Desconstruindo Deus
Não bastavam os ataques à Igreja, agora começa também a tentativa de desconstrução do próprio Deus. Ninguém é obrigado a ser religioso, ninguém é obrigado a ter fé, mas todos são obrigados a respeitar a fé dos que a têm.
Redação (27/02/2023 11:34, Gaudium Press) O pecado é algo verdadeiramente surpreendente. Ele vai avançando e invadindo várias áreas, de maneira cada vez mais ousada. Deparamos-nos com algumas que parecem superar todo o limite da compreensão humana e pensamos: “Estamos próximos do fim dos tempos, nada pode ser pior do que isso!”, mas logo aparece algo terrivelmente pior, que consegue nos surpreender ainda mais. Podemos dizer que o pecado se supera continuamente.
Um exemplo disso é o movimento da Igreja da Inglaterra, matriz da comunidade anglicana, que discute o uso da linguagem neutra nas referências a Deus. De acordo com um artigo escrito por Sharon Jagger, professora de Religião da Universidade York St. John, o domínio do gênero masculino para se referir a Deus é um tema que vem sendo discutido cada vez mais, e a Igreja Anglicana pretende explorar o uso de palavras alternativas para descrever Deus, depois que alguns clérigos pediram para usar uma linguagem mais inclusiva nos cultos: “Falar sobre o Deus cristão em termos exclusivamente masculinos privilegia os homens na sociedade e sustenta o domínio masculino”.
De acordo com um porta-voz da Igreja Anglicana, “Deus não tem gênero para a doutrina cristã oficial. No entanto, “Ele” é descrito quase exclusivamente em termos masculinos. E como a igreja continua a lutar com questões de igualdade de gênero, o projeto provavelmente tende a se estender”.
Querem um Deus sem gênero
A proposta é deixar de se referir a Deus como “Ele” e “Pai”, e passar a usar elementos da linguagem neutra para fazer referência a Deus. Em vez de “Father” (Pai, em inglês), os anglicanos passariam a usar a palavra “Parent”, que designa genitores, podendo ser aplicada a cada um deles, independente de ser do sexo masculino ou feminino.
Contudo, há propostas mais ousadas: mudar a referência de “He” (Ele) para “She” (Ela), defendida por Libby Lane, a primeira “bispa” mulher da Igreja da Inglaterra, que, desde a sua nomeação, em 2014, argumenta a favor da aceitação do uso de pronomes femininos para se referir a Deus.
Rachel Treweek, consagrada bispa em 2015, juntou-se ao debate defendendo a eliminação de todos os pronomes de gênero para Deus. O assunto foi discutido na Comissão Litúrgica do Sínodo Geral da Igreja Anglicana, que aconteceu no início de fevereiro, na Abadia de Westminster, em Londres, ocasião em que foi aprovada a bênção religiosa para a união de casais do mesmo sexo. Todavia, dada a complexidade do tema, a discussão terá continuidade em outras edições do sínodo, sobretudo porque ainda há controvérsias a respeito, envolvendo uma parcela do clero, contrária às mudanças e grande parte dos 85 milhões de fiéis.
Mudanças na liturgia
No Sínodo Geral, a reverenda Joanna Stobart questionou se havia medidas para “desenvolver uma linguagem mais inclusiva na liturgia da Igreja”. A líder religiosa defende que a Igreja Anglicana deva “proporcionar mais opções para aqueles que desejam usar a liturgia autorizada e falar de Deus de forma não sexual, particularmente em absolvições, onde muitas das orações oferecidas para o uso se referem a Deus usando pronomes masculinos”.
Em seu artigo, a professora Jagger menciona uma pesquisa com mulheres que fazem parte do clero, na qual algumas delas afirmaram não se sentir confortáveis com o fim da linguagem masculina tradicional. E uma “vigária” afirmou que houve muita controvérsia e confusão quando, durante um estudo bíblico, alguém sugeriu que a oração do Pai-Nosso começasse com as palavras “Mãe Nossa”. Uma sacerdotisa disse que vê “Father” (Pai) como a única forma de descrever Deus, mas acrescentou: “Pode ser que as ideias sobre a paternidade precisem ser mudadas”…
Fica claro que o artigo da professora de religião é bastante tendencioso, expressando a própria concordância dela com as alterações propostas por parte do clero, e ela chega inclusive a dizer que: “Dado o histórico da instituição, qualquer mudança radical resultante desse projeto seria um milagre.” E justifica os seus argumentos, afirmando que “a discussão sobre o uso de linguagem neutra para descrever Deus é, no mínimo, um reconhecimento de que o domínio da linguagem masculina é um problema” e que “uma reforma da linguagem patriarcal pode abrir as portas para enfrentar outras injustiças sociais”.
