O pão nosso de cada dia, mas sem glúten!
Glorificamos a Deus em nossos corpos quando fazemos o que é melhor para a nossa saúde, escolhemos melhor os nossos alimentos e evitamos nos envenenar com produtos nocivos, apenas porque são mais fáceis de preparar.
Redação (05/02/2023 09:06, Gaudium Press) Vivemos numa época em que muitas práticas licenciosas e que ferem a moral se tornam normais e muitas palavras são banidas, exatamente por ferirem tais práticas. E, se sempre foi aconselhável pensarmos duas vezes antes de falar, agora é bom que pensemos umas quatro vezes pelo menos, para não falar aquilo que poderá ser mal interpretado e usado contra nós.
Dentro desse imbróglio, além da tão aconselhada prática de lermos bastante para aperfeiçoar o nosso vocabulário, agora precisamos também assistir muitos vídeos, quase sempre de gosto duvidoso, para ficarmos informados e termos domínio das palavras e expressões que podem ou não ser utilizadas.
O pão, da universalmente conhecida oração do Pai-Nosso, ensinada pelo próprio Cristo, parece estar com os dias contados, pois o alimento que nutre gerações há milênios tem se tornado um dos grandes vilões, junto com o arroz branco – que está na base da alimentação dos brasileiros e de vários outros povos –, sendo considerados os “carboidratos do mal”.
Não é de todo exagerada a afirmação de que o pão nos faz mal. Não fazia antes, mas agora faz. E a culpa não é dele, pão, o alimento sagrado que Nosso Senhor partiu e transformou em seu próprio corpo, dando-Se a nós na Eucaristia, sendo Ele próprio o Pão que veio do Céu. O problema é o que vai no pão. E, como ele é feito basicamente de água, fermento e farinha, a grande vilã é a farinha. Por causa do refinamento, além de perder a maior parte de seus nutrientes, ela pode estar na base de doenças que vão da obesidade à depressão, passando pelas inflamações, desequilíbrio da acidez do corpo e problemas digestivos.
Mas, apesar desses malefícios, comer pão com moderação não mata ninguém. Um dos grandes mitos envolvendo a farinha e, consequentemente, o pão, é o glúten, atual inimigo público número um da alimentação saudável. Contudo, será que o glúten realmente faz mal à saúde? Não, o glúten não faz mal à saúde, a não ser para as pessoas portadoras de doença celíaca ou intolerância a essa substância, encontrada em cereais como trigo, cevada e centeio, produzida a partir da combinação de dois grupos de proteínas.
No entanto, demonizou-se o glúten, que, de fato, pode ser muito nocivo a quem é alérgico ou intolerante a ele, mas que não provoca danos às pessoas saudáveis; pelo contrário, ele melhora a textura dos alimentos, ajudando na fermentação do pão, que faz a massa crescer e confere textura mais macia aos bolos.
A presença da indicação “contém glúten” em alguns produtos já o tornou o demônio do pão e transformou o pão num mau-caráter possuído por esse “espírito do mal”, quando o pobrezinho é apenas pão, o pão nosso de cada dia; para muitos, um alimento essencial. Como tudo, o problema está no excesso, no descontrole, na falta de moderação. Também já ocuparam esse lugar de vilão da culinária o ovo, o café, o vinho…
No lado oposto a esse preciosismo, estão aqueles que não se preocupam com nada. Como dizem os nutricionistas, sem perceber “adquirimos o mórbido hábito de abrir mais e descascar menos”, ou seja, passamos a comer alimentos embalados e processados, e a criar as novas doenças que nos destroem a cada dia, nos levando a consumir mais remédios que comida.
Antes, quando ainda tínhamos o hábito de andar a pé e sequer concebíamos a ideia de pegar o carro para ir à padaria que fica a três quarteirões de distância, era normal passarmos pelas casas e sentirmos o aroma gostoso da comida, e podíamos adivinhar o que a dona de casa estava cozinhando. Hoje, até o termo “dona de casa” se tornou pejorativo e ofensivo e já entrou para o rol das expressões que não se devem usar. As comidas não cheiram mais ao longe porque elas já vêm prontas e são carregadas de sabor e aroma artificiais: glutamato, benzoato, sorbato.
