Burkina Faso lamenta a morte de mais um sacerdote
O Pe. Jacques Yaro Zerbo, de 67 anos, foi mais uma vítima do terrorismo em Burkina Faso. Além dele, 28 civis foram mortos entre os dias 30 e 31 de dezembro.
Redação (05/01/2023 06:57, Gaudium Press) Mais um sacerdote católico se tornou vítima da violência provocada pelo terrorismo em território africano. O Pe. Jacques Yaro Zerbo, de 67 anos, foi morto na segunda-feira, 2 de janeiro, por homens armados não identificados, em Soro, na região de Boucle du Mouhoun, no noroeste de Burkina Faso.
O comunicado da morte foi feito por Dom Prosper Boaventura KY, bispo de Dédougou. O Pe. Jacques Yaro Zerbo nasceu em 28 de dezembro de 1956 em Kolongo, atual Mali, e foi ordenado sacerdote em 19 de julho de 1986, em Dédougou.
Com cerca de 15 milhões de habitantes, Burkina Faso é um país de maioria islâmica (48,6%), com cerca de 17% de cristãos, a maioria católicos. Localizado no Sahel, tem a maior parte de seu território situado numa região árida à beira do deserto do Saara, no oeste da África. Seu território não possui saída para o mar e limita-se com Mali, Costa do Marfim, Gana, Togo, Benin e Níger.
Sahel: ponto chave para organizações criminosas
O Sahel é uma região transitória, semiárida, entre o Saara e as savanas, expandindo-se da Costa Oeste do Continente Africano (Senegal e Mauritânia) à Costa Leste (Sudão e Eritréia). O termo árabe Sahel significa costa e age como um cinturão que divide o continente em dois, a África majoritariamente islâmica, ao norte, e a cristã, ao sul.
Englobando ao menos onze países, a região é lar para dezenas de grupos étnicos. Embora hoje não se tenha divisões tão claras, tradicionalmente esses grupos se dividem entre pastores nômades e fazendeiros sedentários. Atualmente o Sahel é uma região extremamente volátil, impactada por diversas crises, como: o aquecimento global, limpezas étnicas e a ameaça terrorista. Com Estados fracos e bordas porosas, a região é um ponto chave para organizações criminosas e propensa a crises migratórias.
Com o aumento da radicalização muçulmana, diversas organizações extremistas têm ganhado força na região. Desde 2015, grupos terroristas próximos ao “Estado Islâmico” e à Al Qaeda aumentaram suas atividades no Sahel.
A Terra dos Homens Dignos
O nome Burkina Faso, adotado pelo governo em 1984, em substituição a Alto Volta, é um neologismo cunhado a partir de termos que, nas línguas locais, significam “Terra de Homens Dignos”.
Segundo a Associação Católica Internacional Ajuda à Igreja que Sofre (AIN), nos últimos anos a perseguição religiosa cresceu assustadoramente em Burkina Faso. A região de Boucle du Mouhoun, onde o Pe. Zerbo foi assassinado é uma das regiões mais atingidas pelo terrorismo.
O país passou rapidamente da 61ª para a 28ª posição na lista mundial dos países que mais perseguem os cristãos, com diversos registros de assassinatos e destruição de igrejas. Os grupos cristãos precisam declarar que não celebrarão casamentos ou feriados cristãos em áreas sujeitas a ataques jihadistas.
Os cristãos ex-muçulmanos são o grupo mais perseguido, sendo rejeitados pelos próprios familiares e por membros da comunidade, que tentam forçá-los a renunciar ao cristianismo.
“A nossa resposta à Kalashnikov é a oração!”
No dia 2 de outubro de 2022, durante a cerimônia de abertura do Mês Missionário, o arcebispo de Ouagadougou, cardeal Philippe Nakellentuba Ouédraogo, afirmou: “A nossa resposta à Kalashnikov (AK-47, ou AK como é oficialmente conhecida) é a oração.”
No início de julho de 2022, um ataque em Bourasso, nas proximidades de Dédougou, capital da Província de Kossi, região de Boucle du Mouhoun, deixou cerca de 30 mortos. Um sacerdote, da Catedral de Nouna, cuja identidade não pode ser informada por motivos de segurança, contou que os terroristas mataram 14 pessoas em frente à igreja: “Estamos apavorados. Todas essas pessoas não têm nada a ver com política ou com esses grupos terroristas, são atacadas apesar de não terem com o que se defender. Realmente é o caos”.
O sacerdote contou que ele mesmo escapou por pouco de uma emboscada terrorista na região, no dia 9 de maio. “Estou muito triste, eu conhecia quase todas as vítimas. Aqui, quando nos levantamos, sabemos que estamos vivos, mas não sabemos se ainda estaremos vivos à noite”, desabafou.
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