Por que algumas igrejas cobrem as imagens durante a Quaresma?
Este costume, que é praticado em alguns lugares a partir do Domingo de Ramos até a Vigília Pascal, contém vários significados e honra uma tradição que se originou no século XVII.
Redação (03/03/2023 10:09, Gaudium Press) A visão de um templo católico com todas as suas imagens cobertas com panos cor púrpura pode ser uma experiência impactante para alguns fiéis, acostumados, como é natural, com a beleza empregada pela Igreja para transmitir uma ideia da grandeza de Deus. Este costume, que é praticado em alguns lugares a partir do Domingo de Ramos até a Vigília Pascal, contém vários significados e honra uma tradição que se originou no século XVII.
Quando Deus ocultou Sua glória
Segundo o Padre Ryan Erlenbush, da Paróquia Corpus Christi em Great Falls (Estados Unidos), este costume “é certamente permitido”, embora não seja obrigatório na liturgia da Igreja, e está voltando a ser praticado em vários locais. O sacerdote recordou diversas origens e significados da prática, sempre relacionados com os fatos históricos da Paixão e Morte de Jesus Cristo.
Uma interpretação pode ser a ocultação da glória de Deus durante os trágicos acontecimentos da Paixão, segundo os escritos do Abade Prosper Guéranger (século XIX): Esta cerimônia “expressa a humilhação a qual Nosso Salvador foi submetido, conforme é relatado no Evangelho do Domingo da Paixão do Senhor” (Domingo de Ramos). De fato, o momento mais usual para cobrir as imagens são as vésperas da dita solenidade.
Reviver o mistério do sofrimento de Cristo
Os católicos, explicou o Padre Erlenbush, veneram a Cruz como um sinal de vitória, mas também de humilhação e sofrimento. O cobrir esta e outras imagens contribui para reviver o mistério do sofrimento de Cristo, quando “a divindade de nosso Salvador foi quase totalmente eclipsada, tão grande foi o seu sofrimento”, comentou. “Da mesma forma, até mesmo a sua humanidade foi obscurecida, tanto que poderia se dizer através do profeta ‘Mas eu sou um verme e não um homem, os homens têm vergonha de mim e o povo me despreza’” (Salmo 22). A cor transmite o sentido penitencial, sóbrio e doloroso dos acontecimentos celebrados pela Igreja.
Alguns antecedentes da prática se encontram na Alemanha do século IX, quando se cobria o altar até a leitura da Paixão, no momento em que se narrava que “o véu do templo se rasgou em dois”. A prática contribuiria para aumentar a identificação do tempo da Quaresma. Outros, segundo recorda o Padre Edward McNamara, Professor de Liturgia na Pontifícia Universidade Regina Apostolorum, propõem que a tradição de cobrir as imagens era uma extensão das práticas de penitência pública da Igreja nos séculos passados. O restringir o símbolo à Semana da Paixão seria um uso posterior que foi finalmente incluído no Cerimonial dos Bispos do século XVII.
Ausência da Celebração Eucarística na Sexta-feira Santa
Um sentido adicional mencionado pelo Padre Erlenbush estaria ligado à ausência da Celebração Eucarística na Sexta-feira Santa. “Neste tempo no qual entramos misticamente nas realidades históricas dos últimos dias de Jesus, não é adequado ter uma imagem, sinal ou sacramento da Cruz apresentado aos fiéis”. A identificação da Eucaristia com a Paixão de Cristo é o motivo oferecido por São Tomás de Aquino para explicar a ausência da Eucaristia na Sexta-feira Santa, já que se trata do mesmo mistério que se revive sacramentalmente. “De uma maneira análoga, é conveniente que, como o ano litúrgico recorda os acontecimentos que levaram à crucificação, a Igreja oculte as imagens da Cruz da visão dos fiéis”, concluiu o sacerdote. (EPC)
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