Túmulo do Beato Padre Donizetti é vandalizado em Tambaú
O mausoléu que abriga o túmulo do Beato Padre Donizetti Tavares de Lima, em Tambaú, interior de São Paulo, sofre ação de vândalos pela segunda vez em menos de dois anos
Redação (14/01/2023 13:56, Gaudium Press) O mausoléu que abriga o túmulo do Pe. Donizetti Tavares de Lima, na cidade de Tambaú, interior de São Paulo, foi furtado e vandalizado no dia 10 de janeiro. O Pe. Donizetti exerceu o sacerdócio em Tambaú durante 35 anos. Morto em de junho de 1961, foi beatificado pelo Papa Francisco no dia 23 de novembro 2019.
A denúncia sobre o ato de vandalismo foi feita nas redes sociais pelo prefeito da cidade, Leonardo Spiga Real. Esta é a segunda vez que o túmulo do padre Donizetti é atacado. O prefeito disse que o cemitério municipal de Tambaú entrou com contato com o reitor do santuário Nossa Senhora Aparecida, Pe. Paulo Sérgio de Souza, informando o ocorrido e que foi aberto um boletim de ocorrência. O jazigo do beato é monitorado por câmeras de segurança e as imagens já estão em posse da Polícia Civil da cidade.
O prefeito explicou que alguns devotos e romeiros tem o hábito de deixar presentes, esmolas e ofertas no túmulo como agradecimento a alguma graça alcançada, e que a coleta desses objetos é feita periodicamente pelo santuário.
Beato Donizetti Tavares de Lima
O beato nasceu em Cássia, MG, em 1882. Filho de uma professora e um advogado, Donizetti teve 15 irmãos. Organista e professor de música, entrou para o seminário aos 21 anos. Ordenado sacerdote em 1908, exerceu seu ofício em Campanha, MG, Jaguariúna, SP, Vargem Grande do Sul, SP, e em Tambaú, onde permaneceu de 12 de junho de 1926 até a sua morte, em 16 de junho de 1961.
Grande devoto de Nossa Senhora Aparecida, teve uma trajetória marcada por muitos percalços e pela fama de santidade. De acordo com os documentos da Comissão Pró-Beatificação do Padre Donizetti, no início da década de 1920, o beato enfrentou problemas em Vargem Grande do Sul, onde atuava. O problema foi desencadeado devido ao seu apoio à luta pelos direitos trabalhistas. Ele foi acusado de agitador e comunista e chegou a ser ameaçado de morte. Dada a gravidade da situação, foi transferido para a cidade de Tambaú, onde permaneceu por 35 anos. Ali, foi amado pelos fiéis e ganhou, ainda em vida, a fama de santidade.
O primeiro fato tido como milagre
Segundo os relatos de moradores de Tambaú, pouco tempo depois de ter chegado à cidade, o padre encomendou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, que chegou à estação ferroviária e foi levada em procissão até a Matriz de Santo Antônio. Chovia muito e todos ficaram preocupados que a água causasse danos à imagem. Mas, o padre ordenou que a procissão seguisse e, por onde as pessoas passavam, a chuva não caía e ninguém se molhava.
Desde então, durante as bençãos dadas pelo padre nas Missas, as pessoas começaram a relatar curas. Com o tempo, e com a divulgação dos casos na mídia, a fama de “milagreiro” se espalhou e atraiu pessoas de todo o Brasil e de outros países.
Ainda de acordo com os relatos colhidos para o processo de canonização em curso, o Beato Donizetti manifestou três dons de santidade:
Levitação, enquanto dava as bênçãos nas celebrações de Sexta-feira Santa;
Premonição sobre fatos históricos e sobre a vida das pessoas;
Bilocação, pois foi visto dando bençãos em cidades vizinhas enquanto estava na Casa Paroquial de Tambaú.
Uma ponte entre os fiéis e a Virgem Maria
O Pe. Donizetti não gostava de ser visto dessa forma e fazia questão de lembrar aos fiéis que apenas Deus é capaz de conceder milagres, explicando que ele era apenas “uma ponte entre os fiéis e a Virgem Maria, a verdadeira responsável por interceder por suas preces junto a Deus.”
Outra frase que ele repetia muito, e que ficou marcada na memória dos moradores da pequena Tambaú era: “A minha devoção foi transmitida desde o leite materno pela minha saudosa e santa mãe”.
Com votos de pobreza, os únicos bens que ele possuía eram alguns livros, uma imagem de Nossa Senhora doada por sua mãe e duas batinas. Ele não tinha cama e dormia em um colchonete no chão, usando tijolos como travesseiro. Só modificou esse hábito nos seus últimos anos de vida, quando adoeceu e aceitou a doação de uma cama.
No dia 11 de outubro de 1929, por volta das 8h, o padre Donizetti estava celebrando a Missa na Igreja São José, quando foi avisado que a Matriz de Santo Antônio estava em chamas devido a um curto-circuito. O incêndio destruiu tudo o que estava dentro da igreja e abalou a sua estrutura. Quando as chamas foram controladas, o padre entrou nos escombros e encontrou, em meio às cinzas, as cinzas a imagem de Nossa Senhora Aparecida, intacta. O fato ficou conhecido como mais um milagre e, desde então, a imagem o acompanhou, até a sua morte.
Na década de 1950, romeiros de todos os cantos do Brasil e até de outros países passaram a visitar a cidade para receber a benção milagrosa do Pe. Donizetti. Devido à grande quantidade de pessoas, as visitas começaram a fugir do controle e da capacidade de Tambaú. De acordo com os registros da Igreja, em um semestre, entre 1954 e 1955, mais de três 3 milhões de pessoas visitaram a cidade, que chegou a receber 200 mil pessoas em um único dia.
Essas intensas romarias criavam dificuldades como problemas de higiene, alimentação, circulação e atendimento médico. O próprio Pe. Donizetti se via tolhido, pois não podia circular entre as pessoas, que tentavam agarrá-lo e arrancar pedaços de sua batina.
Por determinação do então governador de São Paulo, Jânio Quadros, o sacerdote foi obrigado a dar sua última benção coletiva no dia 30 de maio de 1955, para evitar que o caos aumentasse. O momento ficou eternizado por uma chuva de pétalas de rosas jogadas de um avião sobre a região da Casa Paroquial. A benção, feita em latim, foi gravado e até hoje o áudio é reproduzido no encerramento das Missas de domingos em Tambaú.
Ainda hoje, muitas caravanas visitam o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, onde a casa em que o Pe. Donizetti vivia foi transformada em museu, com móveis originais, objetos de uso pessoal do beato e peças de cera, muletas, cadeiras de rosa, fotografias e relatos de graças alcançadas.
Além dos milagres, pessoas que conviveram com o padre relataram que o mais marcante nele eram a sua simplicidade e o seu jeito respeitoso e amoroso de tratar as pessoas.
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