Quaresma: tempo propício para confessar
A cada período litúrgico nos são reservadas graças especiais e o tempo da Quaresma convida-nos particularmente à penitência e ao arrependimento.
Redação (23/03/2023 11:03, Gaudium Press) Se existisse um centro de saúde que contasse com médicos capazes de curar qualquer enfermidade, não seriam necessárias propagandas para torná-lo o mais concorrido do mundo. Decerto, a demanda obrigaria a determinação de regras para evitar desordens e favorecer o maior número possível de pacientes; esforço algum seria poupado a fim de se obter um atendimento, e o simples fato de possuir uma vaga segura na fila de espera, por mais longa que esta fosse, seria motivo de tranquilidade e de paz para aqueles que julgam encontrar na saúde do corpo a felicidade perfeita…
“Se tu também compreendesses hoje o que te pode trazer a paz!” (Lc 19, 42): esta amorosa lamentação de Nosso Senhor pode ser aplicada àqueles que se preocupam apenas com o bem-estar físico e descuidam da própria alma! Na vida terrena, é mais importante manter-se na graça de Deus que conservar qualquer bem passageiro.
É verdade que Jesus está disposto a nos curar de enfermidades corporais, e isso atestam as inúmeras curas operadas por Ele nos Evangelhos; não esqueçamos, porém, que, além de restituir a saúde, o Redentor convidava a não pecar mais (cf. Jo 5, 14).
O pecado, o pior dos males
Ao contemplar o Divino Chagado em sua Paixão, ficamos perplexos! Aquele que passou pelo mundo fazendo o bem, foi traído por um de seus discípulos, desfigurado com suplícios inenarráveis e morto na Cruz. Quiçá entre os que O açoitavam figurasse um que fora paralítico; entre os que bradavam pedindo sua Morte, outro que fora mudo ou até mesmo alguém que, tendo morrido, recebera novamente a vida… Entretanto, todos clamavam: “Crucifica-O, Crucifica-O!”, preferindo salvar um assassino ao Filho de Deus. É na Paixão que o pecado manifesta o grau mais alto de sua violência e de sua multiplicidade.
Quem pode entender o pecado? (Sl 18, 13), Sem dúvida, é ele a pior das enfermidades a que todos estamos sujeitos em decorrência de nossa natureza decaída. Mas o Divino Redentor a tal ponto deseja revigorar nossas almas de preferência aos nossos corpos, que legou à Igreja não “algo ao estilo de um caixa automático para sarar doenças, em que os enfermos se ajoelhem e saiam restabelecidos. Instituiu, isto sim, o Sacramento da Penitência”, dom inestimável que nossa inteligência não pode compreender inteiramente.
A sublimidade da Confissão
Na Antiga Lei, de nada valia acusar-se ao sacerdote e tampouco era possível obter a certeza do perdão. Estavam prescritos os mais diversos holocaustos pelos pecados, mas nem a totalidade desses sacrifícios “somados e multiplicados por si mesmos, seria capaz de perdoar tão só uma falta venial. Nem sequer a Nossa Senhora, com todos os seus méritos, seria isso possível!”
Após a Paixão, porém, estando os Apóstolos reunidos a portas fechadas, Jesus lhes apareceu por primeira vez, soprou sobre eles e lhes conferiu este poder divino: o de perdoar ou reter os pecados (cf. Jo 20, 23). E na Confissão, quando o sacerdote, traçando uma cruz, pronuncia a fórmula “Eu te absolvo dos teus pecados…”, “é este mesmo sopro de Jesus Cristo que se prolonga para restituir à alma do penitente a vida divina perdida pelo pecado mortal”.
Se o pecado mortal nos faz inimigos de Deus, a Confissão bem feita, ao contrário, produz uma verdadeira ressurreição: devolve à alma a graça santificante e a filiação divina, apaga a falta, perdoa a pena eterna, restitui as virtudes e os méritos, confere a graça sacramental específica e reconcilia o penitente com a Igreja.
Cabe ressaltar que não são apenas aqueles que incorreram em pecado mortal os que devem buscar a Confissão. Também as almas que caíram somente em faltas leves podem se beneficiar sempre deste Sacramento, pois ele confere vigor e graças específicas que auxiliam a vitória sobre os pecados cometidos e diminuem as más inclinações.
Comentava Dr. Plinio: “Cada pessoa que sai do confessionário é um herói que se levanta com força suficiente para não pecar mais, capaz de empreender o combate, ainda que sejam prodigiosas as batalhas morais que tenha de travar”.
O ódio do demônio contra o milagre da misericórdia
A riqueza deste manancial de misericórdia é muito desconhecida! Aquilo que o demônio conquista pelo pecado, ele o perde no Sacramento da Penitência e, por isso, procura de todos os modos nos afastar da Confissão. A alguns ele incute medo; a outros, impressão de que o sacerdote ficará horrorizado com suas faltas…
É preciso estar sempre vigilantes, pois o inimigo de nossa salvação age assim até com almas muito virtuosas, como narra Santa Faustina Kowalska em seu Diário:
“Quando comecei a me preparar para a Santa Confissão, fui acometida por fortes tentações contra os confessores. Eu não via o demônio, mas sentia-o, e a sua terrível ira. […] Sentia que estava lutando com poderes e exclamei: ‘Ó Cristo! Vós e o sacerdote sois o mesmo; eu me aproximarei do confessor como de Vós, não como de um homem’. Quando me aproximei do confessionário, primeiramente desvendei as minhas dificuldades. […] Depois da Confissão todas elas sumiram, e a minha alma sentia-se em paz”.
E, a esta mesma Santa, Nosso Senhor pediu:
“Diz às almas onde devem procurar consolos, isto é, no tribunal da misericórdia, onde continuo a realizar os meus maiores prodígios, que se renovam sem cessar. Para obtê-los não é necessário empreender longas peregrinações, […] mas basta aproximar-se com fé dos pés do meu representante e confessar-lhe a própria miséria. […] Ainda que a alma esteja em decomposição como um cadáver, e ainda que humanamente já não haja possibilidade de restauração e tudo já esteja perdido, Deus não vê as coisas dessa maneira. O milagre da misericórdia de Deus fará ressurgir aquela alma para uma vida plena. Ó infelizes, que não aproveitais este milagre da misericórdia de Deus! Clamareis em vão, pois já será tarde demais”.
A Quaresma, tempo propício para confessar
Quem nunca experimentou a consolação da alma que sai do confessionário certa de haver sido perdoada pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, não conhece uma das maiores felicidades que nesta vida se pode ter! A cada período litúrgico nos são reservadas graças especiais e o tempo da Quaresma convida-nos particularmente à penitência e ao arrependimento.
Peçamos, pois, a Nossa Senhora, Advogada dos Pecadores, que nos auxilie a aproveitá-las ao máximo, pois o Divino Prisioneiro, que está sempre à nossa espera na Hóstia Sagrada, de forma distinta também nos aguarda no Sacramento da Penitência, desejoso de nos perdoar e de nos cobrir com seus afagos!
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 243, março 2022. Por Ir. Maria Teresa de Melo Aquino, EP.
Deixe seu comentário