Quadrilhas agem em hospitais para extorquir famílias de pacientes
A maioria dos hospitais está afixando cartazes em suas dependências com avisos sobre esse tipo de golpe.
Redação (22/10/2022 14:23, Gaudium Press) “Família é vítima de golpe dentro de hospital e perde R$ 10 mil”. Quando li esta manchete, confesso que fiquei chocado, se é que alguma coisa ainda seja capaz de nos chocar neste mundo às avessas em que vivemos.
Não é a primeira vez que vejo esse tipo de notícia, porque esse evento tem se repetido com certa frequência. É ousado, absurdo, cruel, mas existe, e tem aumentado. Infelizmente, muitos casos nem são divulgados, porque o fato é tão grotesco e tão humilhante, que algumas famílias que caem nesse tipo de golpe preferem se calar, pelo absurdo da situação.
Falso médico
O golpe que gerou a manchete citada se passou na cidade de Varginha, MG. Um bandido, fazendo se passar por médico, telefonou para a casa de uma paciente internada num hospital local. No contato, o falso médico passou informações sobre o agravamento do estado de saúde da paciente, que estava para se submeter a uma cirurgia.
Quem recebeu a ligação foi a filha da paciente e o golpista disse a ela que a sua mãe precisava fazer, com urgência, exames que não eram cobertos pelo plano de saúde e que custariam 10 mil reais. A filha não duvidou do “médico” e, no desespero de atender às necessidades da mãe, depositou o valor ao homem.
O hospital onde a mulher está internada emitiu uma nota comunicando que “o golpista vem se passando por médico e fazendo contato com os clientes, via telefone e, quando consegue abertura, informa sobre a necessidade de um pagamento urgente para a realização de exames de forma particular”.
Porém, isso não aconteceu apenas em Varginha. Há relatos desse tipo de golpe em hospitais de todo o país. Em agosto de 2021, um aposentado, de São Paulo, estava com a irmã, o cunhado e a filha de 17 anos internados com Covid, quando recebeu uma ligação de um homem que se identificou como médico do hospital onde a sua filha estava internada, comunicando que ela tinha sido diagnosticada com leucemia e que ele precisaria fazer o pagamento de R$ 4,9 mil para trazer um aparelho que seria usado no tratamento. O falso médico explicou que o caso era muito grave, e que não falou nada com a sua esposa, que estava no hospital com a jovem, para não deixá-la mais preocupada e ansiosa. O Pix foi feito, claro. Só depois, conversando com a esposa, é que o homem descobriu ter caído num golpe.
Golpes em hospitais
Há um caso ainda mais ousado, ocorrido num hospital na região da serra gaúcha. A família de uma paciente internada com problemas no coração recebeu a ligação no telefone do quarto da paciente. O bandido se identificou como “Dr. Marcos, diretor técnico do hospital”, alegando que a medicação que estava sendo usada na paciente não estava fazendo efeito, que o quadro dela estava piorando muito e que seriam necessários novos exames e um novo medicamento, com custo de R$ 3 mil. Explicou que dada a urgência, o convênio não cobriria, mas que, depois, o valor seria reembolsado pelo hospital.
A ligação foi atendida pelo genro da paciente, que não desconfiou se tratar de um golpe, pelo fato de o marginal usar uma linguagem técnica, bem profissional, não dando para desconfiar que não se tratava de um médico, conforme ele explicou mais tarde à imprensa. Esse golpe só não se efetivou porque o rapaz foi procurar a administração do hospital para ter mais informações sobre a forma como seria feito o reembolso, aí ficou sabendo que não havia nenhum diretor técnico com o nome de Dr. Marcos e constataram se tratar de um golpe.
A maioria dos hospitais está afixando cartazes em suas dependências com avisos sobre esse tipo de golpe. O mais lamentável é que, quando telefonam, os golpistas sabem detalhes dos pacientes, como nome, estado clínico e telefones de contado dos familiares, o que indica que essas quadrilhas têm contatos dentro dos próprios hospitais.
Diante da doença e da morte
Eu pergunto: que tipo de pessoa é capaz de fazer uma coisa dessas? Com algum resquício de ingenuidade que ainda me resta, suponho que até mesmo entre os criminosos deveria existir algum traço de ética.
É bastante comum, também, tomarmos conhecimento de familiares que são praticamente extorquidos na compra de urnas mortuárias para enterrar seus mortos. Comovidos e fragilizados diante da perda de um ente querido, os parentes procuram o serviço funerário para fazer a pior de todas as compras, um caixão de defunto para um membro da sua família, e são atingidos no que tem de mais sensível.
Já vi comerciante desqualificado dizendo para uma pessoa que pediu por um caixão mais barato, de acordo com as suas posses, para enterrar o pai: “Nossa! Seu pai lhe deu tanto, lhe dedicou a sua vida e você quer economizar na última homenagem que pode prestar a ele? Acredito que, se fosse o contrário, ele não iria querer comprar o caixão mais barato se o falecido fosse você.”
Esse tipo de golpe, diante da doença, ou essa extorsão, diante da morte, vão além do que a minha mente consegue compreender. E eu repito a pergunta: que tipo de pessoa é capaz de fazer uma coisa dessas? Será que tem alma um sujeito que se faz passar por médico para roubar de uma família que está atravessando a dor de ter um de seus entes queridos gravemente doente?
A doença fragiliza muito quem está ao redor, embota o raciocínio. Como a grande maioria das pessoas não deseja morrer, ou tem muito medo da morte, quando sentem que ela pode lhes roubar alguém que amam, fazem de tudo para tentar salvar a vida dessa pessoa. Rezam, fazem promessas, buscam terapias alternativas, e acabam acreditando no pior tipo de mau-caráter que pode existir.
O inferno existe?
Coloquemo-nos no lugar de um pai, uma mãe, um filho, uma filha que se tornam vítimas desse tipo de crime. Quem iria querer correr o risco de ver o seu familiar morrer por falta de um socorro que ele não pôde ou não quis pagar? Como dissemos, os golpistas são muito bem informados, familiarizados com a rotina e os eventos dos hospitais que elegem como cenário para os seus crimes, por isso procuram atacar as famílias de mais posses. Mas, quem conhece a real situação financeira de alguém? Muitas vezes as pessoas vendem casas, carros, emprestam dinheiro, caem até nas mãos de agiotas para garantir um tratamento necessário para seu familiar doente.
Não basta termos um Sistema Único de Saúde perfeito na teoria, mas, muito diferente disso na prática, convênios médicos abusivos, que, muitas vezes, nos deixam na mão quando mais precisamos e ainda temos de nos ver às voltas com bandidos dessa categoria? Criaturas que já perderam tudo, que não guardam sequer um vestígio de moral.
E depois, tem gente que não acredita no inferno. Pior, tem uma porção de religiosos, inclusive padres, que proclamam por aí que o inferno não existe, que se trata apenas de um conceito metafórico! Será para apaziguar a própria consciência? Bem, se o inferno não existe, Jesus mentiu. E se Deus mente, no que mais podemos acreditar? Vamos conversar sobre este assunto na semana que vem, enquanto isso, vá pensando: será mesmo que o inferno não existe ou se trata apenas de uma figura de linguagem?
Por Afonso Pessoa
Deixe seu comentário