Fora daqui!
O que acontecerá quando Jesus Cristo tiver sido expulso de todos os lugares?
Redação (27/12/2022 03:55, Gaudium Press) Às vésperas do Natal, li a notícia de que os policiais da cidade de Montreal foram proibidos de utilizar a insígnia de São Miguel Arcanjo, santo padroeiro da polícia canadense. Já existia uma lei, naquele país, promulgada em junho de 2019, proibindo a existência de símbolos religiosos em repartições públicas e a sua utilização por funcionários públicos durante o trabalho. Mas o escudo de São Miguel era algo que, praticamente, já fazia parte do uniforme dos policiais. Um direito que foi retirado.
Este é apenas um pequeno exemplo, porque cada vez se fortalece mais a ideia do Estado laico, que reprime qualquer manifestação religiosa, ainda que em um pequeno símbolo usado discretamente pelas pessoas.
Até mesmo no Brasil, isso acontece. A laicidade do Estado está na Constituição e, embora não exista uma lei específica exigindo isso (ainda…), se torna cada vez mais normal que bíblias e crucifixos sejam retirados de fóruns, prefeituras, secretarias, hospitais. O mesmo se estende para locais particulares, onde haja pessoas que se incomodem com a presença de qualquer coisa que faça referência ao cristianismo, à religião, a Deus, como ocorreu há alguns meses, quando a moradora de um condomínio na cidade de Recife, PE, conseguiu, na justiça, a retirada de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima do hall do prédio onde mora, alegando que a imagem lhe causava “constrangimento”.
É certo que uma série de coisas das quais não gostamos, como peças artísticas, desenhos, músicas, tatuagens demoníacas, nos são colocadas “goela abaixo” e não podemos reclamar, sob pena de sermos acusados de intransigentes, preconceituosos e tantos outros rótulos. Muitas coisas horríveis podem, símbolos religiosos, não!
Por que o presépio incomoda tanto?
Estamos no período natalino e é sempre bom lembrar que, embora a permanência do Natal seja incentivada na maioria dos países do mundo – por motivação comercial, obviamente – tem aumentado também os locais onde a montagem de presépios em espaços públicos vem sendo desestimulada e até proibida, como é o caso de Rehoboth Beach, no estado de Delaware, Estados Unidos. Desde 2018, os moradores dessa cidade estão proibidos de montar presépios e fazer qualquer exposição religiosa em locais públicos. No entanto, a partir de 2020, a prefeitura destina 10 mil dólares para a montagem de uma “decoração natalina que celebre a diversidade cultural”. Enfeitar pode, só não pode pôr Jesus no meio!
Na França, também acontece esse tipo de discussão, envolvendo milhares de prefeitos, uma parte contra e outra a favor de que prevaleça a determinação do Estado laico, estabelecida em uma lei de 1905 – às vezes nos esquecemos de quantas coisas espalhadas pelo mundo são frutos da Revolução Francesa! Aqueles que defendem a manutenção dos presépios em locais públicos evocam o respeito à cultura, alegando que eles fazem parte da tradição cultural da França.
Este ano, essa concepção atingiu também o México, cuja Suprema Corte de Justiça da Nação recebeu um pedido para a proibição de instalar, em espaços públicos, “objetos decorativos alusivos ao nascimento de Jesus Cristo” nos meses de dezembro e janeiro.
O processo foi dirigido contra atos da prefeitura de Chocholá, no estado mexicano de Yucatán, encabeçado pelo advogado Miguel Fernando Anguas Rosado, membro da Indignación, associação que se anuncia como de “promoção e defesa dos direitos humanos na península de Yucatán de uma perspectiva integral, pluricultural e de gênero”. No entanto, a decisão favorável ao solicitado abriria precedentes e, de Chocholá, poderia ser ampliada para todo o México. Diante da polêmica iniciada com a ação, a Suprema Corte decidiu suspender a análise e a votação do processo.
Intolerância religiosa
O Pe. Hugo Valdemar, da Arquidiocese Primaz do México, disse que essas manobras judiciais respondem “à intolerância religiosa, especialmente a tudo o que é a fé cristã”, alertando: “Estamos começando a viver no México o que já se vive na Europa, uma verdadeira ‘cristãofobia’. Não estamos apenas sob a ditadura do relativismo, mas também sob a ditadura das minorias. Basta que uma pessoa se sinta incomodada com os sinais religiosos para que ela imponha seus critérios individuais à maioria que pensa diferente”.
O padre, que foi diretor de comunicação da arquidiocese do México por 15 anos, disse ainda: “Se as pessoas fossem consultadas, veríamos como a grande maioria é contra esse tipo de intolerância laicista que chega ao fanatismo e à cristãofobia. Na verdade, o secularismo funciona como uma religião: tem seus ritos e dogmas que ninguém pode tocar ou questionar”.
