O Anjo da Guarda: Um amigo fiel para todas as horas
Confiando-nos inteiramente aos nossos Anjos da Guarda, não precisamos temer os demônios. Afinal, estes últimos nada conseguem contra o poder daqueles.
Redação (28/09/2023 10:26, Gaudium Press) Desde o início de sua vida até o momento de passar para a eternidade, todo ser humano é cercado pela proteção e intercessão de um anjo designado por Deus para o guiar, proteger e orientar. Assim, cada um de nós tem um Anjo da Guarda.
Provavelmente, quase todos nós aprendemos em casa, ou nas aulas de catecismo, a clássica oração: “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, já que a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarda, governa e ilumina. Amém”. Apesar disso, talvez tenha escapado alguma vez de nossos lábios uma pergunta, repassada mais de admiração do que de dúvida: “Então eu tenho mesmo um anjo incumbido por Deus de cuidar de mim?”
É realmente admirável o fato de cada um de nós possuir um anjo cuja missão específica é favorecer-nos em tudo quanto se relacione com nossa salvação eterna, mas é essa a realidade: Deus “os fez mensageiros de seu projeto de salvação”, afirma o Catecismo da Igreja Católica. E diz São Paulo: “Não são todos os anjos espíritos ao serviço de Deus, o qual lhes confia missões para o bem daqueles que devem herdar a salvação?” (Hb 1,14).
“Grande é a dignidade das almas – exclama São Jerônimo -, quando cada uma delas, desde a hora de seu nascimento, tem um anjo destinado para sua custódia!”
É muito reconfortante saber que um ser superior à nossa natureza está continuamente a nosso lado; que ele, puro espírito, mantém-se na contemplação incessante de Deus e, ao mesmo tempo, vela por nós, quer-nos todo o bem, e seu objetivo é levar-nos para a felicidade perfeita e infindável do Céu.
Quando nos damos conta da presença desse incomparável guardião, estabelecemos com ele uma amizade firme e íntima, como descreve o grande escritor francês Paul Claudel: “Entre o anjo e nós existe algo permanente. Há uma mão que, ainda quando dormimos, não solta a nossa. Sobre a terra onde nos encontramos, compartilhamos o pulso e o latejar do coração desse irmão celeste que fala com o nosso Pai”.
Se tivéssemos maior confiança nesse celeste protetor, nesse bom amigo que nunca falha – ainda quando dele nos afastamos, por nossa má conduta -, seríamos capazes de recobrar a paz e o equilíbrio dos quais tanto precisamos!
Eles estão a nosso lado, incansáveis, solícitos, bondosos
A Bem-Aventurada Hosana Andreasi, de Mântua (Itália), ainda com seis anos de idade, tomara o gosto de passear pelas margens do Rio Pó, extasiada com a beleza do panorama. Um dia encontrava-se sozinha nesse lugar, quando de repente viu surgir diante de si um belo jovem, alto e forte. Nunca o havia visto antes… Surpresa, mas não amedrontada, ouviu o recém-chegado dizer com voz clara, ao mesmo tempo suave e firme: “A vida e a morte consistem em amar a Deus”. Sua surpresa aumentou quando o “jovem” a ergueu do chão e, olhando-a diretamente nos olhos, acrescentou: “Para entrar no Céu, você precisa amar muito a Deus. Ame-O. Tudo foi criado por Ele, para que as pessoas O amem”. Foi este o primeiro de numerosos encontros que Hosana teve, até seu falecimento (em 1505), com seu Anjo da Guarda.
Casos como esse, de relacionamento intenso com os anjos, não são nada raros. Santa Gemma Galgani (1878-1903), por exemplo, teve a constante companhia de seu anjo protetor, com quem mantinha um trato familiar. Ele lhe prestava todo tipo de ajuda, até mesmo levando suas mensagens para seu confessor, em Roma.
