Rumores sobre o novo Prefeito da Doutrina da Fé: a arriscada aposta do Vaticano
Diversas fontes afirmam que pode se concretizar a nomeação do bispo de Hildesheim, que alguns descrevem como “mais do que herege”.
Redação (26/01/2023 09:39, Gaudium Press) Há rumores que desaparecem com o tempo e voam como pó carregado pelo vento. Outros, pelo contrário, crescem e tornam-se clamores: este é um deles.
Desde o final do ano passado, corria pelos corredores e algumas salas da redação que Francisco queria nomear como substituto do cardeal Ladaria o bispo alemão Heiner Wilmer à frente do Dicastério para a Doutrina da Fé, o mais importante.
Em sua conta no Twitter, Diane Montagna, uma “vaticanista” já com uma longa trajetória, postou no dia 22 passado: “Em dezembro, vários cardeais intervieram para impedir a nomeação do bispo alemão Heiner Wilmer como prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé. Segundo fontes de @messainlatino, o #PapaFrancisco está novamente considerando seriamente prosseguir com a nomeação.”
Esse tweet foi citado no dia seguinte por outro correspondente do National Catholic Register em Roma, o bem informado Edward Pentin, que confirmou: “No mês passado, cerca de 20 cardeais e vários bispos conseguiram dissuadir Francisco de nomear Wilmer como o novo prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé. Mas o bispo, acusado de ser ‘mais do que herege’, segundo relatos, está novamente concorrendo à nomeação”.
Diante desta ‘restauração’ da possível nomeação do Bispo de Hildesheim, as reações agora se multiplicam como floração de primavera: “Bispo herege candidato a guardião da Ortodoxia, risco de cisma”, diz a manchete de La Nuova Bussola Quotidiana. “Mil al Pontefice: No a Vescovo Simil-Protetante alla Dotrina della Fede”, publica Marco Tosatti em seu blog altamente visitado.
La Nuova Bussola relata que Mons. Wilmer é “um dos bispos mais a favor da revogação do ensinamento da Igreja sobre moralidade sexual”; que estava contrariado “pela oposição de mais de um terço dos bispos alemães ao texto básico sobre a sexualidade humana”, que estava sendo debatido no controverso Caminho Sinodal Alemão; que em sua diocese as bênçãos de casais homossexuais são “uma prática normal” que ele promove e que, apesar do “revés temporário” sofrido em sua nomeação no ano passado, agora sua escolha “parece mais provável”.
Um inovador, que não quer ser obcecado pela Eucaristia
Já George Weigel, no The Catholic World Report, expressou em meados de dezembro que o bispo de 61 anos, ex-superior dos dehonianos, “não faria objeções a ser contado entre os bispos mais progressistas em um episcopado alemão dominado por progressistas”.
Weigel relembrou as declarações de Mons. Wilmer sobre as ‘obsessões eucarísticas’ devido às transmissões de missas online pela internet por ocasião da pandemia, com as quais ele “pessoalmente” não se sentia “confortável”: “Pessoalmente não acho bom que cada pároco, cada sacerdote, transmita de alguma capelinha ou da sala… Nem pode ser que sejamos obcecados apenas pela Eucaristia! Claro que é importante, mas o Concílio Vaticano II diz que o Senhor não está presente só na Eucaristia, mas também nas Sagradas Escrituras, na leitura da Bíblia, e devemos levar a sério a palavra de Jesus, onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. Ao ser questionado pelo jornalista sobre uma hipotética hipervalorização da Eucaristia, o bispo esclareceu seu pensamento: “Bem, na reação de alguns crentes, a Eucaristia já está supervalorizada. Como se não houvesse mais nada”.
De fato, Dom Wilmer se declara um inovador, segundo suas palavras ao abrir a fase diocesana do Sínodo da Sinodalidade: “Precisamos de um novo olhar sobre a sexualidade e uma nova forma de pensar o ministério do sacerdote. Precisamos de um novo olhar sobre a participação justa de gênero para todos na Igreja, homens e mulheres igualmente”.
Finalmente, vários círculos católicos consideram a possível nomeação do bispo Wilmer como um “desastre sem precedentes”, senão um gatilho para os cismas.
Toda essa intrincada questão é agora matizada com a última declaração de Francisco em uma entrevista publicada anteontem pela Associated Press, no sentido de que o Caminho Sinodal Alemão “não é sério”, “é ideológico”, não está aberto “ao Espírito Santo”, e é liderado por uma “elite” à margem de “todo o povo de Deus”, o que levaria a indicar que o Papa não se inclinaria a nomear um de seus mais genuínos representantes no Dicastério que ainda é o de maior relevância.
No entanto, não são poucos os que apontam que Francisco já tem uma tradição de viradas de governo e declarações, que não seguem inteiramente a linha dos pronunciamentos anteriores.
Quem são esses 20 cardeais que se opuseram à nomeação de Wilmer em dezembro? É claro que pelo menos alguns são da linha do falecido Cardeal Pell, algo atestado por declarações da jornalista Maike Hickson, que afirmou em sua conta no Twitter, no último dia 16, que “agora posso dizer publicamente que o cardeal George Pell estava entre os cardeais (juntamente com o cardeal Gerhard Müller e outros) que intervieram em Roma contra a nomeação iminente/muito provável do bispo Heiner Wilmer como chefe do Dicastério para a Doutrina”. Também está claro que esses cardeais não mudaram de opinião.
Aposta-se, então: Francisco vai se lançar com essa nomeação e com os riscos de suas consequências? A roleta está girando. Quem viver verá. (SCM)
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