Ucrânia: 314 dias de resistência
No Ano Novo, Arcebispo maior de Kiev declara que, “apesar de tudo, a Ucrânia está resistindo, a Ucrânia está lutando, a Ucrânia está rezando”.
Primeira explosão registrada na capital ucraniana, Kiev, no dia 24 de fevereiro de 2022, início da invasão russa ao país. Foto: Gabinete do Presidente da Ucrânia
Redação (03/01/2023 12:46, Gaudium Press). No primeiro dia do ano, Dom Sviatoslav Shevchuk, metropolita da Igreja Greco-Católica Ucraniana e Arcebispo maior de Kiev-Halyč, comenta a difícil situação da Ucrânia, desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022: “O último dia do ano que passou foi muito turbulento para o nosso país, enquanto a passagem de ano foi quase infernal. Ontem, os russos mais uma vez lançaram um ataque maciço de mísseis contra a Ucrânia: pelo menos 20 mísseis atingiram nossa pátria e um grande número deles foi direcionado à cidade de Kyiv.”
O Arcebispo comenta que, no primeiro dia do ano, a capital do país amanheceu ferida: “Pessoas morreram, há muitos feridos e casas destruídas no centro de nossa capital. Algumas estações de metrô foram fechadas devido a destroços de foguetes nas plataformas. Neste primeiro dia do novo ano, nossa capital começa a se recuperar daquele duro golpe no coração de nossa pátria.”
Ele revela que, na noite da virada do ano, pelo menos 32 alvos aéreos – mísseis russos e drones iranianos – foram abatidos sobre Kyiv. “O inimigo tentou roubar a festa de Ano Novo dos ucranianos, mas, graças a Deus, não conseguiu. Apesar de tudo, hoje, neste primeiro dia do novo ano, queremos anunciar ao mundo inteiro que a Ucrânia está resistindo, a Ucrânia está lutando, a Ucrânia está rezando.”
Shevchuk: o primeiro primaz entronizado em Kiev em 400 anos
À frente Arquieparquia Maior de de Kiev-Halyč desde março de 2011, com a seleção confirmada pelo Papa Bento XVI, Shevchuk tem procurado manter acesa a chama da fé entre os católicos do país.
O arquiepiscopado maior da Igreja Greco-Católica Ucraniana foi criado pelo Papa São Paulo VI, em 23 de dezembro de 1963, após os pedidos de Josyp Slipyj, então arquieparca de Lviv, para a criação de um patriarcado unido com a Igreja Católica. Na época, Slipyj se encontrava exilado em Roma,
A Arquieparquia de Lviv dos Ucranianos foi a sede do Arcebispo maior até 6 de dezembro de 2004, quando foi transferida para a capital Kiev, com autorização do Papa São João Paulo II, após o consenso obtido no Sínodo da Igreja Greco-Católica Ucraniana, ocorrido entre 5 e 12 de outubro do mesmo ano.
Shevchuk foi entronizado como Arcebispo maior em 27 de março de 2011, na nova igreja-mãe da Igreja Greco-Católica Ucraniana, a Catedral Patriarcal da Ressurreição de Cristo, que ainda estava em construção na época. Ele foi o primeiro primaz a ser entronizado em Kiev em 400 anos.
Arcebispo cita os heróis do Antigo Testamento
Ao discorrer sobre a difícil situação vivida pelos ucranianos, Dom Shevchuk relembra os heróis do Antigo Testamento, a quem ele se refere como “pessoas com virtudes e defeitos, que vivenciaram a história cuidadosamente conduzida por Deus até o mistério da Encarnação de seu Filho, esculpindo o seu majestoso desígnio na História da humanidade, voltada, sobretudo, para o bem do homem e do mundo inteiro”, e manifesta a sua esperança no bem que Deus pode tirar dos trágicos acontecimentos provocados pela guerra:
“O Senhor Deus pode fazer brotar de uma árvore seca um rebento vivo, um rebento de salvação e, apesar dos desajeitados truques humanos, conduzir uma bela dança desta história divina de salvação, criar uma música harmoniosa a partir do barulho e do clamor, tirar luz do caos sombrio.”
Ele explica que o epicentro dos ataques russos sempre foram a cidade de Kiev, mas que lutas pesadas continuam ocorrendo em outras cidades, principalmente nas regiões de Lugansk e Donetsk.
Sobre a noite do Ano Novo, revela: “Cerca de 40 drones de ataque foram lançados da Rússia contra nossas cidades e centros habitados que dormiam pacificamente. Somente na cidade de Kyiv, 22 drones de ataque foram lançados durante a noite. Foi uma noite barulhenta. Há danos em infraestruturas críticas para o abastecimento de energia.”
“Outra vez, nossa capital ficou sem luz, sem eletricidade. Outra vez, civis morreram. Mais uma vez, a guerra pressionou a vida e a saúde de nossas meninas e meninos. Mas estamos vivos e esta manhã agradecemos ao Senhor Deus e às Forças Armadas da Ucrânia por podermos continuar a viver para Deus e nossa querida Pátria.”
Em seu desabafo, ele se refere à resistência dos soldados ucranianos: “Nossas bravas Forças Armadas da Ucrânia não estão apenas retendo os ataques do inimigo, mas estão tentando, passo a passo, continuar o processo de libertação das nossas cidades e povoados, expulsando o ocupante e o agressor assassino da terra da Ucrânia. E hoje, novamente, queremos anunciar com alegria que a Ucrânia está de pé! A Ucrânia luta! A Ucrânia reza!”
O alfa e o ômega, o princípio e o fim’
Depois de mencionar os heróis do Antigo Testamento, Shevchuk evoca as palavras de Cristo, no Apocalipse de São João: “‘Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim’, diz o Senhor Deus, Aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso!” (Ap 1, 8) E conclui:
“O Apocalipse nos traz as palavras de Cristo. Ele já veio, mas para quem crê, Ele sempre vem, sempre chega. A liturgia da Igreja é, antes de tudo, uma experiência espiritual e orante que permeia a História e se desenvolve dinamicamente até o cumprimento final dos tempos. Portanto, a festa de Natal tem um grande significado espiritual: que o Senhor vem sempre ao nosso encontro. Cada momento da nossa vida pode ser o momento do encontro. Por isso é muito importante a nossa abertura constante às visitas de Deus para não perdermos o momento quando o Senhor vier.”
Deixe seu comentário