China nomeia bispo para a Diocese de Xangai sem reconhecimento do Vaticano
Dom Joseph Shen Bin, 52, até então Bispo de Haimen, tomou posse como o novo Bispo da maior cidade chinesa. O clero local expressa desacordo.
Redação (05/04/2023 09:54, Gaudium Press) O Asia News noticiou que a Diocese de Xangai havia endereçado um comunicado aos sacerdotes diocesanos, convidando-os para a posse do novo líder daquela jurisdição. Curiosamente, o convite não mencionava o nome do novo bispo.
Ontem, dia 4 de abril, conheceu-se, afinal, o nome do novo bispo: Dom Joseph Shen Bin, de 52 anos, até então Bispo de Haimen. A cerimônia de posse do novo Bispo da Diocese de Xangai ocorreu na catedral. Segundo o diretor da Sala de Imprensa Vaticana, Matteo Bruni, “a Santa Sé tinha sido informada dias atrás da decisão das autoridades chinesas” de transferir o bispo e “soube pela mídia da tomada de posse”.
Dom Shen Bin é um bispo reconhecido pela Santa Sé, desde a sua ordenação em 2010, mas não deixa de suscitar críticas entre os católicos, entre outras razões, por ser o chefe do Conselho dos Bispos Chineses, uma espécie de Conferência Episcopal, órgão não reconhecido pela Santa Sé e vinculado ao Partido Comunista Chinês. Dom Shen Bin é também um dos 11 representantes católicos – e está entre os vice-presidentes – da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CPCPCC), órgão político que, juntamente com outros, formaliza as decisões do executivo.
Uma sé vacante, um bispo preso
A sede de Xangai está vacante desde a morte do bispo Dom Joseph Fan Zhogliang, em 2014, e o falecimento, em abril de 2013, de Dom Aloysius Jin Luxian.
Em 2012, Dom Thaddeus Ma Daqin foi nomeado bispo coadjutor de Xangai (bispo com direito a sucessão), mas, imediatamente após a sua ordenação episcopal, foi colocado em prisão domiciliar (no seminário Sheshan) por renunciar à Associação Patriótica oficial – que supervisiona a Igreja na China em nome do governo. Embora este bispo tenha retornado posteriormente a esse órgão dependente do Partido Comunista, o governo não o reconhece como bispo da diocese e os fiéis não têm a oportunidade de se encontrar com ele.
E agora ocorre a posse de Dom Shen Bin, cuja nomeação só foi revelada no dia da cerimônia para evitar a possibilidade de protestos contra a sua posse, explicou um clérigo chinês ao The Pillar. Este mesmo sacerdote, que é próximo ao bispo Shen, declarou à mídia americana que os presbíteros locais em Xangai estão frustrados com o fato de Shen ter sido empossado sem o reconhecimento do Vaticano.
Outro sacerdote comentou ao The Pillar que o fato de Shen ter se colocado acima das normas, em virtude de sua influência como presidente da conferência episcopal ilícita, e ter se autoproclamado bispo de Xangai não é totalmente bem-vindo pelos fiéis locais.
A verdade é que a nomeação do novo Bispo de Xangai não consta no boletim oficial da Santa Sé. Um funcionário anônimo do Vaticano próximo à Secretaria de Estado ressaltou ao The Pillar que a designação “não se originou na Santa Sé”; foi uma “ação lamentável” das autoridades chinesas.
“Esta não é a mesma situação do bispo Peng”, continuou o funcionário, referindo-se a uma nomeação episcopal na China, em novembro de 2022, na qual um bispo diocesano em exercício deixou sua sé vacante para se tornar bispo auxiliar de uma diocese que o Vaticano não reconhece, “mas continua sendo algo que não ajuda.” Esta nomeação de Dom Peng foi denunciada pelo Vaticano às autoridades chinesas como uma violação do Acordo Sino-Vaticano sobre a nomeação de Bispos.
Permanece a expectativa de saber se a atual nomeação do bispo de Xangai também será objeto de denúncia. Entretanto, esta ação aumenta as vozes que dizem que o Acordo entre a Santa Sé e a China comunista de 2018 não impediu a perseguição aos católicos e, pelo contrário, permite um maior controle das autoridades comunistas sobre a Igreja.
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