E conclui com um tom positivo à causa ao afirmar: “Talvez estejamos testemunhando o começo de uma mudança radical na igreja”, justificando que “muitos gostam da possibilidade de frequentar a igreja sem ouvir as constantes referências a “Ele” e “Pai”, visto que Deus deve estar além do gênero”.
Não se trata da Igreja Católica – ainda
Que fique bem claro que não estamos falando da Igreja Católica, mas de uma dissidência dela, ocorrida em 1534, quando o rei Henrique VIII aproveitou um conflito pessoal com o Papa, que se recusou a anular seu matrimônio de 20 anos com Catarina de Aragão para que ele pudesse se casar com uma amante, para criar uma igreja separada de Roma.
Entretanto, eu trago a lume esse assunto absurdo porque, se isso se concretizar lá, não demorará a respingar na Igreja Católica, a única criada por Nosso Senhor Jesus Cristo, cujos detratores tentam fazer de tudo para macular. E esse movimento não é pequeno, não se trata de uma chama de vela aqui, outra acolá, mas de um rolo compressor que está destruindo os valores da sociedade, da educação e tentando –infelizmente com sucesso – formar uma geração sem identidade.
Pecado por omissão
Apesar de discordar totalmente do uso – e da oficialização do uso – da linguagem neutra, que cria problemas linguísticos e culturais, sobretudo considerando as anomalias presentes nessa linguagem acéfala que, provavelmente, em breve será aprovada em nosso país, eu não a discuto para evitar controvérsias desnecessárias e enfadonhas e por respeitar quem pensa diferente, mesmo que eu discorde dessa linha de pensamento.
No entanto, se eu me calar diante da aberração de se usar termos neutros para se referir a Deus, tentando descaracterizar o próprio “Pai-Nosso” que, longe de ser uma construção linguística patriarcal, é a oração por excelência, ensinada pelo próprio Cristo, eu estarei pecando gravemente por omissão.
Esse radicalismo ideológico já tentou outras ações, como alterar partes do texto das Sagradas Escrituras, macular a pessoa santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo tentando atribuir a Ele características de uma sexualidade degenerada e questionar a pureza da Virgem Maria. Agora, tentam desconstruir o próprio Deus.
Deixem Deus fora disso!
Ninguém é obrigado a ser religioso, ninguém é obrigado a ter fé, mas todos são obrigados a respeitar a fé dos quem a têm. Que façam suas escolhas, mudem suas identidades, defendam suas bandeiras, vivam suas vidas da forma que quiserem, mas deixem Deus fora disso!
Eu não apenas me indigno com esse tipo de coisa, eu me entristeço e me envergonho. A impiedade chegou a tal ponto que sinto vergonha de me ajoelhar diante de Deus e dizer: “É verdade, Senhor, nós somos humanos, somos suas criaturas e alguns de nós estão fazendo isso. Sinto muito, Senhor!”
Eu sou apenas uma pequena voz e, mesmo me juntando a outras, ainda seremos minoria diante de uma agenda ideológica que não respeita nada e não se detém diante de nada. Tudo o que posso fazer, estou fazendo: denunciar esse plano macabro e oferecer as minhas penitências durante a Quaresma em reparação a essa ofensa a nosso Pai e Criador.
Há uma canção, que ficou muito conhecida na voz do Monsenhor Jonas Abib, que diz: “Somos, Senhor, Tua Igreja que aguarda e apressa Tua vinda gloriosa. Que o Senhor nos encontre em paz, puros e santos. […] Que a santidade da minha vida apresse o Senhor e Ele logo virá”.
Sim, nós devemos fazer tudo para ter uma vida santa, mas, certamente, não será a nossa santidade que apressará a vinda de Cristo, e sim esse refinamento do pecado e o nível cada vez mais pesado das ofensas feitas a Deus. Ele virá e, como diz a música, provavelmente não tardará, porque a humanidade está atingindo o nível extremo de sua degradação.
Em breve, no Brasil e em outras partes do mundo, a linguagem poderá ser neutra, mas a postura do cristão jamais. Está chegando o momento de darmos o nosso testemunho, e são situações como essa que iremos enfrentar. Estejamos preparados, porque, em muito pouco tempo, a minoria seremos nós e, ao contrário do que acontece hoje, seremos uma minoria que ninguém defenderá.
Por Afonso Pessoa
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