Existe uma ampla gama de conservantes, acidulantes, emulsificantes, estabilizantes, corantes, flavorizantes, edulcorantes, antioxidantes, espessantes, umectantes, antiumectantes. Coisas que não sabemos o que são, mas conferem beleza, cor, textura e sabor àquilo que nos é vendido como alimento e nós, que nos acostumamos a optar pelo que é fácil, prático, gostoso e causa prazer, vamos colocando tudo para dentro e entupindo o mundo com uma infinita quantidade de embalagens descartáveis que a natureza demora séculos para destruir.
Somos instruídos por especialistas da área médica e da nutrição a lermos os rótulos dos produtos, para sabermos o que estamos consumindo. Um exercício inútil, sem contar que, na maioria das vezes, as letras são minúsculas e colocadas em uma parte tão escondida da embalagem que nem conseguimos encontrar. Se não entendemos aquilo tudo, ler… para quê? A solução para a nossa saúde não é ler os rótulos e sim consumir produtos que não tenham rótulos, como banana, cenoura, mandioca etc. Mas nem mesmo isso nos dá garantias de uma vida saudável, porque viramos reféns dos fertilizantes e dos defensivos agrícolas, nome bonito para o veneno que é usado na lavoura e cujo destino final é o nosso corpo.
Mas por que falar sobre comida, se este é um veículo voltado para as notícias católicas? Porque a alimentação está diretamente ligada à religião. Em primeiro lugar, devemos nos lembrar de que Jesus Cristo, ao anunciar o Evangelho, se referiu, muitas vezes, à alimentação. Ele multiplicou pães e peixes e alimentou multidões; Ele comeu com os discípulos, ceou em casas de várias pessoas, falou sobre o banquete no Céu, transformou a Si mesmo no Pão que já nos tinha dado na oração do Pai-Nosso e, depois, no-lo deu em definitivo ao instituir a comunhão sacramental.
Ele também disse que o “o mal é o que sai da boca, e não o que entra nela”, referindo-se à crítica feita pelos escribas e fariseus de que Ele e seus discípulos comiam sem lavar as mãos. “Ao contrário, aquilo que sai da boca provém do coração, e é isso o que mancha o homem. Porque é do coração que provêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias” (Mt 15, 18-19). Ele nos deu esse ensinamento porque tudo o que vivenciava era motivo para que fizesse uma explanação e transformasse em lição para nos elevar e nos preparar para o Reino dos Céus.
Por incrível que pareça, há pessoas que se apegam a esta passagem para justificar a falta de cuidado com a alimentação e a saúde, esquecidas de que o nosso corpo é um templo sagrado, o templo do Espírito Santo, como nos ensinou o Apóstolo São Paulo, que disse ainda: “Porque fostes comprados por um grande preço, glorificai, pois, a Deus no vosso corpo” (I Cor 6, 20).
E estamos glorificando a Deus em nossos corpos quando fazemos o que é melhor para a nossa saúde, escolhemos melhor os nossos alimentos e evitamos nos envenenar com produtos nocivos, apenas porque são mais fáceis de preparar.
Estamos glorificando a Deus em nossos corpos quando não nos deixamos levar por modismos e não demonizamos o pão, seja ele o pão literal, ou o pão simbólico, que representa os alimentos que chegam à nossa mesa todos os dias, fazendo escolhas acertadas, dentro das nossas posses, procurando garantir a nossa saúde por meio de tudo o que for mais saudável, ainda que dê trabalho para preparar.
Sobretudo, glorificamos a Deus em nossos corpos quando nos abrimos para receber o maná celestial, a sagrada Eucaristia, que nos completa e nos mantém na direção certa. A hóstia consagrada é o alimento santificado que restaura nosso corpo, eleva e purifica a nossa alma.
Quanto ao glúten, evitemo-lo, se ele nos fizer mal; quanto aos carboidratos, como a farinha branca e o arroz, usemo-los com moderação, mas não nos deixemos escravizar por dietas e por modismos. Troquemos, o máximo que nos for possível, as comidas prontas e cheias de conservantes por alimentos de verdade, porque, além de isso ser um cuidado necessário para com o templo santo que nos é dado preservar – o nosso corpo – é também uma atitude de respeito e misericórdia para com aqueles que não têm sequer um simples pedaço de pão para saciar a fome e dar de comer aos seus.
Por Afonso Pessoa
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