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Varão eloquente como uma chama de fogo

São Bernardo de Claraval atuou junto a altos dignitários eclesiásticos, imperadores, reis, príncipes, combatendo vigorosamente os inimigos da Igreja e conduzindo a Deus inúmeras almas.   

Sao Bernardo de Claraval

Redação (02/05/2023 08:31, Gaudium Press)Dr. Plinio Corrêa de Oliveira assim descreve São Bernardo:

“Eu o imagino plutôt alto, quase esguio, claro, com traços regulares e cabelo rigorosamente raspado; olhos firmes, transparentes e perfurantes, capazes, entretanto, de uma doçura inimaginável.

“Devia ser eloquente como uma chama de fogo saída da pureza nívea de seu corpo, revestido de uma túnica limpíssima. Uma aura de alvura prateada o cercava, ornando-o de respeitabilidade.”[1]

O Papa Inocêncio II, perseguido violentamente pelo antipapa Anacleto II, apoiado por Roger II, Rei da Sicília, e grande parte dos romanos, refugiou-se na França. Em 1131, na cidade belga de Liège, ele presidiu uma assembleia na qual estava presente o Imperador Lotário II, e convocou São Bernardo para que dela participasse.

São Bernardo invectiva o imperador…

Lotário II reconheceu que Inocêncio II era o verdadeiro papa, mas pediu que lhe fosse restituído o poder de investidura eclesiástica. O Abade de Claraval tomou a palavra e mostrou ao imperador o horror desse pecado praticado pelo seu predecessor Henrique IV, que havia sido excomungado. Todos o aplaudiram e Lotário declarou que o Santo tinha toda razão.

Pouco depois, Inocêncio promoveu um concílio em Reims do qual participaram São Bernardo, São Norberto, Arcebispo de Magdebourg – Leste da Alemanha – e fundador dos premonstratenses, bem como mais de 200 bispos e abades.

Proclamou-se solenemente que Inocêncio II era o verdadeiro Papa, e o antipapa Anacleto foi excomungado. Leram-se as cartas do Imperador Lotário II, do Rei da Inglaterra Henrique I, do Rei de Aragão Afonso I e do Rei de Leão e Castela Afonso VII, nas quais manifestavam sua submissão ao Pontífice. Estavam também presentes o Rei da França e o príncipe herdeiro, que contava dez anos de idade.

Terminado o concílio, Inocêncio visitou a Abadia de Claraval e depois partiu em direção a Roma, levando consigo São Bernardo, que foi aclamado em várias cidades. Em Châlons-en-Champagne – Nordeste da França – e em Gênova, Itália, quiseram que ele se tornasse bispo dessas dioceses.

… e o Duque da Aquitânia

Innocentius II. podobaEm Roma, a situação era de extrema gravidade. O antipapa ocupava a Basílica de São Pedro, era apoiado pelo prefeito e grande parte dos habitantes. Em junho de 1133, Inocêncio II se dirigiu à Basílica de São João de Latrão e sagrou Lotário II como Imperador do Sacro Império Romano Germânico.

Em maio do ano seguinte, reuniu um concílio na cidade de Pisa. Sabendo que São Bernardo dele participava, muitos clérigos passavam noites inteiras em fila para conseguir falar com ele.

Após a conclusão da assembleia, o Papa enviou o Santo a Milão, cujo arcebispo havia se aliado ao antipapa e se revoltara contra o Imperador Lotário. Todo o povo fiel o acolheu com entusiasmo. As pessoas se ajoelhavam diante dele, arrancavam fios de seu hábito como relíquias e bradavam: “Bernardo arcebispo!”

Guilherme X, Duque da Aquitânia – Sudoeste da França –, apoiava o antipapa. Em 1135, Inocêncio II para lá enviou São Bernardo a fim de arrancá-lo do erro em que se envolvera.

Uma vez que o duque não se deixava convencer pelos argumentos apresentados pelo Santo, este celebrou a Missa na capela de um castelo em Parthenay, mas Guilherme permaneceu do lado de fora.

