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Nicarágua: Dom Rolando Álvarez há três meses na prisão

Desde o ano passado, 37 sacerdotes e um bispo já foram exilados, assim como 32 religiosos de diversas congregações foram expulsos do país pelo ditador da Nicarágua.

Foto: Vatican News

Foto: Vatican News

Redação (11/05/2023 16:51, Gaudium Press) Ontem, 10 de maio, completou-se o terceiro mês do encarceramento do bispo de Matagalpa, Dom Rolando Álvarez Lagos. Ele foi condenado a 26 anos e 4 meses de prisão devido à sua oposição ao governo de Daniel Ortega na Nicarágua. Depois de ter passado alguns meses em prisão domiciliar, acusado de conspiração e delitos contra a pátria, atualmente o bispo encontra-se detido em uma cela escura, cujas condições de higiene são degradantes.

O governo da Nicarágua não poupa esforços para coibir toda oposição por parte dos católicos. Desde 2018, foram registrados 529 episódios de violência contra a Igreja Católica no país, incluindo profanações e atentados.

Só no ano passado e começo deste, 37 sacerdotes e um bispo foram exilados, assim como 32 religiosos de diversas congregações foram expulsos do país pelo presidente nicaraguense. O ditador também proibiu também a realização de 3.176 procissões durante a última Semana Santa.

Em 12 de fevereiro passado, o Papa comentou no Angelus que “as notícias que chegam da Nicarágua me entristecem um pouco e não posso deixar de recordar aqui com preocupação o Bispo de Matagalpa, Dom Rolando Álvarez, a quem tanto amo, condenado a 26 anos de prisão, e também as pessoas que foram deportadas para os Estados Unidos. Rezo por eles e por todos aqueles que sofrem nessa querida nação, e peço suas orações”.

Igreja perseguida

O “calvário” do bispo Rolando Álvarez começou em 4 de agosto de 2022, quando foi impedido de entrar  na catedral de Matagalpa para celebrar a missa. Após alguns meses de prisão domiciliar, ele foi levado ao aeroporto para ser deportado juntamente com mais de 200 presos políticos, mas, ao recusar a deixar o país, foi encarcerado.

Segundo a jornalista e pesquisadora nicaraguense Martha Patricia Molina, autora do estudo “Nicarágua: uma Igreja perseguida?”, pouco se sabe sobre Dom Rolando Álvarez. “Não tenho nenhuma informação sobre ele, mas sei que algumas autoridades do sistema penitenciário de Chipote não concordam com o tratamento injusto reservado a cada um dos presos políticos e com a atitude do ditador”, disse a autora à Radio Maria.

“Ninguém que se encontre nas condições de Dom Álvarez e dos demais presos políticos pode se sentir bem. Torturas cruéis, desumanas e degradantes são praticadas nas prisões da Nicarágua”, acrescentou Molina.

Como parte desse tratamento cruel, ordenado por Ortega, o jornal nicaraguense La Prensa, cuja versão impressa foi suprimida pelo governo Ortega, informou que Dom Álvarez sequer tem acesso a papel higiênico na cela. Ademais, a prisão onde o bispo está detido é conhecida como um reduto de tortura.

Vozes que se levantam

Personalidades do cenário político e diplomático têm levantado sua voz contra a prisão injusta do bispo e denunciado o tratamento desumano que Dom Álvarez tem recebido.

Para o advogado Danny Ramírez Ayerdis, secretário-executivo do Centro Interamericano de Assistência Jurídica para os Direitos Humanos, o que a ditadura busca “é quebrar a moral do bispo que está sofrendo graves violações do direito internacional: são crimes contra a humanidade dentro da perseguição geral que a Igreja Católica está vivendo na Nicarágua”.

Carrión acrescenta que a crueldade da ditadura contra Dom Álvarez se deve “à sua voz de coerência com os oprimidos, sendo o único bispo da Nicarágua que até o momento foi privado de liberdade”. “E precisamente por ser um pastor empenhado em estar próximo do povo, tiraram-lhe a liberdade, depois de o terem sistematicamente sitiado, molestado e ameaçado”, disse o legista à Radio Maria Itália.

Por sua parte, o ex-embaixador da Nicarágua na Organização dos Estados Americanos, Arturo McFields Yescas, afirmou ao site 100% Notícias que com a prisão de Dom Álvarez a ditadura fica “ainda mais desacreditada perante o mundo”.  “Só a escória da humanidade aprisiona um bispo que não pode lhe fazer mal. Que medo eles têm de um monsenhor que carrega a cruz?” O diplomata acredita que a prisão do bispo terminará em breve graças à pressão internacional.

No entanto, ainda segundo Radio Maria, “o otimismo de McFields contrasta com a nova onda de prisões de mais de 60 opositores do regime, todos acusados ​​de atentar contra a integridade nacional e espalhar notícias falsas”.

Na Igreja Católica, a manifestação mais forte contra a atrocidade de Ortega veio dos Estados Unidos.

O bispo de Rockford e Secretário da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, Dom James Malloy, escreveu em abril deste ano: “Peço ao governo dos Estados Unidos e a toda a comunidade internacional que continue trabalhando pela libertação do bispo Álvarez e pela restauração da paz e do estado de direito na Nicarágua”.

Todavia, o “silêncio” da Santa Sé frente à situação do bispo tem sido criticado por alguns meios católicos, sobretudo pelo site italiano Il Sismógrafo.

Em junho de 2022, os responsáveis pelo Il Sismógrafo, escreveram: “A Sé Apostólica deu a impressão de que considera necessário calar ou mesmo ceder. Algo semelhante já havia sido visto – na América Latina – no caso das perseguições de Nicolás Maduro contra a Igreja na Venezuela”.

“Esse silêncio do Santo Padre, inexplicável e injustificável, causou e está causando graves dores à comunidade católica da Nicarágua e da América Latina. A Santa Sé deve corrigir alguns graves erros também para evitar que outros governos da região se sintam encorajados a silenciar a voz de centenas de bispos fiéis ao Magistério, ao Concílio e ao Documento de Aparecida”, noticiou o site italiano.

Por Rafael Tavares

 

 

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