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A Gruta de Belém: “Veio para os seus, mas os seus não o receberam”

Feliz manjedoura que tiveste a honra de receber em ti ao Senhor do Céu! Benditas palhas que serviram de leito a quem repousa nas asas dos Serafins! Um Deus que quer começar sua infância em um estábulo confunde nosso orgulho!

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Redação (20/12/2022 13:23, Gaudium Press) Belém de Éfrata, tão pequena e desprezível “entre os clãs de Judá, de ti sairá aquele que me governará em Israel”, como profetizou Miquéias (5, 1), se tornou a sede da magnanimidade de Deus.

“O nome da cidade natal do Santo Patriarca São José soa hoje encantador aos nossos ouvidos – comenta Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, fundador dos Arautos do Evangelho – porque ali aconteceu uma das cenas mais belas da História, na qual a candura da inocência aliou-se à grandeza fulgurante do relâmpago: o nascimento do Verbo Encarnado” (Maria Santíssima! O Paraíso de Deus revelado aos homens, Volume II, p. 284).

São José, que, trabalhando como carpinteiro em Nazaré, não deixava de ser príncipe da estirpe de Davi, foi obrigado, por decreto do imperador César Augusto, a se registrar em sua cidade natal, Belém. Empreendendo o itinerário, o fez acompanhado da sua virginal Esposa, a Bem-Aventurada Santíssima Virgem Maria, montada em um jumento, enquanto esperava. Ao seu lado caminhava, como era comum naqueles tempos, o glorioso, sublime e castíssimo Patriarca. Levavam apenas pão, frutas e alguns peixes, a sua alimentação habitual.

A viagem implicava um longo percurso de cinco dias que, devido ao recenseamento, foi bastante movimentado. Ninguém os considerava, eram vistos como pobres e humildes peregrinos. Por ser inverno, durante o descanso das noites retiravam-se para os abrigos do gado, porque aquela multidão de caminhantes era um incômodo para o recato e a modéstia da Virgem Mãe e do seu Esposo.

À medida que avançavam, tanto São José como a Santíssima Virgem não paravam de elevar orações ao Pai Eterno para que encontrasse um local apropriado para o nascimento do Divino Redentor.

Chegaram a Belém ao anoitecer. Bateram nas portas em busca de pousada nas casas de conhecidos próximos e parentes, ninguém os recebeu. Alguns até os dispensaram com grosseria e desprezo.

A aflição de São José

Depois de sofrer as rejeições, anoiteceu. O fidelíssimo José, cheio de amargura e extrema dor, diz a Maria Santíssima que não pode acomodá-la como ela merecia e seu afeto desejava. Recordando que, fora dos muros da cidade, existia uma gruta abençoada, abrigo de pastores e seu gado, desde os tempos da infância e juventude, se propõe a ir até lá. Era um lugar tão desprezível que ninguém foi procurá-lo para abrigar-se nele.

Encontrando-se diante dela, “a visão do seu interior os encheu de pena: humidade, abandono e desordem. Seu único adorno era uma manjedoura com alguma palha colocada ali para alimentar aos animais. São José começou a iluminar o local, limpá-lo e organizá-lo. Nossa Senhora permaneceu do lado de fora, sentada em uma pedra, absorta em sérias e sublimes meditações”. (Volume II, p. 293).

Seria “aquele refúgio que se tornaria o primeiro palácio do Rei dos reis e Senhor dos senhores”. Um burro e um boi aqueciam a gruta selvagem, inóspita e isolada. Uma manjedoura como berço, palha como colchão, a Gruta de Belém nos dá uma lição de humildade e pobreza.

“O glorioso Patriarca se aproximou de sua Esposa. Ao vê-la completamente imersa em Deus, sentiu um grande temor. Ajoelhando-se diante dela, disse: Minha Senhora, a gruta está pronta. Quando quiser pode entrar” (Volume II, p. 293).

São José retirou-se para rezar. “Muitos Anjos se fizeram ver e ouvir com cânticos de exultação. Eram as primeiras canções de Natal!” (Volume II, p. 294). Se aproximava o feliz nascimento. Era meia-noite. Foi assim que, “de forma milagrosa, o Menino saiu do ventre puríssimo de sua Mãe, sem ferir em nada a sua virgindade; pelo contrário, Ela foi ainda mais confirmada e enobrecida! Maria “deu à luz ao seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e o deitou numa manjedoura” (Lc 2,7). São José, cheio de admiração e temor a Deus, presenciou sua tríplice virgindade: antes, durante e depois do parto!” (Volume II, p. 295).

Assim nasceu o Sol de Justiça, o Filho do Pai Eterno, atravessando o claustro virginal, como os raios do sol, que sem quebrar os vitrais penetram e os deixam mais luminosos.

“Abençoada a noite e bendita as estrelas que presenciaram tão augusto acontecimento, oculto aos olhos dos orgulhosos, mas manifestado aos pequeninos”! (Volume II, p. 302).

Especial comentário faz Monsenhor João S. Clá Dias sobre “a escolha de uma gruta pobre, consequência da rejeição dos habitantes de Belém, soou ao puríssimo Coração de Maria como uma bênção imensa, leve e luminosa, típica de sua inocência primeva à maneira de um bater de asas de Anjos”, “a sublime atmosfera da gruta sagrada, incomparavelmente superior ao ambiente das casas nas quais lhes havia sido negada a hospitalidade” (Volume II, p. 305), e do palácio de Herodes, cheio das prodigalidade pagã da época: luxo e opulência, que ficava a apenas alguns quilômetros de distância.

O Rei dos reis, preferiu nascer em uma gruta. Santo Afonso Maria de Ligório comenta a afortunada gruta com belas expressões: “Feliz manjedoura que tiveste a honra de receber em ti ao Senhor do Céu! Benditas palhas que serviram de leito a quem repousa nas asas dos Serafins! Um Deus que quer começar sua infância em um estábulo confunde nosso orgulho!”.

É o mistério do Natal, uma festa de todas as alegrias. “O Menino Jesus nasceu, frágil e terno, sob os cuidados maternos e solícitos de Maria, mas a sombra da Cruz já estava presente. Ele veio para salvar os homens, e eles o rejeitaram. O Natal significou para a Virgem o início da luta de Jesus Cristo e o início de seu calvário nesta terra de exílio, cujo desfecho seria a imensa, extraordinária e irreversível vitória da Ressurreição” (Volume II, p. 307).

Dirijamos o nosso olhar para Aquele que: “Veio para os seus, mas os seus não o receberam” (Jo 1, 11), e por intercessão de Maria e José agradeçamos pelos inúmeros benefícios recebidos ao longo deste ano, implorando a graça da santidade, para que, livres do pecado, caminhemos rumo à uma eternidade feliz.

(Publicado originalmente em La Prensa Gráfica de El Salvador, 18 de dezembro de 2022).

Por Padre Fernando Gioia, EP

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.

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