Papa Francisco recebe diretor da Agência Internacional de Energia Atômica
Em audiência com o papa, Rafael Mariano Grossi, diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica em Viena fala sobre a delicada situação na usina nuclear de Zaporizhzhia, e anuncia visita à Ucrânia.
Redação (13/01/2023 10:46, Gaudium Press) O diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Mariano Grossi, foi recebido pelo Papa Francisco na última quinta-feira, 12/01. Grossi conversou também com secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, e com o secretário para as Relações com Estados e Organizações Internacionais, Arcebispo Paul Richard Gallagher.
Ao conceder entrevista à mídia do Vaticano, Grossi enfatizou a necessidade de encontrar soluções multilaterais para as crises internacionais e evitar a escalada nuclear. Um dos principais temas abordados por ele foi a delicada situação na usina nuclear de Zaporizhzhia, anunciando que em breve visitará a Ucrânia novamente. Será a sua quinta viagem ao país desde o início do conflito, em fevereiro de 2022.
Grossi explicou que o encontro com o Papa Francisco é de fundamental importância, “neste momento difícil – com uma agenda internacional complexa”, frisando que a voz e a mensagem do pontífice sobre as ameaças nucleares lhe parecem indispensáveis.
“Eu encontrei o Papa Francisco porque o trabalho da AIEA tornou-se urgente: trata-se de um trabalho não apenas dedicado à questão da Ucrânia. Há também o Irã e a Coréia do Norte. Neste momento, é evidente que a segurança das instalações nucleares na Ucrânia se tornou urgente, indispensável. Claro que, quanto à situação atual, é sempre precária, sempre frágil: os bombardeios em torno e, às vezes, sobre a central de Zaporizhzhia continuam.”
Santa Sé: apoio fundamental
Ele explicou que, desde a sua visita à Ucrânia, em setembro passado, pôde estabelecer uma presença contínua da Agência em Zaporizhzhia e que, neste momento, o seu compromisso é chegar a um acordo político entre Moscou e Kiev, para assegurar uma zona de proteção e de segurança nuclear em torno da usina.
Respondendo a jornalistas, o diretor geral da AIEA frisou que o apoio da Santa Sé é fundamental, “porque enfatiza a importância em termos de paz, com uma voz universal como a voz do Santo Padre, em particular neste conflito na Ucrânia, que é um conflito na Europa, mas é também um conflito que envolve cristãos em todo o mundo”.
Grossi afirmou que escutar a voz do Santo Padre é indispensável e que ele se reconhece na sua orientação espiritual não apenas por ser católico, “mas também por causa da força real no mundo desta voz neste momento de guerra.”
Ao ser perguntado sobre as suas expectativas em relação à criação de uma zona de segurança na usina nuclear de Zaporizhzhia, Grossi respondeu que “obviamente, não é uma negociação fácil porque é uma questão que envolve aspectos técnicos e também políticos e militares. Eu disse ontem, aqui em Roma: a mesa de negociações se tornou maior. Não falo apenas com diplomatas, com líderes políticos, mas também com os militares: generais, coronéis, pessoas que têm objetivos militares em uma zona de combate ativo.”
Ele explicou que precisa deixar isto claro para a comunidade internacional, por se tratar de uma zona de intensa atividade militar. “Meu desafio é chegar a um ponto em que haja uma ‘santuarização’ – com um neologismo, por assim dizer – da usina, que seja vista não como um problema, mas como uma solução para quaisquer consequências mais graves: de fato, é claro que um acidente nuclear teria consequências não limitadas a um dos dois Estados em guerra, mas a uma área geográfica maior e talvez a toda a Europa. E para isso, há a insistência da Agência e minha, pessoal.”
As armas nucleares não fornecem segurança
Ele afirmou que acredita ter feito progressos e que na próxima semana estará novamente na Ucrânia, para continuar esta rodada de negociações, e aventou a possibilidade de ir também à Rússia, o que ainda não está confirmado.
Sobre o que a AIEA pode fazer para promover o uso exclusivamente pacífico do poder nuclear, Grossi enfatizou a importância de reforçar o compromisso com um mundo sem armas nucleares.
“Muitos países, têm a ideia – e esta é uma ideia absolutamente incorreta – de pensar que talvez, neste momento, a possibilidade de desenvolvimento nacional de armas nucleares deva ser reconsiderada. É a isso que a Agência deve dizer não: já temos uma situação internacional difícil e não devemos torná-la ainda mais difícil. Se há uma coisa que é clara – o Santo Padre, a Igreja o disse – é que as armas nucleares não fornecem segurança: é o oposto. É o oposto! E isto deve ser dito. Devemos ter a paciência e a capacidade de convencer os Estados, e isso não é fácil”, concluiu.
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