TJ reverte decisão sobre estátua em Aparecida
Em 2019, na cidade de Aparecida, SP, onde se localiza o maior templo católico e é o principal centro de peregrinação religiosa do país, uma juíza determinou a retirada de cinco monumentos dedicados à Padroeira e proibiu a construção de uma estátua de Nossa Senhora, com 50 metro de altura, projeto que fazia parte das comemorações dos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição, no Rio Paraíba do Sul.
A juíza proferiu a sua sentença em atendimento a um pedido feito pela Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea). O caso foi revertido, depois de quase três anos de embate judicial, e a sentença foi favorável à construção da estátua. O Tribunal de Justiça derrubou a decisão de primeira instância por considerar que “a cidade de Aparecida tem o turismo religioso como carro-chefe de sua economia local e que, portanto, a prefeitura cumpre com sua obrigação ao fomentá-lo; o interesse público está caracterizado na instalação e o turismo religioso não pode ser interpretado como interesse em favor de uma única crença ou religião”.
Embora representem uma vitória do cristianismo, tanto em Aparecida, como na França e no México, as decisões judiciais ou parlamentares que barraram a proibição da existência de símbolos religiosos em lugares públicos foram tomadas por razões absolutamente materiais. A religião, em si, e os interesses de quem a pratica, não foram levados em consideração em nenhum desses casos.
Uruguai: o país que aboliu o Natal
E hoje, quando escrevo este artigo, um dia após a comemoração natalina, chama a minha atenção outra notícia, desta vez sobre o laicismo no Uruguai. O país vizinho eliminou a festa do Nascimento de Jesus do calendário oficial há mais de 100 anos, substituindo-a pelo “Dia da Família”. Desde 1919, a lei uruguaia não reconhece o feriado de Natal, o Dia de Reis, a Semana Santa e nem o Dia da Virgem. Estas datas ainda são comemoradas em grande estilo, mas com outras denominações oficiais: o Natal é o Dia da Família, o Dia de Santos Reis é o Dia da Criança, a Semana Santa é a Semana do Turismo e o Dia da Virgem é o Dia das Praias.
Uma ação semelhante ocorre no seio das famílias, pois, independente de terem ou não símbolos religiosos em suas casas, muitos pais optam por não dar formação religiosa aos seus filhos, sob a desculpa de não querer influenciá-los ou até mesmo traumatizá-los. Muitos pais, por negligência, pecado ou preguiça, alegam que respeitam seus filhos e, por isso, deixam a eles a liberdade para escolher as suas próprias religiões quando crescerem.
Os pais têm a obrigação de tratar bem os seus filhos, mas, não podem se esquecer de que os filhos é que devem obedecê-los e que compete a eles, pais, ensinarem a obediência a Deus e às autoridades. Crianças que crescem sem esses valores, estão destinadas a se tornarem adultos perdidos e desorientados, em sua maioria, ateus.
Primeira comunhão de adultos e a negligência dos pais
Até há algum tempo, quando havia uma cerimônia de Primeira Eucaristia, encontravam-se muitas crianças e, vez ou outra um adulto, que geralmente correspondia a uma pessoa recém-convertida ou oriunda de outra religião. Hoje, em quase todas as paróquias, existe a catequese de adultos, cujas turmas chegam a ser até mais numerosas que as das crianças. São adultos que estão ali para acertar a sua vida cristã, a maioria, para poder casar na Igreja. Esses adultos são filhos de pais que lhes deram a liberdade de escolher mais tarde. Com sorte, alguns recebem bem a catequese e permanecem na fé, mas, sem hipocrisia, muitos, cumprem o papel social de se casarem e não voltam mais. E acabam criando os seus filhos da mesma forma que foram criados. Assim, o número de católicos vai minguando.
O perigo de expulsar o dono da casa
Quando um órgão governamental, um juiz ou uma família age dessa forma, na verdade, está gritando para Nosso Senhor: “O Senhor não é bem-vindo! Fora daqui!” Junto com Ele, estão os Anjos, que formam o Exército Celeste, a sua Mãe, Maria Santíssima e os Santos. Junto com Ele estão o amor, a misericórdia e a proteção que todos precisamos. Junto com Ele, está a salvação. Quando O expulsamos, expulsamos tudo o que Ele representa.
Jesus é o Filho de Deus e o próprio Deus. Ele é o Verbo Encarnado, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Criador e mantenedor de todas as coisas. Nós estamos na casa dEle, somos os visitantes. O que acontecerá quando Ele tiver sido expulso de todos os lugares? O que faremos quando precisarmos dEle e já não O pudermos encontrar em lugar algum?
O que ainda me acalenta, ao pensar sobre isso e sobre o perigo que isso representa, é a certeza de que podem tirar os símbolos cristãos do mundo, mas ninguém pode tirar Cristo do coração daqueles que vivem o milagre da verdadeira conversão. O triste, porém, é que muitos já não O têm em seus corações e muitos ainda não O conhecem e, em breve, sequer terão representações que possam servir de referência para encontrá-Lo. O que será, Senhor, dessas pobres futuras gerações que estarão privadas de ti?
Por Afonso Pessoa
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