A carta dolorosa e profética que os “nicaraguenses no exílio” enviaram ao Papa no ano passado
Em agosto do ano passado, uma carta foi endereçada a Francisco por organizações da sociedade civil e exilados. Eles já temiam pelo destino do bispo Dom Álvarez.
Redação (15/02/2023 09:31, Gaudium Press) Em agosto do ano passado, quando começava a provação de Dom Rolando Álvarez, que hoje chega ao seu ápice, um grupo de organizações da sociedade civil e exilados da Nicarágua escreveu uma Carta ao Papa Francisco.
Dada a atualidade que ela hoje tem devido às sombrias condições carcerárias do Bispo de Matagalpa, destacamos algumas partes.
Os remetentes se definiam como um grupo de “cidadãos nicaraguenses forçados a viver no exílio”, que clamavam a Francisco por sua ajuda.
Eles o faziam como “vítimas da violência oficial de um Estado sob o controle e dominação de Daniel Ortega, sua esposa Rosario Murillo e seus seguidores cegos”. Eles o faziam por causa de seu “desespero”, em seus nomes, mas também “em nome de dezenas de milhares de nicaraguenses que – dentro do território da Nicarágua, vivem sob ansiedade e ameaças permanentes por medo de represálias – não poderão colocar suas assinaturas neste documento”.
“Sentimo-nos comovidos e indignados com as imagens que vimos no dia da festa de São João Maria Vianney, em que Dom Rolando José Álvarez, Bispo da Diocese de Matagalpa e Administrador Apostólico da Diocese de Estelí, aparece rodeado de agentes da Polícia Nacional, ajoelhado com o Santíssimo Sacramento em suas mãos depois de ter sido impedido de entrar no templo para celebrar os serviços religiosos daquele dia. A Polícia havia notificado que estava investigando Dom Álvarez e o havia colocado em prisão domiciliar. Temos medo do que possa acontecer com ele”, afirmaram.
Depois de mencionar as humilhações sofridas pelo Pe. Uriel Vallejos, também da diocese de Matagalpa, os ataques das forças sandinistas às “estações de rádio operadas pela Igreja Católica”, o cancelamento de “1.174 organizações da sociedade civil” -“entre elas diversas organizações religiosas que dão alento à população mais empobrecida” entre as quais as “Missionárias da Caridade” -, a perseguição ao Bispo Silvio Báez e ao Pe. Erwin Román exilados na Flórida, afirmaram não saber “quantos mais serão obrigados a seguir esse também forçado caminho” de exílio.
“A Igreja, seus templos e imagens sagradas sofreram ataques terroristas que não foram investigados ou esclarecidos pelas autoridades. O mais terrível de todos, o atentado com bombas incendiárias que destruiu a venerada imagem do Sangue de Cristo na Catedral de Manágua, em um passado recente.
“Desde abril de 2018, mais de 380 nicaraguenses perderam a vida assassinados por paramilitares, vítimas da repressão do Estado, conforme atestam organismos internacionais de defesa dos direitos humanos. Atualmente, mais de 180 irmãos e irmãs são presos políticos, encarcerados injustamente pelo regime de Ortega-Murillo, apenas por serem opositores e quererem expressar livremente seus pensamentos”, declararam.
Medo pelo destino do Bispo de Matagalpa
“Tememos pela vida de Dom Álvarez” e de outros presos políticos”, advertiram.
“A perseguição e o ódio do regime contra a Igreja Católica não têm justificativa. Seus pastores têm apenas cumprido o mandamento de amor e conforto aos mais fracos e oprimidos. Seus bispos são acusados de cúmplices de uma tentativa de golpe, quando na realidade o que fizeram foi buscar uma solução pacífica e democrática para a profunda crise que assola o país”.
“Nossos pastores não podem ser acusados de terem promovido golpe. A Igreja da Nicarágua está sendo perseguida e martirizada por um regime que se diz cristão e católico, que manipula as manifestações externas da religiosidade e devoção mariana para fins políticos e com isso ofende a fé católica.
Concluíram clamando, como nacionais de “um país pequeno e empobrecido”, mas que “só querem viver em paz e ter liberdade”: “Sua Santidade Francisco, por tudo o que dissemos e por toda a dor vivida na Nicarágua, nós vos rogamos, nós vos imploramos: “Não nos deixeis sozinhos.” Não nos deixeis sozinhos agora. Ouvi a nossa palavra.”
A carta foi assinada por 59 organizações nicaraguenses, além de outras “organizações da sociedade civil e territoriais que, por estarem dentro da Nicarágua e expostas ao terrorismo de Estado, assinaram anonimamente”.
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