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Mistério e dúvidas na libertação e prisão do Bispo de Matagalpa

Por que não se perguntou ao prelado ainda na prisão se aceitaria as condições de sua libertação?

Foto: Captura de tela/ Canal 4 Nicaragua

Foto: Captura de tela/ Canal 4 Nicaragua

Redação (13/07/2023 09:57, Gaudium Press) O que aconteceu com o sofrido bispo de Matagalpa, Dom Rolando Álvarez, nos dias 3, 4 e 5 de julho, quando foi retirado da prisão Modelo – que devido ao calor sufocante é chamado de Infiernillo – para depois ser reconduzido para lá sob os véus do ocultismo tem elementos para roteiros de mistério, daqueles que alimentam teorias da conspiração.

Embora não confirmado nem pela ditadura nem pela Igreja, descobriu-se que o bispo teria sido retirado da prisão, mas dada a sua recusa em aceitar o exílio e a sua declaração que só aceitaria a liberdade incondicional, foi levado de volta ao seu inferno aqui na terra.

Agora, depois de a poeira abaixar, começam a surgir as perguntas, as dúvidas:

Por que não se perguntou ao prelado ainda na prisão se aceitaria as condições para a sua libertação?

Além disso, se o que queriam lhe oferecer era a libertação com o exílio, a ditadura sabia que, em fevereiro, ele já tinha rejeitado essa opção nas escadas do avião que o levaria para os Estados Unidos, e que seria provável que ele a rejeitasse novamente, como de fato ocorreu.

Surge então outra questão: o bispo foi desencarcerado para pressionar sua saída, saída que já se sabia que ele não aceitaria? Teria sido ele pressionado a fazê-lo apenas pela ditadura de Ortega ou também pela Igreja? O sigilo com que o assunto foi tratado permite que essas questões sejam formuladas.

Agora, o sempre bem informado Il Sismografo acrescenta mais tempero ao assunto, e publica uma nota falando sobre as cinco exigências do bispo de Matagalpa que pareceram excessivas para a ditadura, e que levaram ao fracasso da negociação iniciada em torno de sua libertação:

– Permanecer na Nicarágua com seu rebanho

– Restituição de todos os seus direitos de cidadania

– Libertação de todos os sacerdotes presos

– Descongelamento das contas bancárias da Igreja

– Compromisso com o verdadeiro respeito à liberdade religiosa no país

A situação do Cardeal Brenes

Outra questão que está cada vez mais em foco é a posição do Cardeal Brenes não só em relação à situação do bispo de Matagalpa, mas sobre toda a perseguição da ditadura de Ortega à Igreja.

É evidente que o cardeal não apenas evitou qualquer confronto direto, mas quase qualquer alusão aos muitos danos produzidos pela ação deletéria da ditadura, certamente na esperança de que a diplomacia consiga, se não uma solução, pelo menos um status quo que permita a sobrevivência e o exercício das tarefas essenciais da Igreja.

No entanto, sua situação se torna muito incômoda e cada vez menos compreensível em relação a um bispo e vários sacerdotes presos.

Nesse sentido, o Il Sismografo afirma que o Cardeal Brenes sabia “com bastante antecedência” das negociações que seriam realizadas nesses dias com o bispo e o Vaticano, “porque esteve envolvido com o Vaticano durante algum tempo na fase preparatória. É por isso que o cardeal não disse a verdade quando os jornalistas lhe pediram notícias sobre Dom Alvarez”. O fracasso das negociações explicaria sua reação “irritada e agressiva” com os jornalistas, quando questionado sobre o assunto.

O Il Sismografo ressalta que o representante do Vaticano que participou dessas negociações fracassadas era um “enviado digital”. Enviado digital, que alguns definem como um funcionário da Secretaria de Estado do Vaticano, que, entretanto, não realizou o que teria sido decisivo para a saída do bispo: transmitir uma ordem direta do Pontífice indicando a sua saída do país, como aconteceu no caso de D. Silvio Báez, auxiliar de Manágua hoje na Flórida.

De qualquer forma, com o retorno de Dom Álvarez à prisão, o assunto não voltou ao ponto anterior, mas agora é mais prejudicial ao prestígio da ditadura, já que o bispo está mais em foco em todos os níveis, e as iniciativas que exigem sua libertação, privadas ou estatais, se multiplicam e potencializam.

Parece que não demorará muito para estarmos na presença de um novo capítulo desta via-sacra do Bispo e da Igreja no católico país centro-americano. (SCM)

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