E se não houver padres, qual será o futuro da Igreja?
Deus continua chamando trabalhadores para a sua messe, mas como esse chamado encontrará eco na alma dos jovens, se eles são constantemente bombardeados por tantas distrações, entretenimentos e tentações e, muitas vezes, não encontram apoio junto de suas famílias?
Redação (22/01/2023 12:13, Gaudium Press) Num passado não muito distante, com famílias numerosas, era uma alegria para os pais quando um dos filhos resolvia ir para o seminário e se tornar sacerdote, ou uma filha que decidia se fazer religiosa. Com o tempo, porém, o número de filhos foi se reduzindo, até chegarmos a um ponto em que, quem tem um, já se dá por satisfeito, e, ter dois, beira o exagero.
E, tendo apenas um ou dois filhos, o apego cresce e os pais fazem de tudo para mantê-los por perto o maior tempo possível, esticando o período da adolescência até perto dos 30 anos. Tornou-se muito comum homens barbados que se comportam como meninos que não sabem o que querem e nem o rumo a seguir, vivendo sob a proteção dos pais e, muitas vezes, sendo sustentados por eles.
Há jovens que, desde muito cedo, escolhem suas profissões, estudam e lutam para atingir os seus objetivos, mas há também uma boa quantidade que prefere se dedicar à diversão e ao ócio, com intermináveis crises de identidade, mudando de um curso universitário para outro e de um emprego para outro, isso, quando se sentem preparados para trabalhar – muitos não se sentem, e continuam mantidos pelos pais até mesmo depois de casados.
Pais que não dão formação religiosa aos filhos
Outro ponto é que, nas últimas décadas, depois das revoluções sociais iniciadas na década de 1960, muitos pais optaram por não dar formação religiosa aos seus filhos, por isso, muitos há que mal conhecem a Igreja Católica. Com sorte, são batizados, às vezes fazem a Primeira Comunhão, ou nem isso. Como descobrir a vocação sem ter contato com a fé e a religião?
E, como se não bastasse, com poucos filhos, os pais podem desenvolver um apego exagerado, em alguns casos até patológico e, quando o filho demonstra interesse em seguir a vida religiosa, reagem como se aquilo fosse coisa de outro mundo e fazem tudo para proibir o rapaz ou a moça de corresponder ao chamado divino.
Quando isso acontece, não faltam apoiadores “do contra”, pessoas que não são católicas ou são apenas católicas de fachada, que escolhem detonar a escolha do jovem, criticando pessoas e instituições, com acusações infundadas e mentiras, sem nem mesmo conhecerem a realidade do mundo religioso e da vida sacerdotal. Chama a atenção que as escolhas por outras profissões não recebem a mesma oposição, críticas e zombarias…
O futuro da Igreja
Mas, qual será o futuro da Igreja se não houver sacerdotes? Vemos excelentes seminários que, até há algumas décadas, estavam sempre lotados, hoje, com meia dúzia de alunos e, destes, alguns desistem no meio do caminho. A formação para o sacerdócio começa com a vocação, mas requer do candidato bem mais do que isso. O período de estudos e preparação, normalmente, é de oito anos.
O candidato a padre estudará Teologia e Filosofia, passará por um período de discernimento e, não raro, antes da ordenação sacerdotal ou logo depois dela, poderá fazer alguma especialização. Entre os padres, há muitos mestres e doutores que precisam ser pessoas de fé, mas, também, pessoas muito bem preparadas, que conheçam a psicologia humana e os desafios enfrentados pelos indivíduos e pela sociedade.
Na Europa, continente que foi o berço do Catolicismo, a religião está minguando e muitas igrejas são fechadas por falta de sacerdotes. Há padres que cuidam de mais de uma paróquia, se virando como podem para atender todas as demandas da comunidade.
Ganhar dinheiro, levar vantagem e gozar a vida
Do nascimento à morte, as pessoas precisam dos padres e eles exercem um papel importantíssimo junto aos fiéis. No Brasil, país predominantemente católico, a realidade ainda é um pouco diferente da Europa e de outras partes do mundo, mas, também aqui, a vivência da vocação enfrenta dificuldades.
As crianças crescem dissociadas de Deus e, desde cedo, aprendem que o importante é ganhar dinheiro, levar vantagem e gozar a vida, sem qualquer estímulo para procurarem dentro de si o que realmente querem, e com muito pouco incentivo para desenvolverem a vocação, para atenderem ao chamado de Deus.
