Iraque: aumenta o conflito entre o governo e a Igreja Católica Caldeia
O Cardeal Louis Raphael Sako abandona sua residência oficial em Bagdá devido a um “caos político, nacional e moral sem precedentes”.
Redação (16/07/2023 15:32, Gaudium Press) O Presidente da República do Iraque, Abdul Latif Rashid, revogou um decreto que sancionava a nomeação pontifícia do patriarca caldeu como chefe da Igreja Caldeia “no Iraque e no mundo” e consequentemente “responsável pelos bens da Igreja”.
Esta decisão teve motivação política e “sem precedentes na história do Iraque”. Uma fonte eclesiástica contou à AsiaNews no Iraque que o assunto gira em torno do “controle dos bens e propriedades dos cristãos, da Igreja, que alguém quer tirar”. Esta fonte explicou ainda: “Não é por acaso que a decisão do presidente foi tomada poucos dias após o encontro entre o próprio Rashid e Rayan al-Kaldani”, chefe do Movimento da Babilônia e autointitulado líder cristão, apoiado por facções xiitas ligadas ao Irã, que quer formar um enclave na planície de Nínive. Com efeito, Kildani é acusado de estar a serviço do Irã e vender propriedades cristãs em grande escala para intermediários iranianos, sendo condenado diversas vezes pelo governo dos EUA, inclusive por violações de direitos humanos. Em 2021, ele se reuniu com o Papa Francisco – um gesto que foi criticado pela comunidade cristã porque seu grupo é formado majoritariamente por muçulmanos xiitas. “Querem interferir, mandar, expropriar o que é dos cristãos”. O patriarca católico caldeu Louis Raphael Sako acusou o político e líder da milícia de não representar os interesses dos cristãos, mesmo que finja ser.
Com a revogação do decreto presidencial, o patriarca “acabaria perdendo o controle dos próprios bens e propriedades, podendo ter consequências para a Igreja no Iraque e para o futuro dos cristãos no país”, afirmou o patriarcado.
No norte do Iraque, os cristãos realizaram manifestações em apoio ao Cardeal Sako, que é altamente estimado pelos fiéis e está “determinado a continuar a luta, considerando a possibilidade de ir ao tribunal para que a lei prevaleça e a justiça seja feita”.
Por sua vez, o presidente Rashid insistiu que a retirada do decreto não afeta o status religioso ou legal do Cardeal Sako, já que ele foi nomeado patriarca “pela Santa Sé”.
No entanto, na última sexta-feira, o cardeal teve de prestar depoimento na polícia por ter vendido “ilegalmente” propriedades da igreja.
Em uma carta publicada neste sábado, o Cardeal Sako anunciou sua saída da residência oficial em Bagdá, e seu estabelecimento em um mosteiro na região autônoma do Curdistão, no norte do Iraque devido a um “caos político, nacional e moral sem precedentes”. Em seguida, viajou para Istambul, para a ordenação do novo bispo caldeu de Diyabakir, Sabri Anar, realizada neste domingo.
Louis Raphaël Sako foi eleito Patriarca da Babilônia pelo Sínodo dos Bispos da Igreja Católica Caldeia em 2013. Em 2018, foi elevado a cardeal pelo Papa Francisco e, em 2022, recebeu o título de “Patriarca de Bagdá”.
A Igreja Católica Caldeia está sediada em Bagdá. Com 67% a 80% dos cristãos, os caldeus católicos são a maior denominação cristã no Iraque. De acordo com as estimativas atuais, a proporção de cristãos na população iraquiana caiu para cerca de um por cento nos últimos anos. O terrorismo do “Estado Islâmico” expulsou os caldeus de seus territórios no norte do Iraque e os perseguiu com grande brutalidade.
Estima-se que dois terços dos cristãos fugiram do Iraque para escapar da guerra e do terror.
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