Pregador da II Cruzada
Varão de combatividade invencível, grande devoto de Nossa Senhora, São Bernardo pregou a II Cruzada e também contra a heresia nascente dos cátaros e albigenses.
Redação (09/05/2023 18:16, Gaudium Press) A Rainha de Jerusalém Melisinde, tendo ficado viúva, assumiu a regência em 1143, pois seu filho herdeiro Balduíno III era adolescente. São Bernardo escreveu-lhe uma carta, na qual dizia: “É preciso que vós realizeis pesadas obras, que num corpo de mulher mostreis uma coragem varonil.”[1]
Melisinde de fato enfrentou enormes dificuldades. Quando o Beato Eugênio III se tornou Papa, em 1145, ela enviou-lhe uma mensagem pedindo que socorresse o Reino católico de Jerusalém gravemente ameaçado. A cidade de Edessa, que fazia parte desse Reino, caíra em poder dos turcos maometanos. Bem mais tarde, sendo anciã, Melisinde fundou um mosteiro feminino em Betânia, do qual sua irmã foi Madre superiora.
100.000 pessoas em Vézelay
O Beato Eugênio havia sido monge de Claraval, cujo abade era São Bernardo. Grande admirador de seu mestre, o Papa o designou pregador da II Cruzada.
Em março de 1146, nas proximidades da cidade francesa de Vézelay – Borgonha –, o Santo discursou para 100.000 pessoas. Além de dignitários eclesiásticos, estavam presentes o Rei da França Luís VII, a Rainha Eleonora de Aquitânia e muitos nobres.
O varão de Deus suscitou um entusiasmo parecido ao do Concílio de Clermont, realizado em 1095. “Sob a túnica do cisterciense, os seus contemporâneos reconheciam a invisível armadura do cavaleiro.”[2]
Ele participou, em dezembro de 1146, da Dieta de Speyer, Alemanha, e convenceu o Imperador Conrado III, bem como seu sobrinho Frederico I de Hohenstaufen – que posteriormente se tornou imperador sob o nome de Frederico Barba-ruiva – a tomarem parte na cruzada.
Infelizmente a II Cruzada fracassou devido, principalmente, a que Conrado e Luís VII não seguiram os conselhos de São Bernardo. O Rei da França permitiu que sua esposa Eleonora participasse da expedição. Era uma mulher mundana que, junto com outras do mesmo naipe, favoreceu um ambiente de sensualidade entre os Cruzados.
Luta doutrinária contra Abelardo e Arnaldo de Brescia…
Após pregar em outras importantes cidades da Alemanha, o Santo se dirigiu a um convento em Bingen onde conversou com a freira beneditina Santa Hildegarda, que recebia revelações de Deus. Ele já havia lido suas obras e afirmara: “Estes escritos não são obras de uma inteligência humana; são de inspiração divina e ditadas pelo Espírito Santo.”[3]
Além de combater os inimigos externos da Igreja – como eram os maometanos –, São Bernardo lutou ferrenhamente contra seus inimigos internos, entre os quais Pedro Abelardo e Arnaldo de Brescia.
Abelardo era um religioso francês que defendeu heresias sobre a Santíssima Trindade, a Eucaristia, o pecado original. Devido a seu orgulho, precipitou-se nos pecados contra a castidade.
Afirmou Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Abelardo, que foi o maior inimigo de São Bernardo, era um tipo asqueroso. Tornara-se frade e ficara apaixonado por uma freira, uma tal Heloísa. E tinha por ela uns desses amores sentimentais, românticos, que já prenunciavam toda a choradeira do século XIX.
“Era um homem que queria encontrar o meio-termo entre o bem e o mal, entre a verdade e o erro. Por ser um antecessor da Revolução, os escritores revolucionários o admiram muito. E não ousando atacar São Bernardo de frente, fazem insinuações usando fórmulas como, por exemplo: ‘Pedro Abelardo teve de sofrer a oposição fogosa e implacável de São Bernardo; precisou aguentar os raios que São Bernardo deitava contra ele.’ Mas ele apanhou de fato e foi derrotado pelo santo Abade de Claraval.”[4]
Causa espécie que Daniel-Rops chegou a escrever: Abelardo foi um “homem extraordinário, uma das figuras mais admiráveis do pensamento medieval”.[5]
Arnaldo de Brescia era sacerdote. Por defender graves erros, o Arcebispo de Brescia – Norte da Itália – o expulsou da cidade, e ele se estabeleceu na França onde se uniu a Abelardo. No Concílio de Sens – nas cercanias de Paris –, em junho de 1140, pela atuação de São Bernardo ambos foram condenados. Mas continuaram a propagar heresias.
Brescia afirmava, entre outras heresias, que a Igreja não possui direito de propriedade, o qual pertence ao rei, aos príncipes, ao povo. Os católicos não deveriam se confessar com os padres, mas entre eles mesmos. Foi um precursor do protestantismo e do socialismo. Em 1155, o Prefeito de Roma o condenou à morte; após ter sido enforcado, seu corpo foi queimado e as cinzas jogadas no Rio Tibre.
… e os precursores dos cátaros e albigenses
Embora com a saúde debilitada, São Bernardo, por volta de 1147, pregou também no Sul da França, cuja população fora seduzida por hereges precursores dos cátaros e albigenses.
Henrique de Lausanne atacava o Papa e realizava abominações nas igrejas. Por exemplo, fazia “casamentos” em que os noivos ficavam “inteiramente nus, e, após a cerimônia, ele lhes dava trajes vis”.[6]
A cidade de Sarlac era o centro da heresia. São Bernardo para lá se dirigiu e, além de homilias, distribuiu pão bento aos doentes; todos ficaram curados e a população se converteu.
O apóstata Henrique agia de modo especial em Tolosa, apoiado pelos tecelões, bem como por muitos nobres e burgueses, que os abrigavam ocultamente em suas casas. À população dessa cidade São Bernardo havia escrito uma carta, na qual ele se dirigia a Deus dizendo:
Os hereges “se revoltam insidiosamente contra Vós, perfidamente se insurgem vossos inimigos. Pois não hei de odiar, Senhor, aos que Vos odeiam? Aos que se levantam contra Vós, não hei de abominá-los? Eu os odeio com ódio mortal, eu os tenho em conta de meus próprios inimigos (Sl 138, 20-22).”[7]
Quando souberam que o Abade de Claraval ia visitar a cidade, os habitantes de Tolosa, tocados pela graça divina, exultaram de alegria e o receberam como um Santo. Houve conversões espetaculares.
São Bernardo esteve também em Albi, cujos habitantes estavam infectados pela heresia. Em sua homilia na catedral repleta ele comparou a Doutrina católica com os erros propagados pelos hereges. Ao final, todos bradavam: “Queremos seguir a Igreja de Bernardo!”, ou seja, a verdadeira Igreja Católica.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1879, v. 26, p. 504.
[2] DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja das catedrais e das Cruzadas. São Paulo: Quadrante. 1993, v. III, p. 129.
[3] DARRAS. Op. Cit., v. 26, p. 426.
[4] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Fundador da Ordem de Cister. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XXIII, n. 264 (março 2020), p. 25.
[5] DANIEL-ROPS. Op. cit., p. 118.
[6] ROHRBACHER, René-François. Histoire universelle de l’Église Catholique. Paris : Louis Vivès. 1901, v. 7, p. 472.
[7]DARRAS. Op. cit., v. 26, p. 554.
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