O Deus de outrora, continua o mesmo, continua chamando trabalhadores para a sua messe, mas como esse chamado encontrará eco na alma dos jovens se eles são constantemente bombardeados por tantas distrações, entretenimentos e tentações? Como viverão as suas vocações se aqueles que deveriam ser os maiores apoiadores – os pais – por ignorância, por desinteresse, por seguirem falsas doutrinas ou por se deixarem levar por opiniões equivocadas, acabam atrapalhando e interferindo nos planos de Deus para a vida de seus filhos?
Sofrimento ou graça?
Se os pais soubessem o que estão dando para Deus, para o mundo e para si mesmos quando permitem que seus filhos sigam o caminho de suas vocações, com certeza, seriam os principais incentivadores quando o jovem ou a jovem decide entregar sua vida a Deus e à Igreja, vivendo pelo bem do próximo, pela divulgação do Evangelho e pela salvação das almas.
Há alguns anos, quando uma ordem religiosa sofreu uma campanha difamatória, promovida por uma mídia tendenciosa, assisti, com muita consternação, a uma mãe fazendo a triste comparação de um jovem que escolhe a vida religiosa com um viciado em drogas. Meu desejo foi o de ir até aquela mãe e convidá-la a percorrer comigo as ruas principais de grandes cidades, como São Paulo, por exemplo, cuja região central foi completamente tomada pelas vítimas das drogas, que ali vivem em condições sub-humanas, como zumbis, em meio ao lixo e à degradação humana, muitos dos quais os pais nem sabem onde estão e vivem desesperados a procurar.
Há dores que não há palavras que possam descrever, e a dor de ter um filho numa condição dessas é uma delas. O distanciamento e a saudade de um filho ou de uma filha que se recolhe a um seminário, a um convento, a um mosteiro, não é sofrimento, é graça, é bênção, é um privilégio dado por Deus. Em minhas orações, nunca me esqueço de pedir que Deus mande mais operários para a sua Igreja, pois o futuro do mundo passa pelos joelhos dobrados, pela renúncia e pelo sacrifício de homens e mulheres que abandonam o mundo para viver exclusivamente para Deus.
Moisés e Aarão
Este é um assunto sério, com o qual a Igreja se preocupa, tanto que a Santa Sé dá grande importância e atenção aos movimentos de jovens, e os papas se empenham em estar perto deles em suas jornadas, a fim de tocar seus corações pela beleza da vocação e a sua importância para a paz e o equilíbrio da humanidade.
Não nos esqueçamos de que Deus constituiu a Moisés como seu legislador, o homem escolhido para livrar o povo hebreu do cativeiro e da opressão, tirando-o do Egito e levando-o à Terra Prometida, mas, ao mesmo tempo, constituiu a Aarão como sumo sacerdote e deu aos levitas a missão da adoração e da transmissão da palavra de Deus.
Ao constituir, sobre Pedro, a sua Igreja, Nosso Senhor Jesus Cristo disse que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (cf. Mt 16, 18) e, sendo Ele a cabeça da Igreja e nós, o corpo, devemos confiar que Ele cuidará dela também no futuro, como cuidou até aqui, durante esses dois mil anos de sua existência.
Pedra de tropeço
Mas, ai daqueles que tentam impedir ou dissuadir alguém que foi chamado por Deus de viver a sua vocação! Pior ainda se essa pedra de tropeço for o próprio pai ou a própria mãe que, por egoísmo, apego exagerado ou por se deixar levar pela opinião alheia, retire de seu filho a oportunidade de atender ao chamado de Deus e dar continuidade à obra iniciada pelos apóstolos, a quem Cristo disse: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15).
E abençoados sejam as mães e os pais que, mesmo sentindo a falta de seus filhos, não interferem em seu caminho, permitem que eles sirvam a Deus e se tornam como que seus anjos tutelares, permanecendo na retaguarda, em constante oração por aquele padre, por aquela freira, por aquele missionário que Deus achou por bem que nascesse na sua família.
E aos jovens, o que eu gostaria de dizer é que muitas profissões poderão lhes dar dinheiro, fama e prestígio, mas em nenhuma eles obterão tantas riquezas como na vida religiosa, pois, se cumprirem bem e dignamente a sua missão, trabalharão aqui e terão a sua recompensa no Céu, por toda a eternidade!
Por Afonso Pessoa
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