Assim que a cerimônia terminou, São Bernardo, com “a face reluzente e os olhos chamejantes”[2], segurando a Hóstia consagrada sobre uma patena, se dirigiu a Guilherme e declarou:

“Eis aqui vosso Juiz, em nome do qual se dobra todo joelho no Céu, na Terra e nos Infernos. Eis aqui vosso Deus sob a mão de quem cairá vossa alma. Vós O desprezareis como tendes desprezado seus servidores?”

Estremecendo da cabeça aos pés, o duque caiu, rolou pelo chão, espumou pela boca soltando estridentes gemidos. Então, o varão de Deus mandou-lhe que se levantasse e disse: “O Bispo de Poitiers que expulsastes de sua igreja está aqui. Ide reconciliar-vos com ele, dando-lhe o ósculo da paz!” Imediatamente, Guilherme X ergueu-se e cumpriu a ordem.

A partir de então, o Duque da Aquitânia levou uma vida penitencial em reparação de seus pecados. Algum tempo depois, fez uma peregrinação a Santiago de Compostela e, rezando diante da imagem do Apóstolo São Tiago, o Maior, entregou sua alma a Deus. Era o dia 9 de abril de 1137, uma Sexta-Feira Santa. Guilherme X estava com 38 anos de idade.

Fragorosa derrota do Rei da Sicília

A praga do cisma se espalhava por várias regiões italianas. Roger II, Rei da Sicília, e até mesmo a Abadia beneditina de Monte Cassino aderiram ao antipapa. Inocêncio II chamou São Bernardo a fim de combater os propugnados do erro.

Roger II havia tomado a ferro e fogo diversas localidades do Sul da Itália. O Duque de Pouille, ardoroso defensor do Papa, opôs resistência ao invasor.

Estando as tropas de ambos frente a frente, São Bernardo se dirigiu ao local e declarou a Roger que deveria renunciar a seu erro e fazer a paz, pois do contrário seria vergonhosamente derrotado. Mas ele desprezou essa predição, dizendo que seu exército era muito mais numeroso do que o de seu adversário.

O Santo subiu a uma montanha vizinha e se pôs a rezar. O rei cismático iniciou o ataque e foi fragorosamente vencido pelo duque católico. Terminada a batalha, este último foi ao lugar onde se encontrava o Santo, prosternou-se diante dele e bradou: “Dou graças a Deus e a seu fiel servidor, porque não foram nossas forças que nos propiciaram a vitória!” Em seguida, montou em seu cavalo e continuou a perseguir o rei que fugia vergonhosamente.

Roger foi para Salerno – Sudoeste da Itália, às margens do Mar Tirreno – e promoveu em seu palácio uma conferência entre representantes do antipapa e de Inocêncio II, entre os quais São Bernardo. Houve um intenso debate no qual o Abade de Claraval provou que o verdadeiro Papa era Inocêncio, e quase todos os cismáticos o reconheceram. Mas o Rei da Sicília não se dobrou…

Havia nessa cidade um homem nobre e muito conhecido que sofria de uma doença, a qual os médicos da Escola de Medicina de Salerno – a primeira fundada na Europa durante a Idade Média – não conseguiam curar. Avisado em sonho de que São Bernardo poderia restaurar sua saúde, ele bebeu a água com a qual o varão de Deus lavara suas mãos e ficou imediatamente curado. Esse milagre repercutiu em toda a região, mas Roger II permaneceu em seus erros.[3]

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. Maria Santíssima! O Paraíso de Deus revelado aos homens. São Paulo: Arautos do Evangelho. 2020, v. III, p. 81.

[2] ROHRBACHER, René-François. Histoire universelle de l’Église Catholique. Paris : Louis Vivès. 1901, v. 7, p. 606.

[3] Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1879, v. 26, p. 330-366; ROHRBACHER. Op. cit., v. 7, p. 593-618.

 

 

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