheca –, nascida na capital Praga, em 1205, e que desde menina desejou ser religiosa.

Algumas tentativas para que ela se casasse foram frustradas. Entretanto, quando atingiu os 28 anos de idade, o Imperador Frederico II, que se tornara viúvo, quis desposá-la.

Inês rogou ao Papa Gregório IX que interviesse a fim de impedir esse casamento, pois ela queria ser clarissa, isto é, discípula de Santa Clara. Informado a respeito do desejo de Inês, o imperador concordou com o cancelamento das pretendidas núpcias.

Com ajuda de seu irmão, que se tornara Rei da Boêmia, ela construiu dois mosteiros, um para os franciscanos, outro para as clarissas, e um hospital. Por recomendação de Inês, a direção deste último foi confiada a uma ordem militar que mais tarde recebeu o nome de Cônegos Regulares da Santíssima Cruz da Estrela Vermelha.

E do convento feminino, por determinação do Papa Gregório IX, ela foi nomeada abadessa, cargo que ocupou durante 40 anos até sua morte ocorrida em 1282.

Embora não tivesse conhecido pessoalmente Santa Clara, Inês recebeu da Fundadora das clarissas uma carta, assim iniciada: “Àquela que é a metade da minha alma e escrínio singular da minha afeição”.[5]

Tendo Santa Clara ficado gravemente enferma, o Papa Inocêncio IV foi visitá-la e aprovou a Regra por ela redigida. Pouco depois, a Fundadora das clarissas entregou sua alma a Deus. Era o dia 11 de agosto de 1253. Dois anos depois, recebeu a glória dos altares.

Inês de Praga faleceu em 1282, e foi canonizada por João Paulo II.

Houve outra nobilíssima dama que, nessa época, se tornou clarissa: Isabel de França, irmã do Rei São Luís IX. Fundou um convento no Bois de Boulogne, nas proximidades de Paris, onde esteve algumas vezes São Boaventura a fim de orientar as religiosas.

Falecida em 1270, Leão X a beatificou no século XVI.

 

Por Paulo Francisco Martos

 Noções de História da Igreja


[1] ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959, v. 14, p. 346.

[2] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Santa Clara de Assis, modelo de consagração a Deus. In Dr. Plinio. Ano X, n. 113 (agosto 2007), p. 26.

[3] Idem. O Legionário. São Paulo, 4-6-1944.

[4] Idem. Santa Clara de Assis, modelo de consagração a Deus. In Dr. Plinio. Ano X, n. 113 (agosto 2007), p. 28.

 [5] SANTA CLARA DE ASSIS.  In Fontes Franciscanas. 2.ed. Braga: Editorial Franciscana, 1996, v. II, p.107.

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