Ainda mais próximos de nós, encontramos os episódios frequentes ocorridos com São Pio de Pietrelcina (1887-1968), grande incentivador da devoção aos Anjos da Guarda. Em diversas ocasiões ele recebeu recados dos Anjos da Guarda de pessoas que, à distância, necessitavam de algum auxílio dele.
O Beato João XXIII, outro grande devoto dos anjos, dizia: “Nosso desejo é que aumente a devoção ao Anjo Custódio”. Nossos anjos guardiães estão ao lado de cada um de nós, incansáveis, solícitos, bondosos, prontos para nos ajudar em tudo quanto precisarmos – inclusive em nossas necessidades materiais, mas especialmente para nos proporcionar os bens espirituais, auxiliando-nos a caminhar na via da virtude.
Estimado leitor, queira Deus que esses pensamentos, tirados da Revelação e do tesouro da Santa Igreja, possam nos ajudar a nos tornarmos mais próximos desses fiéis amigos celestiais, consolando-nos e animando-nos. E aumentar nossa vontade de conhecê-los sem os sagrados véus da fé, quando nos encontrarmos lá no alto, no Reino dos Céus.
Os outros anjos…
Além dos Anjos da Guarda, outros espíritos angélicos vagam pela terra e têm um extremo interesse em nós… para nossa perdição: os demônios, anjos decaídos, que outrora faziam parte da corte celestial. Revoltando-se contra Deus, passaram a trabalhar com um objetivo diametralmente oposto àquele para o qual Ele os criou. Sua preocupação única e obsessiva é a de nos fazer perder a possibilidade de contemplarmos a Deus por toda a eternidade. A isso os movem o ódio a seu Criador, cujo plano para a humanidade desejam obstruir, e a inveja do gênero humano, pois somos capazes de alcançar aquela felicidade eterna que eles perderam para sempre.
Se os demônios tanto nos perseguem, por que não recorrermos ao Anjo da Guarda, pedindo sua proteção? Certamente, crescer no relacionamento com ele significará estar mais defendido das ações dos espíritos malignos, e ser mais ajudado na luta contra as tentações.
Diz São João da Cruz: “Os anjos, além de levar a Deus notícias de nós, trazem os auxílios divinos para nossas almas e as apascentam como bons pastores (…) amparando-nos e defendendo-nos dos lobos, os demônios”.
Confiando-nos inteiramente aos nossos Anjos da Guarda, não precisamos temer os demônios. Afinal, estes últimos nada conseguem contra o poder daqueles.
Os anjos na doutrina da Igreja
Recorrer aos anjos está ficando cada vez mais na moda. Mas o que sabe a grande maioria das pessoas a respeito dessas criaturas espirituais e imortais?
Após uma época de ceticismo e materialismo triunfante, durante a maior parte dos séculos XIX e XX, o Ocidente voltou a demonstrar uma definida apetência pelo mundo dos espíritos. Se até duas ou três décadas atrás, falar de anjos era considerado por muita gente como sinal de imaturidade ou de falta de cultura, hoje em dia tornou-se moda.
Abundam os filmes e livros retratando seres extraordinários, poderosos, dotados de qualidades sobrenaturais, seres super-humanos ante os quais o comum dos mortais é impotente. Não será isso um sintoma de interesse pelo mundo angélico? Ao lado da fantasia e do mito, obras esotéricas de grande divulgação apresentam uma visão distorcida desses seres espirituais, e a ignorância religiosa só fez aumentar os equívocos nesta matéria.
Se quisermos saber a realidade sobre os anjos, onde achar a verdade no meio de tanta desinformação?
As Sagradas Escrituras
Muito antes das definições teológicas dos últimos séculos, o ensinamento sobre os anjos encontra-se fundamentado na autoridade das Sagradas Escrituras e dos Padres da Igreja.
Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, numerosas passagens nos mostram os anjos em ação, na tarefa de proteger e guiar os homens, e servindo de mensageiros de Deus. O versículo 11 do Salmo 90 menciona claramente os Anjos da Guarda: “Deus confiou a seus anjos que te guardem em todos os teus caminhos”.
