Inspirados em satanás…
Por mais que o inferno, incapaz de destruí-la, se organize para sufocar a Igreja Católica, jamais poderão impedir sua ação.
Redação (30/05/2023 12:19, Gaudium Press) Dizem que o Papa São Pio X, durante uma visita a um dos colégios eclesiásticos de Roma, fez a pergunta catequética básica aos jovens estudantes para o sacerdócio: “Quais são as marcas distintivas da verdadeira Igreja de Cristo?”
Um deles respondeu rapidamente que eram quatro: Una, Santa, Católica e Apostólica.
Para surpresa dele e dos outros alunos presentes, o Papa perguntou-lhe novamente: “Não há mais que quatro?”, ao que o jovem seminarista respondeu que ela também era Romana.
“Exatamente”, respondeu o Santo Pontífice.
“Mas… não falta mencionar outra característica, a mais evidente?”
Diante do silêncio que se seguiu entre eles, o próprio Papa respondeu: “Ela também é perseguida! Este é o sinal de que somos verdadeiros discípulos de Jesus”.
Esta característica surge da incompatibilidade da doutrina do mundo e a de Cristo. É o que nos transmitem os Santos Evangelhos: “Se me perseguiram, perseguirão a vós também” (Jo 15, 20).
Desde antes do nascimento do Menino Deus
Vemos os sinais de ódio e perseguição ao nosso Divino Redentor refletidos desde sua santa infância, quando Herodes, em sua tentativa de tirar a vida, não hesitou em assassinar crianças inocentes. E, ao percorrermos sua vida pública, vemos como o ódio contra ele cresceu até chegar ao paroxismo da decisão de matá-lo, após a injusta sentença de condenação, que o levou à Crucifixão e Morte.
Após a Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo aos Céus, no início da expansão da Igreja, os primeiros cristãos foram vítimas de sangrentas perseguições até os tempos do imperador Constantino: “Sereis odiados por todos por causa do meu nome”, sofrendo o ódio dos homens, portanto: “Será para vocês uma ocasião para testemunhar” (21, 13-17).
Ao longo dos séculos, a História nos apresentou o antagonismo irreconciliável -que vemos narrado no Gênesis- entre a bem-aventurada raça da Virgem Maria e a raça maldita de Satanás: “Porei inimizade perpétua entre ti e a mulher, entre a tua descendência e seus descendentes. Ela esmagará a sua cabeça, e você lhe ferirá em seu calcanhar” (3, 15).
Quando nos aproximamos, a tempos não tão distantes, são menos de 100 anos, em que o mundo viveu diversos conflitos anti-religiosos, um deles se destaca por características que nos assustam, nos espantam como os ocorridos na Espanha entre os anos de 1936-1939. Uma verdadeira tentativa de fazer desaparecer a catolicidade na nação espanhola.
Autores de peso, entre eles o falecido Monsenhor Antonio Montero Moreno, em seu famoso e bem fundamentado livro “História das perseguições religiosas na Espanha”, apresenta cifras horripilantes dos assassinados durante esse período sombrio: 12 Bispos, 4.184 sacerdotes seculares, 2.365 religiosos e 293 freiras.
Com a documentação existente dos horrores ocorridos naqueles anos trágicos foi lançado um novo livro, que dá um panorama com imagens fotográficas da destruição das igrejas, dos seus altares e das imagens de Jesus, de Nossa Senhora, de tantos Santos – que o autor qualifica como “martírio das coisas” – quando não a profanação do Santíssimo Sacramento. “Inspirado por Satanás” é o singular nome do livro do Padre Jorge López Teulón.
Título exagerado? Pois bem, eu diria: de que outra forma poderiam qualificar aqueles que jogaram futebol com o crânio de um Bispo falecido décadas atrás ou queimaram o corpo incorrupto de São Pascual Bailão, venerado desde o século XVII?
Eles tentaram fazer a Cruz desaparecer…
Tentaram fazer desaparecer a presença da Cruz de Cristo em terras espanholas. E mais ainda, o ódio chegou a tal que destruíram os valiosos órgãos ou os sinos, pois os perseguidores sentiram que a música sacra que emana do órgão e os sons dos sinos eram como a voz de Deus penetrando nos corações, por isso, eles tiveram que ser destruídos.
Desses mártires, 2.053 foram canonizados até hoje. Foi em junho do ano passado que o Cardeal Marcello Semeraro, prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, presidindo na Catedral de Sevilha a Missa de Beatificação de uma nova “comitiva de mártires” , ressaltando a figura de uma delas, Irmã Ascensão de São José, figura luminosa de mulher, que -junto com outras- foi cruelmente torturada, lhe pediram que blasfemasse e pisasse no Crucifixo, ela se recusou… e seu crânio foi esmagado. Ele não renunciou à Fé. Pelo contrário, morreu louvando a Cristo Rei e ao Santíssimo Sacramento. Em uma das maiores perseguições da história, testemunharam a Fé, foram crucificados como Cristo e praticamente como os apóstolos. Vemos ali aquela característica da Santa Igreja: perseguida.
E hoje?, alguém perguntará. Soam aos nossos ouvidos -já um pouco cansados de tanta hipocrisia- a palavra de paz, tolerância, pluralidade, ecumenismo, misericórdia… Mas, mais terrível soam notícias de perseguição religiosa nos mais variados lugares do mundo, lamentavelmente pouco difundidas nos meios de comunicação.
A conhecida Pontifícia Fundação de Ajuda à Igreja que Sofre destaca em um estudo realizado, as graves ameaças enfrentadas pelos cristãos. Em grande parte da África, os cristãos são assassinados, suas igrejas atacadas e suas aldeias arrasadas. Relatórios estimam que até 7.600 cristãos nigerianos foram mortos entre janeiro de 2021 e junho de 2022. Se fosse apenas na África, também do Oriente Médio ao Extremo Oriente. Nos Estados Unidos, os atos de vandalismo contra a Igreja Católica totalizaram 300 desde a primavera de 2020, três igrejas históricas foram totalmente queimadas. Na França, são estimados 900 atos de vandalismo e profanação de igrejas por ano. Por exemplo, em Bordeaux, a igreja Sacré-Coeur foi pintada com grafites como: “Obrigado, Satanás” ou “Leve-me com você”, em março deste ano.
Na Espanha, já longe da sangrenta perseguição dos anos 36-39, um acontecimento entristeceu os católicos daquele país durante a Semana Santa. Na emissora TV3, em uma paródia, apareceu uma comediante vestida de Virgem do Rocío com uma boneca nos braços, também fazendo alusões de baixo teor à Nossa Senhora, junto com outros apresentadores.
Todos esses tristes acontecimentos não devem nos levar ao desânimo. A Santa Igreja será, não apenas invencível, mas sempre triunfante. Recordemos as palavras do seu Divino Fundador: “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). O Fundador dos Arautos do Evangelho bem afirmou que: “Por mais que o inferno, incapaz de destruí-la, se organize para sufocá-la, jamais poderão impedir sua ação. E quaisquer que sejam as aparências, a Luz de Cristo permanecerá em sua Esposa com todo o seu poder e grandeza, aguardando o momento de se manifestar de forma intensa, majestosa e irresistível”.
(Originalmente publicado em La Prensa Gráfica de El Salvador, 30-4-2023)
Por Padre Fernando Gioia, EP
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
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