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As três principais festas judaicas – Parte II Pentecostes

A segunda das principais festas judaicas era a comemoração do Shavuot, posteriormente chamada de Pentecostes. A princípio, uma festa em agradecimento a Deus pelos frutos da terra, mas que, mais tarde, adquiriu um sentido religioso muito mais profundo.

Pentecostes

Redação (16/05/2023 09:27, Gaudium Press) A segunda das principais festas judaicas era a comemoração do Shavuot,[1] posteriormente chamada de Pentecostes.

Era celebrada no dia 6 ou 7 do mês de Sibán, época na qual se concluía a colheita do trigo e dos cereais, razão de a chamarem Festa da colheita, ou dia das primícias, por causa dos primeiros pães feitos a partir da nova colheita de trigo.

O livro do Deuteronômio, entretanto, acrescenta-lhe o nome de festa das semanas, por ser comemorada “sete semanas depois do momento em que a foice fosse introduzida na seara” (cf. Dt 16,9-10), ou seja, sete semanas após o dia da Páscoa.[2]

Ademais, o cômputo de sete semanas a partir do dia seguinte ao sábado no qual se havia apresentado os primeiros frutos resultava sempre numa cifra de cinquenta dias, “provindo daí o nome grego da festa: Πεντεχοστή (Pentecosté), o “quinquagésimo dia”, cujas primeiras menções na Escritura se acham em 2Mac 12, 31-32 e Tb 2,1, junto ao nome de Festa das semanas.

Tal como a Páscoa, com o passar do tempo, esta festa foi vinculada à História da Salvação: valendo-se da citação de Ex 19,1, segundo a qual os Israelitas chegaram e acamparam no Sinai, no terceiro mês, após a saída do Egito, a Festa das semanas passou a comemorar a aliança do Povo Eleito com Deus, bem como a entrega da Lei.[3]

Todavia, somente a partir do segundo século da nossa era é que os rabinos aceitaram a celebração de Pentecostes como “o dia no qual a lei havia sido descida do Sinai”.[4]

Ritual de Pentecostes

A princípio, somente um dia era reservado para comemorar a Festa de Pentecostes, ainda que estivesse permitido sacrificar vítimas voluntárias durante os seis dias que prosseguiam a solene celebração. Mais tarde, com o fim de a igualar às outras importantes festas, começaram a guardar dois dias para se celebrar o Shavuot.

A cerimônia característica era a oferenda de dois pães feitos a partir da nova farinha, cozida com levedura – única vez que o ritual prescreve o uso do fermento em uma oferenda apresentada a Yahveh. Esta oblação excepcional sublinha a sua estreita relação com a dos Massót, quando, ao começo da colheita, eram comidos pães sem levedura, em sinal de renovação. Ao fim da ceifa dos trigos, portanto, se oferecia pão fermentado, o pão de todos os dias entre os sedentários, retomando-se em seguida as práticas ordinárias.[5]

Às vésperas da Festa de Pentecostes já se fazia ouvir o clamor das trompetas, como era comum acontecer nas solenidades em Jerusalém.

“No dia da festa, bem de madrugada, uma multidão se apinhava no Átrio do Templo. Eram oferecidos os sacrifícios matutinos cotidianos e, logo, os próprios da festividade, como no dia da Páscoa. No momento das libações, os sacerdotes faziam ressoar suas trombetas: os levitas entoavam canções e tangiam os instrumentos musicais; o povo cantava o Hallel. Depois, eram oferecidos os pães ázimos da nova colheita, juntamente com sete cordeiros de um ano; um bezerro e dois carneiros em holocausto; e um bode. O sacrifício propiciatório e dois cordeiros de um ano em ação de graças. Os sacerdotes abençoavam solenemente o povo, ao som da música dos levitas; o povo ajoelhado fazia a sua oração”.[6]

Como observam alguns autores, “os estrangeiros que não cabiam no Templo se congregavam nas sinagogas, onde repetiam as canções de um cantor de ofício. Cinco deles liam, em alta voz, um trecho da Lei, que logo era explicada à comunidade; por fim eram recitadas as preces próprias da festa. As sinagogas e as janelas das casas eram adornadas com rosas e outras flores para lembrar os enfeites que foram usados nos arredores do monte Sinai, durante a promulgação da Lei”.[7]

Do Pentecostes judaico ao cristão

Com o advento da era cristã, a festa de Pentecostes adquiriu um significado assaz diferente do da antiga solenidade das colheitas, iniciada naquele deslumbrante dia no qual “estando os Apóstolos reunidos no Cenáculo, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo, que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (cf. At 2,1-4).

Sim, a festa de Pentecostes passou a “rememorar precisamente o início da missão pública da Igreja, pois foi nele que o Espírito Santo – a alma da Igreja – desceu visivelmente sobre ela para dar-lhe vida e pô-la em movimento”.[8]

Entretanto, não observemos somente as dessemelhanças entre ambas solenidades, mas vejamos também o que elas têm de similar e como Deus quis, em seus perfeitíssimos desígnios, que uma festa precedesse à outra: tal como acontecera com a Páscoa judaica, que prefigurava a verdadeira Páscoa – a Ressurreição de Jesus Cristo, a Festa do Shavuot antecedeu a celebração de Pentecostes, da qual era mera prefigura.

Neste sentido, “a própria realização simultânea das duas festas – a judaica e a cristã – manifesta que o antigo sistema de culto havia se tornado obsoleto e que, neste momento, seriam realizadas as promessas de que ela era uma prefigura”. [9]

Mas esta não é a única paridade que encontramos entre as mencionadas solenidades, se fizermos eco aos ensinamentos dos Santos Padres, possível será traçarmos um paralelo entre ambas festividades, afirmando que “assim como a Lei mosaica foi anunciada no dia de Pentecostes, do mesmo modo a nova Lei, que consiste principalmente na Graça do Espírito Santo, foi promulgada neste mesmo dia”.[10]

Por João Pedro Serafim


[1] A respeito da principal festa judaica, a Páscoa, leia-se o artigo: https://gaudiumpress.org/content/as-principais-festas-judaicas-a-pascoa-parte-i/

[2] O termo hebraico Shavuot provém desta mesma passagem bíblica (Dt 16,9-10). Na língua portuguesa, seu equivalente é a palavra Semana.

[3] Ressalte-se que os Essênios – misteriosa comunidade judaica originada, segundo se crê, da dissidência entre judeus fervorosos e judeus laxistas, na época forte do helenismo – celebrava precisamente a festa do Shavuot como a renovação da aliança, ou seja, a mais importante de suas festas.

[4] Cf. De Vaux, Roland. Instituciones del Antiguo Testamento. Barcelona: Editorial Herder, 1976, p. 621 e 622.

[5] Cf. ibid.

[6] Holzammer, Juan; Shuster, Ignacio. História bíblica: Antigo Testamento. (Trad. Jorge de Riezu). Barcelona: Litúrgica española, 1934, p. 343 e 344.

[7] Ibid.

[8] Biblia comentada. Hechos de los Apóstoles y Epístolas paulinas. (Org. Professores de Salamanca) Madrid: BAC, 1965, p. 30.

[9] Roland de Vaux. Op. cit., p. 622.

[10] Ibid.

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