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A fé do carvoeiro: o que realmente importa para Deus?

O passo seguinte é acharem que sabem mais que Deus e aí se torna impossível respeitar um Ser que passam a considerar como inferior a elas. Sucumbiu ao orgulho, nascido está o ateu.

O Espírito Santo que guia a Igreja, fez com que Ela optasse pela Bíblia completa, a versão dos Setenta de Alexandria, o que vale até hoje para nós católicos.

Redação (06/10/2022 09:27, Gaudium Press) Você já parou para pensar sobre qual é o maior perigo que corremos na vida? As respostas podem variar ao infinito. Há quem acredite que o maior risco que corremos é contrair uma doença incurável. Outros, atribuem o pior que pode nos acontecer à violência, afirmando que saímos de casa e não sabemos se iremos voltar, porque há riscos de assalto, de acidentes de trânsito, de balas perdidas.

Se quem responder for ligado à área das finanças ou tiver uma razoável compreensão da Economia, poderá dizer que o grande perigo é a ocorrência de um bug financeiro, uma falha nos códigos dos programas bancários que pode fazer com que o dinheiro evapore repentinamente, desapareça e ninguém consiga mais acessá-lo. Não podemos afirmar que isso seja provável, mas não podemos negar que é possível e, realmente, geraria o caos, afinal, pouco se toca na moeda real, no dinheiro físico. Os valores que possuímos não possuem nada em comum com os tesouros perseguidos pelos piratas: baús repletos de joias e moedas de ouro. Nossas posses, hoje, não passam de bits, nossa riqueza é virtual e pode, sim, desaparecer num passe de mágica.

Bem, já que falamos em virtual, a pergunta pode ser respondida pelos mais afeitos à tecnologia e à robótica que situariam o maior perigo que nos ronda na possibilidade de um apagão geral na internet. É algo que dá medo de imaginar, porque, se tal coisa, por algum motivo acontecer, o mundo para, porque praticamente tudo depende da rede, está nas nuvens ou em sistemas. Mas, assim como o bug financeiro, um apagão na internet não é o maior risco que corremos.

Outros poderão dizer que a crise no abastecimento é a grande ameaça, podendo provocar a fome generalizada – o que tem levado um bom número de pessoas a estocarem alimentos. Bem, é certo que a fome é um risco, e ela já é um fato real em algumas partes do planeta, porém, a falta de alimentos em escala mundial está longe de ser o maior risco que corremos.

“Ah, mas uma guerra é! Matamos a charada!” É verdade que tem aumentado a tensão quanto ao perigo de uma guerra nuclear, uma hipótese que nos tem rondado cada vez mais de perto e, lamentavelmente, pode vir a ocorrer. No entanto, nem mesmo uma guerra nuclear e a explosão das mais potentes bombas atômicas, com potencial para destruir boa parte do planeta, é o nosso maior risco. É um risco grande, um perigo real, contudo não é o principal.

O fruto proibido

O maior perigo que corremos na vida é sermos vencidos pelo orgulho. A sabedoria é uma coisa excelente e é bom que as pessoas estudem, que adquiram cada vez mais conhecimentos, que dominem teorias, que estejam conectadas aos avanços da ciência, afinal, Deus não criou o homem para a ignorância, e o saber é um presente divino para nós. O problema é quando o conhecimento se alastra por todas as áreas de nossa vida e suplanta o essencial.

Muitas vezes, nos enganamos achando que há um bom saber e um mau saber. O mau saber seria aquele ligado apenas às coisas materiais, dissociado da espiritualidade. De fato, esse saber não é apenas mau, é péssimo. Todavia é uma ilusão acreditar que o saber voltado à Filosofia, à Teologia e à Religião seja sempre um bom saber. Há pessoas que são tão versadas em Deus, que parecem saber tanto sobre Deus que acabam sendo colocadas em pedestais e tratadas como intocáveis. Mas se formos analisar profundamente, muitas dessas pessoas possuem grandes conhecimentos, no entanto são desprovidas da única coisa que de fato importa para Deus: a fé. A fé genuína, simples, modesta, a fé dos pequeninos, a fé pura como a de uma criancinha.

Estarmos saturados de conhecimento pode ser um dos meios mais eficazes de nos afastarmos de Deus, se nos faltar a humildade para reconhecer o nada que somos. Para nos certificarmos de que isso é verdadeiro, basta considerarmos que grande parte dos que se declaram ateus é formada por pessoas que conhecem muito sobre a História Sagrada e a religião. Um palestrante, provavelmente, o ateu mais famoso de nosso país, não esconde de ninguém a sua formação religiosa e os muitos anos que respirou a atmosfera de Deus, até o momento em que duvidou que Deus ouvia as suas orações e saiu em busca do saber.

Chega um ponto em que as pessoas estudam tanto, sabem tanto, que começam a questionar os sistemas, os métodos, o conhecimento dos outros homens; um passo muito curto para começarem a questionar o sistema religioso e, obviamente, questionar a Deus. É o momento apoteótico em que elas provam do fruto proibido (Gn 3) e se convencem de que sabem tanto quanto Deus. E, se elas sabem tanto quanto Deus, concluem que não precisam de Deus. O passo seguinte é acharem que sabem mais que Deus e aí se torna impossível respeitar um Ser que passam a considerar como inferior a elas. Sucumbiu ao orgulho, nascido está o ateu.

Fé do carvoeiro

Há uma história antiga, muito tocante, que deu origem à expressão “fé do carvoeiro” (do francês “foi du charbonnier”). A história conta que havia um homem muito simples e muito reto, um pobre carvoeiro, que um dia foi visitado pelo demônio em forma humana. Disposto a tentar aquela pobre alma, o demônio perguntou em que ele acreditava. O carvoeiro limitou-se a responder: “Acredito na Santa Igreja”. O diabo investiu novamente, perguntando-lhe em que acreditava a Santa Igreja, e o homem respondeu: “No mesmo que eu!”

A conversa prosseguiu por mais algum tempo, com respostas despretensiosas, que nada revelavam sobre as crenças do modesto homem. Cansado de “chover no molhado”, o demônio desistiu e, por certo, foi buscar um mais vaidoso para tentar.

O que isso nos mostra? Que a fé mais genuína é a fé simples. ‘Acredito porque acredito. A Igreja disse que é assim, Jesus criou a Igreja, então, eu acredito no que a Igreja diz.’ Sem erudição, sem questionamentos, apenas o crer por crer.

Afinal, não há muita lógica em Deus se fazer homem, morrer numa cruz, ser enterrado, ressuscitar, passar 40 dias na companhia de seus discípulos, subir ao Céu diante de um grande número de testemunhas, prometer que voltaria e ser esperado por mais de 2000 anos. No entanto, é assim que é. Isso dividiu a História, mudou o mundo, transformou a civilização e subsiste a todas as investidas do demônio porque “a fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê” (Hb 11, 1).

Para estarmos livres deste imenso perigo que ameaça a nossa vida, devemos pedir a Deus que nos livre do orgulho, da soberba e da arrogância e faça brotar em nós, por mais instruídos que sejamos, a fé do carvoeiro, porque o câncer, a violência, o bug financeiro, o apagão na internet, a falência dos sistemas, a fome e a guerra nuclear têm poder apenas contra nossos corpos, mas não podem atingir a nossa alma, se ela estiver verdadeiramente unida a Deus. Como ensinou Jesus Cristo: “não devemos temer os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, devemos ter medo daquele que pode precipitar a alma e o corpo no inferno” (cf. Mt 10, 28).

Por Afonso Pessoa

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