A Santa Virgem, Mãe de Deus
Entre o Verbo Encarnado e nós há algo em comum, algo insondavelmente precioso: temos a mesma Mãe! Mãe perfeita desde o primeiro instante de seu ser concebido sem mácula.
Redação (01/01/2023 08:41, Gaudium Press) A Igreja escolhe o primeiro dia do calendário civil para celebrar a maternidade divina de Nossa Senhora, a fim de que iniciemos o ano por meio da gloriosa intercessão de Maria. Ela derrama sobre nós suas bênçãos de maneira muito especial nesta Solenidade, cuja coincidência com a Oitava do Natal nos indica que a melhor forma de louvar o Menino Jesus é exaltar as qualidades da Mãe d’Ele e nossa, bem como a melhor forma de elogiar a Mãe é festejar o nascimento de seu Divino Filho.
Mãe de Deus… e também Mãe nossa!
Diante da riqueza da Liturgia inspirada pelo Espírito Santo para exaltar a maternidade divina de sua Esposa, devemos compreender que também nós estamos contemplados nesse privilégio de Maria. Todos os batizados fazemos parte da Santa Igreja, Corpo Místico do qual Cristo é a Cabeça e nós seus membros. Ora, quem é Mãe da Cabeça é Mãe de todo o Corpo! E quando nascemos para a graça, no Batismo, passamos a participar da família divina enquanto filhos de Deus e irmãos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Também por esse aspecto Maria é nossa Mãe. Além disso, assim como os rios correm a partir de uma nascente, a fonte de nossa vida sobrenatural é Nosso Senhor Jesus Cristo, pois “todos nós recebemos da sua plenitude graça sobre graça” (Jo 1,16). E a Mãe desse manancial de graças é também Mãe dos riachos que d’Ele procedem.
Maria nos ama como fôssemos filhos únicos
Foi esta Mãe que com imensa alegria deu à luz a nosso Salvador, mas também a que esteve presente na sua dolorosa crucifixão. Suspenso entre dois ladrões no alto do Calvário, Jesus deu caráter oficial à maternidade de Nossa Senhora extensiva a nós. Na pessoa de São João Evangelista, Jesus nos entregou a Ela como autênticos filhos, ao dizer: “Mulher, eis aí teu filho!” (Jo 19,26), e ao Apóstolo: “Eis aí tua Mãe!” (Jo 19, 27). Desta forma, colocou à disposição de todos nós, seus irmãos pela graça e pela Redenção, sua própria Mãe. E Ela ama a cada um como se fosse seu filho único, a tal ponto que se somássemos o amor de todas as mães do mundo por um só filho, o resultado não alcançaria o amor que Nossa Senhora nutre por nós, individualmente.[1]
Encontramos nas palavras do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira uma tocante consideração a esse respeito: “Entre o Verbo Encarnado e nós há algo em comum, algo insondavelmente precioso: temos a mesma Mãe! Mãe perfeita desde o primeiro instante de seu ser concebido sem mácula. Mãe Santíssima de tal maneira que, em cada momento de sua existência, não cessou de corresponder à graça; apenas cresceu, cresceu e cresceu até alcançar inimaginável elevação de virtude. Essa Mãe, d’Ele e nossa, tem misericórdia do filho mais esfarrapado, torto, desarranjado; e quanto mais desarranjado, torto e esfarrapado, maior sua compaixão materna. ‘Minha Mãe: aqui estou eu. Tende pena de mim hoje, agora, como sempre tivestes e, espero, sempre tereis. Purificai-me, ordenai-me, tornai minha alma cada vez mais semelhante à vossa e à d’Aquele que, como a mim, é dada a indizível felicidade de Vos ter por Mãe!’”[2]
A Jesus, cujo Natal celebramos nesta Oitava, dirigimos nosso olhar cheio de gratidão e imploramos que cheguem à sua plenitude as graças por Ele trazidas ao mundo ao nascer em Belém: “Senhor, Vós quereis reinar sobre a Terra de uma forma solene, majestosa e, ao mesmo tempo, maternal. Por isso, Vós entregais o vosso Reino à vossa Mãe Santíssima. Nós Vos pedimos, Senhor, que a misericórdia d’Ela triunfe o quanto antes! Neste momento, nosso coração se volta a Ela, cheio da certeza de que sua misericórdia e bondade para cada um de nós é superior à de qualquer mãe. Ela está disposta a nos abraçar, a nos acolher em seu colo e nos proteger, quer seja contra a maldade dos homens, quer seja contra a maldade vinda do inferno. Enfim, Ela está disposta a fazer de tudo por nós! Senhor, não A retenhais! Deixai que a misericórdia d’Ela nos abrace, pois só assim os horrores do mundo contemporâneo não atingirão nossa alma. Nós Vos pedimos, Senhor, que Ela desdobre sobre os vossos filhos toda a sua bondade maternal e misericordiosa, para que o reino do afeto, o reino do carinho materno, o reino da bondade insuperável de Maria Santíssima se estabeleça na Terra. E que Ela apareça sorridente na cerimônia de inauguração dessa nova era histórica, dizendo a seus filhos: ‘Por fim, o meu Imaculado Coração triunfou’”.
Por Guilherme Motta
Extraído, com adaptações, de: CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2012, v. 7, p. 15-31.
[1] Cf. SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT, Traité de la vraie dévotion à la Sainte Vierge, n. 202. In: OEuvres Complètes. Paris: Du Seuil, 1966, p. 620.
[2] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A mesma Mãe. In: Dr. Plinio. São Paulo. Ano IX. N. 96 (Mar., 2006); p. 36.
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