Sacrifício da Missa: meio de dar graças a Deus
Reflexões sobre o significado da Missa.
Redação (03/09/2023 19:20, Gaudium Press) O Sacrifício Eucarístico, instituído pelo próprio Jesus Cristo na Última Ceia, constituiu-se como culto central da Religião Católica em todos os tempos e lugares onde esta se encontra presente.
Este ritual tomou o nome de Missa, e foi passível de muitas transformações e reformas ao longo dos tempos, sem que, todavia, suas partes essenciais fossem omitidas ou transformadas.
O termo Missa provém do verbo latino mittere, que significa “enviar”.[1] E “Santa Missa”, “porque a liturgia em que se realiza o mistério da salvação termina com o envio dos fiéis (missio), para que vão cumprir a vontade de Deus na sua vida quotidiana” (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1332).
Este conceito (Missa), em tempos passados, fora utilizado também para designar as preces dirigidas a Deus, ou ainda, a admissão ou despedida dos que não podiam assistir o Sacrifício Eucarístico – os catecúmenos –, mas somente a sua preparação inicial até o comentário das Escrituras.[2] Posteriormente, a partir do século IV, designou-se Missa toda celebração do Santo Sacrifício do altar, desde seu início até o seu fim.[3]
Com razão, a Missa pode ser denominada também de “Santo Sacrifício”, pois “neste divino sacrifício está contido (de modo incruento) o mesmo sacrifício que Cristo ofereceu, uma vez ‘por todas’, de maneira cruenta, no altar da cruz (cf. Hb 9,14. 27)” (cf. DH 1743).[4] Ou seja, o sacrifício é o mesmo, alterando somente o modo como é oferecido: um, cruento (com derramamento de sangue – Calvário) e o outro, incruento, a Missa. Em ambos, contudo, o “imolador” é o mesmo, pois todo sacerdote que celebra a Santa Missa, atua em persona Christi.
Quatro fins do sacrifício
Vimos que a Missa é a mesma imolação do Calvário, mas de forma incruenta. Logo, ela possui os mesmos fins do sacrifício cruento da cruz, a saber: adoração, reparação, impetração e ação de graças.[5]
Por ser a Missa o sacrifício do Salvador, sob as espécies de pão e vinho, ela é, antes de tudo, um sacrifício latrêutico, de latria (do grego λατρεί, adoração), pois sendo um sacrifício de valor infinito, por ser o próprio Deus imolado, é dirigido a Ele mesmo, em reconhecimento de nossa servidão e submissão.[6]
O segundo fim do Sacrifício Eucarístico é a reparação. Ou seja, na força reparadora da Santa Missa. Após o pecado original, o homem, pela sua natureza decaída, passou a dever a Deus a ofensa que lhe foi cometida por Adão, nosso pai, e nada mais natural do que pedir a reparação desta falta e de quantas outras.
Apesar de esta reparação ter sido operada pelo próprio Cristo, que “ofereceu pelos pecados [dos homens] um único sacrifício e, logo em seguida, tomou lugar para sempre à direita de Deus” (cf. Hb 10,12), faz-se necessária também nossa participação nesta reparação, por vontade do mesmo Deus. Embora nosso sacrifício, por mais sincero que possa ser, “não se aplique a nós em toda a sua plenitude infinita […], mas em grau limitado e finito, segundo nossas disposições”,[7] devemos render a Deus a porção que nos cabe.
Em terceiro lugar, na Santa Missa considera-se o seu valor impetratório, isto é, o valor da súplica feita a Deus, para obter as graças de que necessitamos. [8] Com efeito, “como sacrifício impetratório ou de súplica, a Missa nos obtém ex opere operato[9] todas as graças de que temos necessidade para nossa santificação. A oração de Jesus Cristo segue intercedendo em nosso favor, junto com as súplicas da Igreja, Esposa de nosso divino Salvador”.[10]
Por fim, a Missa, possui um caráter de sacrifício de ação de graças – literalmente, Eucaristia. Destarte, “a Eucaristia é um sacrifício de ação de graças ao Pai, uma bênção pela qual a Igreja exprime o seu reconhecimento a Deus por todos os seus benefícios, por tudo o que Ele fez mediante a criação, a redenção e a santificação. Eucaristia significa, antes de mais, ‘ação de graças’” (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1360).
Contudo, no Sacrifício Eucarístico, devemos considerar estas suas quatro características conjuntamente, pois “se alguém disser que o sacrifício da Missa só é de louvor e ação de graças, ou mera comemoração do sacrifício realizado na cruz, porém não ‘sacrifício’ propiciatório […], seja anátema” (cf. DH 1753).[11]
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Acerca do Sacramento da Eucaristia, São Tomás afirmou: “Falando em absoluto, o Sacramento da Eucaristia é o principal Sacramento. O Sacramento que une o homem ao próprio Cristo é mais digno do que aquele que imprime o caráter de Cristo” (S. Th. III, q. 65, resp., ad. 3).[12]
Portanto, recorramos aos bens incomensuráveis presentes na Santa Missa. Eles estão ao nosso alcance, basta buscá-los!
Por Denis Santa’ana
[1] ROYO MARIN, Antonio. Teologia moral para leigos II. Trad. Walder Walmor Ayala. Rio de janeiro: CDB, 2022, p. 736.
[2] Cf. Ibid.
[3] Cf. Ibid.
[4] PIO IV, CONCÍLIO DE TRENTO, XXII sessão. In: DENZINGER, Heinrich. HÜNERMANN, Peter (ed.). Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. Trad. José Marino Luz; Johan Konings. São Paulo: Paulinas, Loyola, 2007, p. 447.
[5] ROYO MARIN, Antonio. Teologia moral para leigos II. Trad. Walder Walmor Ayala. Rio de janeiro: CDB, 2022, p. 744.
[6] Cf. Ibid., p. 745.
[7] ROYO MARIN, Antonio. Teologia moral para leigos II. Trad. Walder Walmor Ayala. Rio de janeiro: CDB, 2022, p. 746.
[8] Ibid.
[9] “Ex opere operato”, isto é, em virtude da ação reliza, refere-se ao modo de operar dos sacramentos independente das pessoas e na absoluta dependência da Vontade divina que os instituiu.
[10] GARRIGOU-LAGRANGE, Reginald. Las tres edades de la vida interior: preludio de la del cielo. Trad. Leandro de Sesma. 3. ed. Buenos Aires: Desclée de Brouwer (DEBEC), [s. d.], p. 473.
[11] PIO IV, CONCÍLIO DE TRENTO, XXII sessão. In: DENZINGER, Heinrich. HÜNERMANN, Peter (ed.). Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. Trad. José Marino Luz; Johan Konings. São Paulo: Paulinas, Loyola, 2007, p. 449-450.
[12] TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Trad. Aldo Vannucchi et al. São Paulo: Loyola, 2013, v. 9, p. 94-95.
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