Entre Pedro, o homem e Satanás
Dentre os dogmas de fé proclamados pela Santa Igreja encontra-se o da Infalibilidade Pontifícia, que não implica em que um papa não seja passível de cometer erros.
Redação (10/09/2022 17:45, Gaudium Press) “Eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,18-19). De quanta segurança gozam os filhos da Santa Igreja Católica em poder estar sustentados por tal promessa! Com efeito, o Divino Espirito Santo está sempre assistindo-a e vivificando-a, impossibilitando que ela caia em erro ou heresia.
A tal propósito, voltemos nosso olhar para o passado e vejamos um pouco entre quais circunstancias o Divino Redentor fundou esta promessa.
O segredo da infalibilidade do Papa
O Magistério está firmado nas Sagradas Escrituras e na Tradição. Porquanto também o que toca à infalibilidade dos sucessores de Pedro.
Narra o Evangelho de Mateus (Mt 16,13-17): “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?”. Logo os Apóstolos responderam: “Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas”. Desde toda a eternidade Deus previra aquele momento e conhecera as respostas que lhe dariam. Mas Jesus não queria somente ouvir aquelas palavras, Ele estava sedento da profissão de fé que jorraria, qual água cristalina, da Rocha sobre a qual edificaria sua Igreja.
“E vós, quem dizeis que eu sou?”. Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! Jesus, então, lhe disse: ‘Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus’”. Eis aqui o segredo, eis aqui a promessa: um papa só é coerente e veraz no ensinamento quando as palavras que diz são reveladas pelo Pai, e não quando fala baseado no que “a carne revelou”.
Satanás falou pela boca de Pedro?
Tendo recebido as Chaves do Reino do Céus e da Terra, Pedro logo começou a agir e a falar segundo seus próprios critérios. Assim segue o Evangelho:
“Desde então, Jesus começou a manifestar a seus discípulos que precisava ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; seria morto e ressuscitaria ao terceiro dia. Pedro, então, começou a interpelá-lo e protestar nestes termos: ‘Que Deus não permita isso, Senhor! Isso não te acontecerá!’” (Mt 16,21-22).
Portanto, falar por si próprio, sustentado em premissas humanas e alheado do sólido ensinamento do Divino Mestre, resulta em pensar mal: “teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens!”.
Desta forma, se um pastor do rebanho de Cristo deixa sua mente ocupar-se de critérios e pensamentos humanos, mesmo sendo sucessor de Pedro, ao pensar como homem, acabará por falar como Satanás…
O Dogma da Infalibilidade
Em contrapartida, a Igreja esclareceu quando, como, onde e sob quais circunstâncias podemos ter a certeza que um Papa está pronunciando uma verdade incontestável:
“O Romano Pontífice, quando fala Ex Cathedra – isto é, quando, no desempenho do múnus de pastor e doutor de todos os cristãos, define com sua suprema autoridade apostólica que determinada doutrina referente à fé e à moral deve ser sustentada por toda a Igreja, em virtude da assistência divina prometida a ele na pessoa do bem-aventurado Pedro, goza daquela infalibilidade com a qual o Redentor quis estivesse munida a sua Igreja quando deve definir alguma doutrina referente à fé e aos costumes; (…) portanto, tais declarações do Romano Pontífice são, por si mesmas, e não apenas em virtude do consenso da Igreja, irreformáveis. Se, porém – o que Deus não permita –, alguém ousar contradizer esta nossa definição, seja anátema.”[1]
Por Jean Pedro Galdino
[1] PIO IX. Constituição Dogmática “Pastor Aeternus”: O Magistério infalível do Romano Pontífice. In: DENZINGER, Heinrich; HÜNERMANN, Peter (ed.). Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. Trad. José Marino Luz; Johan Konings. São Paulo: Paulinas; Loyola, 2007.
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