Preconceito antieuropeu no Vaticano?

A existência de um preconceito antieuropeu no mais alto nível do vaticano é noticiada pela maior revista italiana, Panorama.

Redação (09/02/2023 09:42, Gaudium Press) A ideia de ‘preconceito antieuropeu’ de que o Cardeal Gerhard Müller falou em seu livro ‘In buona Fede’ está ganhando força?

Vamos lembrar:

Em sua obra mais recente – na qual o cardeal alemão próximo a Ratzinger conversa com Franca Giansoldati sobre questões internas da Igreja e perspectivas para o século XXI – Müller trata sobre um ‘círculo mágico’ em torno do Papa reinante, para, em seguida, referir-se ao Arcebispo emérito de Tegucipalpa, Cardeal Rodríguez Maradiaga, que afirmou “publicamente que o Prefeito da Congregação da Fé [Müller] era o clássico professor alemão incapaz de interpretar a verdadeira realidade do povo. Também neste contexto, pode-se entrever o habitual preconceito latino-americano em confronto com os teólogos europeus ”.

Além disso, em sua obra, o cardeal de Mainz se refere especificamente a uma “forma de desconfiança” de Francisco, “de aversão aos teólogos, acadêmicos universitários alemães”, talvez relacionada ao tempo em que passou na Alemanha como jovem religioso. Também, para o cardeal Müller, esse “preconceito latino-americano” teria se manifestado na elaboração da “constituição Praedicate Evangelium [que] nasceu com um defeito de fábrica, um preconceito inicial e que abriu caminho durante o conclave que elegeu o Papa Francisco: Refiro-me ao sentimento antirromano e à prevenção em relação a Roma”.

“Desde o início, os cardeais latino-americanos insistiram neste aspecto – enfatiza o cardeal Müller em In buona Fede, e planejaram construir uma Igreja à sua imagem, em alguns aspectos até um pouco ‘partidária’, baseada em sua visão do mundo”.

Já a revista de maior circulação na Itália, Panorama, em sua nova edição, volta a fazer eco sobre o assunto, ao dizer que, após a saída do cardeal Müller do Dicastério para a Doutrina da Fé,

“Começou o turbilhão de renúncias e acusações que Francisco tem alimentado nos últimos anos. Ele expulsou o Pe. Georg [Ganswein], agora também desalojado do mosteiro Mater Ecclesiae, onde vivia com Ratzinger; expulsou o Cardeal George Pell (em seu funeral na Austrália, nesses últimos dias, vítimas de abusos fizeram manifestações), entregou ao pelourinho as acusações de pedofilia das quais o cardeal foi absolvido, mas que acabou na prisão; segundo Müller, ele acusou o cardeal Giovanni Angelo Becciu por um artigo de jornal e o condenou antes mesmo do julgamento. Hoje muitos dizem que serviu para livrar-se de um possível candidato que tem o grande defeito de ser italiano e, portanto, europeu .

É claro que essas avaliações não passam de opiniões pessoais de Carlo Cambi do Panorama, mas não deixam de ser uma amostra, refletida na principal revista do país onde se escolhe o Papa, de como os europeus podem estar se sentindo discriminados no atual regime do Vaticano.

O jornalista Cambi não assume as palavras do Papa Francisco ao voltar do Sudão sobre um entendimento pleno entre ele e Bento, mas, ao contrário, fala do “ataque que Francisco trouxe aos fundamentos teológicos de Ratzinger”, segundo indica:

“Que sua Igreja está a caminho ao sul do mundo, em direção à China, e seu eterno conclave erradica o catolicismo da Europa. Ratzinger recorda que foi Paulo, levado da Ásia Menor para a Grécia, quem trouxe a Palavra que unia fé e razão; e sublinha como o humanismo nascido de Cristo que se fez homem é o verdadeiro espírito da Europa. Uma Europa caracterizada pela ‘riqueza de ser nacional e supranacional: é a diversidade das culturas nacionais que enriquece a Europa. Além de todas as fronteiras, Roma apresentou-se acima de tudo como um centro unificador”. Mas Francisco não acredita. Existem estatísticas que dizem que a Europa é 21,2% católica: a grande maioria dos católicos está na América (48% com 28% na América Latina) e a África está crescendo (18,9 do total) e a Ásia (11%). E aí vê Bergoglio, que também entendeu algo mais: o Velho Continente está destinado à substituição étnica”.

Mais uma vez, essas são as avaliações pessoais do jornalista do Panorama. Mas atualmente começam a ser partilhadas por não poucos, com possíveis repercussões em diversos níveis. (SCM)