Se nalgumas ocasiões os anjos da mais alta hierarquia celeste são os encarregados de missões na terra – casos de São Gabriel e São Rafael – em muitas outras trata-se por certo de uma atuação do anjo guardião da pessoa concernida, mesmo se a Bíblia não o mencione especificamente. Tem-se essa impressão na leitura do profeta Daniel, salvo de ser devorado no cárcere por feras famintas, pois ele declara ao rei Dario: “Meu Deus enviou o seu anjo, que fechou a boca dos leões, os quais não me fizeram mal algum” (Dn 6, 22). Do mesmo modo, nos Atos dos Apóstolos, quando vemos São Pedro ser libertado da prisão por um anjo (cf. At 12, 1-11).
Nosso Senhor faz uma referência muito clara aos Anjos da Guarda, quando diz: “Vede, não desprezeis um só desses pequeninos; pois vos declaro que os seus anjos nos Céus vêem incessantemente a face de meu Pai, que está nos Céus” (Mt 18,10).
São Paulo, na Epístola aos Hebreus, ensina que todos os anjos são espíritos a serviço de Deus, o qual lhes confia missões em favor dos herdeiros da salvação eterna (cf. Hb 1,14).
Os Padres da Igreja
Na esteira das Sagradas Escrituras, a maioria dos Padres da Igreja trata dos anjos enquanto nossos guardiães. São Basílio Magno, na obra Adversus Eunomium, declara: “Cada fiel tem a seu lado um anjo como protetor e pastor, para o conduzir à vida”.
No século II, Hermas, na obra “O Pastor”, diz que todo homem possui seu Anjo da Guarda, o qual o inspira e o aconselha a praticar a justiça e a fugir do mal. No século III, a crença nos Anjos da Guarda de tal maneira estava arraigada no espírito cristão, que Orígenes lhe dedica várias passagens. E sobre a mesma matéria encontramos belos textos de São Basílio, Santo Hilário de Poitiers, São Gregório Nazianzeno, São Gregório de Nissa, São Cirilo de Alexandria, São Jerônimo, os quais nos ensinam: o Anjo da Guarda preside às orações dos fiéis, oferecendo-as a Deus por meio de Cristo; como nosso guia, ele solicita a Deus que nos guarde dos perigos e nos conduza à bem-aventurança; ele é como um escudo que nos envolve e protege; ele é um preceptor que nos ensina a cultuar e a adorar; nossa dignidade é maior por termos, desde o nascimento, um anjo protetor.
Desdobramentos posteriores
No século XII, Honório de Autun promoveu a doutrina de que cada alma, no momento em que é unida ao corpo, é confiada a um anjo cuja missão é induzi-la ao bem e dar conta de suas ações a Deus. Santo Alberto Magno e São Tomás de Aquino, no século XIII, ensinaram, com São Pedro Damião, que o Anjo da Guarda não abandona nem sequer a alma pecadora, mas procura levá-la ao arrependimento e reconciliação com Deus.
Em 1608, o Papa Paulo V instituiu a festa dos Santos Anjos da Guarda. Posteriormente, em 1670, coube ao Papa Clemente X fixar sua comemoração de modo definitivo no dia 2 de outubro, tornando-a obrigatória para toda a Igreja.
O Catecismo da Igreja Católica trata da missão do Anjo da Guarda em relação a nós, dizendo: “Desde o início até a morte, a vida humana é cercada por sua proteção e por sua intercessão” (nº 336). E o Papa João Paulo II, na Audiência Geral de 6 de agosto de 1986, acentua que “a Igreja confessa sua fé nos Anjos Custódios, venerando-os na Liturgia com uma festa especial, e recomendando o recurso à sua proteção com uma oração frequente, como na invocação ao ‘Santo Anjo do Senhor’.”
Oração ao Anjo da Guarda
A mais popular oração ao Anjo da Guarda foi composta pelo Papa Pio VI, em 1796: Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, já que a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarda, governa e ilumina. Amém.
Por Padre Carlos Javier Werner Benjumea, EP
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