O que está acontecendo nas escolas?
Além da ameaça externa, a situação interna das escolas vai de mal a pior. Ano a ano essa situação se deteriora mais, e são registrados aumentos nos índices de violência, quase sempre provocada por bullying e desentendimentos entre os alunos, mas que atinge também professores e servidores.
Redação (26/04/2023 10:33, Gaudium Press) No fim de março, a notícia de uma professora morta a golpes de faca por um aluno de 13 anos, numa escola pública de São Paulo, chocou o país. As pessoas mal tinham digerido o acontecimento, quando outra tragédia foi divulgada: um jovem invade uma creche em Blumenau, SC, e mata quatro crianças com menos de sete anos de idade com uma machadinha. O que está acontecendo? Em que tempo estamos vivendo?
Este não foi o primeiro crime desse tipo no Estado de Santa Catarina. Em maio de 2021, um jovem de 18 anos, armado com um facão, invadiu uma creche e matou três criancinhas, uma professora e uma agente educacional.
Em 2019, um adolescente e um homem encapuzados atacaram uma escola em Suzano e mataram sete pessoas, sendo cinco alunos e duas funcionárias. Em seguida, um dos assassinos atirou no comparsa e se suicidou. Antes de invadirem a escola, já tinham matado o tio do adolescente.
Em outubro de 2017, oito crianças e uma professora morreram após um segurança colocar fogo em uma escolinha em Janaúba, no Norte de Minas Gerais.
Notícias assim costumavam chegar aqui, porém, vindas de fora, ocorridas em outros países. Tragédias que tínhamos a impressão de que nunca viriam a acontecer em nossa pacífica nação, mas que estão acontecendo e espalhando pânico.
Fatos isolados ou uma nova tendência?
Na internet circulam ameaças de novos ataques. Pais assustados, professores, funcionários de escolas e estudantes em pânico. O que devemos esperar? Devemos encarar esses crimes como fatos isolados ou como uma nova tendência coordenada pelo tenebroso mundo das trevas? Como podemos nos proteger e as nossas crianças?
Tomando como ponto de partida o caso do estudante que matou a professora a facadas, no dia 27 de março, o MEC divulgou a criação de um plano de combate à violência para tratar dos ataques às instituições de ensino.
No entanto, a discussão não é nova. Em 2014, a diretora da Unesco no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, dizia que “a violência nas escolas não é um fenômeno intramuros, isolado, mas um fenômeno que reproduz a violência na sociedade”.
Mandar os filhos para a escola é uma obrigação dos pais, cujo não cumprimento pode ensejar punições quando denunciado ao Conselho Tutelar e levá-los a responderem pelo crime de abandono intelectual, previsto no Código Penal.
Entretanto, não é novidade para ninguém que muitos pais temem mandar os filhos para a escola, sobretudo por ainda circularem os boatos de novos ataques. O que fazer? Como agir?
Escolas do Brasil estão entre as mais violentas
Além da ameaça externa, a situação interna das escolas vai de mal a pior. Ano a ano essa situação se deteriora e são registrados aumentos nos índices de violência, quase sempre provocada por bullying e desentendimentos entre os alunos, mas que tem atingido professores e servidores. Pesquisas revelam um grande aumento em tais ocorrências.
Num estudo feito com 5.300 professores de todo o território nacional, 80% disseram já terem sido vítimas de algum tipo de agressão, sendo a maioria violência verbal, seguida de violência psicológica e, ao menos 7% dos profissionais, já teriam sido agredidos fisicamente.
De acordo com dados do sistema que controla as ocorrências escolares, são registradas, em média, 108 ocorrências de agressão física a cada dia letivo só nas escolas de São Paulo. E isso não é muito diferente em outros Estados.
Num levantamento global da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado no ano de 2019, o Brasil ostentava um dos índices mais altos do mundo no ranking de agressões contra professores. Foram entrevistados 250 mil professores e líderes escolares de 48 países. O resultado do estudo detectou que 28% dos diretores escolares brasileiros testemunharam situações de intimidação ou bullying entre alunos.
Semanalmente, 10% das escolas brasileiras registram episódios de intimidação ou abuso verbal contra educadores, ao passo que a média internacional é de 3%, e a média dos professores que disseram ter sido vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana é de 12,05%. A média global é de 3,4%.
Os tipos de violência mais comuns contra professores são: agressão verbal, assédio moral, bullying, discriminação, furto/roubo, agressão física e assalto à mão armada.
Afinal, quais são as causas dessa violência?
Para tentar explicar essa violência, foi apresentado um conjunto de motivos que variam de acordo com o contexto em que as instituições estão inseridas. Um professor, falando sobre o assunto, afirmou que se deve levar em consideração a realidade vivenciada pelos indivíduos, como o convívio doméstico, familiar e social.
Vários estudiosos concordam que a exposição à violência e maus-tratos no ambiente doméstico contribui para o aumento da violência nas escolas, o que seria uma reprodução da vivência familiar.
A situação é bastante séria e não se pode dar respostas genéricas e simplórias a ela, mas a grande questão é que a educação se perdeu, o respeito e o senso de hierarquia se perderam, ou melhor, foram perdidos antes em casa, na família.
A função de educar pertence, primordialmente, aos pais, que acabaram por transferi-la para a escola; e os filhos, negligenciados e indisciplinados, ao serem confrontados por qualquer tipo de hierarquia e autoridade, não suportam isso e se comportam de forma agressiva e violenta. Se estão acostumados a vivenciar violência e desrespeito em suas casas, isso se torna ainda um pouco pior.
Seja pelo fato de crianças e adolescentes não saberem qual é o seu lugar na dinâmica da vida, provocando situações de agressividade com os colegas, professores e outros agentes da educação, ou pelo fato de a toda hora aparecer um louco invadindo escolas e creches, ferindo e matando professores e crianças, comprovamos que já não existe tranquilidade para que os pais possam mandar seus filhos para a escola.
Tragam Deus de volta
Precisamos admitir que as gerações atuais são fruto das gerações que foram mais prejudicadas pelos ditos avanços culturais, a partir das revoluções do século XX. Quando os herdeiros dessas gerações que aprenderam a se rebelar também se tornaram pais, estes já não sabiam qual era o seu papel e geraram filhos que tampouco sabem o seu, e acabaram por envolver os professores nessa rede de ignorância, numa sociedade em que todos são, ao mesmo tempo, culpados e vítimas.
O que vou dizer agora pode parecer retrógrado e incômodo, mas, quando Deus foi tirado de casa, foi tirado da escola, da cultura, do Estado, da educação, restou somente uma multidão de adultos e crianças perdidos que já não sabem qual é o seu papel na vida. Como resultado vemos o ódio, a violência e os crimes hediondos que nos chocam. Infelizmente, muitos deles cometidos contra pequenos seres que ainda nem tinham consciência de si.
Se os pais se conscientizassem de que estão abaixo de Deus e acima dos seus filhos e, simplesmente exercessem o seu papel de pais, muitos dissabores seriam poupados aos educadores; muitas crianças aprenderiam a lição da hierarquia e não teriam dificuldade em obedecer, seguir regras e respeitar os mais velhos.
Tragam Deus de volta para casa, para as escolas, para o Estado e verão o mundo se transformar, e o milagre da diminuição da violência acontecer.
Por Afonso Pessoa
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