Russo diz que papa considera inútil fornecimento de armas à Ucrânia
Em um contexto de hipersensibilidade, qualquer expressão do Pontífice deve ser medida porque será altamente valorizada e não de uma forma benevolente.
Redação (27/09/2023 15:33, Gaudium Press) As chamas ainda não se extinguiram com as últimas palavras do discurso de Francisco aos jovens em São Petersburgo, ao falar sobre a Mãe Rússia, elogiando figuras como Pedro I e Catarina, a Grande, quando já se vislumbra outra combustão no horizonte.
Trata-se das recentes declarações dadas à agência RIA Novosti por Leonid Sebastyanov, alguém que Il Sismografo considera estar próximo a três personagens-chave em toda a gestão do conflito Ucrânia-Rússia: Putin, o patriarca Cirilo e o Papa Francisco.
Sebastyanov esteve, na segunda-feira passada, em audiência privada com Francisco e, após este encontro, a agência estatal russa emitiu uma nota afirmando, pela boca deste personagem russo, que “o Papa Francisco acredita que cada vez mais os países ocidentais reconhecem a inutilidade de fornecer armas à Ucrânia e continuar o conflito ucraniano, o que lhe inspira otimismo e lhe dá esperança de negociações de paz”.
“Hoje [segunda-feira, 25 de setembro] nós nos reunimos com o Papa Francisco. Discutimos o plano de paz entre a Ucrânia e a Rússia. O Papa está otimista porque vê que cada vez mais os países ocidentais estão inclinados à ideia da inutilidade do conflito na Ucrânia e do fornecimento de armas (à Ucrânia). O Papa acredita que não pode haver vitória no campo de batalha. Qualquer vitória deve ser alcançada na mesa de negociações; é necessário desenvolver um algoritmo adequado para todas as partes em conflito hoje”, sublinhou Sebastyanov, que também é presidente da União Mundial dos Velhos Crentes.
Sebastyanov continuou dizendo que Francisco pede à Rússia que não rompa seus laços com o Ocidente, pronunciando-se a favor da integração econômica, mas contra sanções e restrições econômicas. “O Papa enviou as suas saudações à Rússia e a sua bênção. Ele também confirmou que a Rússia é um grande país, o povo, a língua e a cultura russas são grandes. O papa disse que honra a cultura russa tanto quanto a cultura espanhola. Segundo ele, a cultura russa deu ao mundo uma enorme riqueza de escritores, teólogos e santos. Ele reza pelo povo russo e quer que se encontre uma oportunidade para alcançar uma paz justa e duradoura”.
É claro que Sebastyanov “joga pelo seu time” e procura apresentar o Pontífice como próximo não apenas do povo russo, mas dos interesses russos. No entanto, num contexto em que ainda há na Ucrânia uma hipersensibilidade às declarações pontifícias sobre a guerra, com o governo ucraniano pedindo continuamente mais ajuda, incluindo ajuda militar, do Ocidente, qualquer expressão do Pontífice deve ser medida porque será altamente valorizada e não necessariamente de uma forma benevolente.
Há poucos dias a mídia mostrou o colapso da popularidade da figura do Pontífice na Ucrânia, que antes da guerra seria 64% favorável e agora está em torno de 6%. Em sintonia com a opinião pública, a mídia também noticiou que um dos principais conselheiros do presidente ucraniano Zelensky, Mikhailo Podoliak, afirmou que o Papa não poderia mais desempenhar um papel de mediador após suas declarações aos jovens russos reunidos em São Petersburgo.
E, embora tenha havido recentemente acenos da diplomacia ucraniana ao papel da diplomacia do Vaticano no assunto, declarações como a de Sebastyanov podem solidificar em muitos a convicção de que o papa realmente tem afetos indisfarçáveis pela Rússia.
Até agora, a secretaria de Estado do Vaticano não se pronunciou sobre as declarações de Sebastyanov.
Deixe seu comentário