“Ciúme da Glória de Deus”
O amor de amizade busca o bem do amigo; por isso, quando é intenso leva o homem a mover-se contra tudo o que é contrário ao bem do amigo.
Redação (08/06/2022 15:16, Gaudium Press) “O ciúme, qualquer que seja o sentido, provém da intensidade do amor. Ora, é evidente que quanto mais intensamente uma potência tende para algo, mais fortemente repele o que lhe é contrário e incompatível. Assim, pois, sendo o amor “um movimento para o amado”, como diz Agostinho, o amor intenso procura excluir tudo o que lhe é contrário.
Isso ocorre de maneira diferente no amor de concupiscência e no amor de amizade. No amor de concupiscência,[1] o que deseja alguma coisa intensamente se move contra tudo o que é contrário à consecução ou fruição tranquila do que é amado. Desse modo, diz-se que os maridos têm ciúmes de suas esposas, para que a exclusividade que buscam ter delas não seja impedida pela participação de outros. Do mesmo modo também, os que buscam a excelência se movem contra os que são considerados excelentes, como se estes impedissem a excelência deles. E este é o ciúme da inveja, da qual se diz no Salmo 36: “Não tenhas inveja dos maus, nem ciúme dos criminosos”.
O amor de amizade busca o bem do amigo; por isso, quando é intenso leva o homem a mover-se contra tudo o que é contrário ao bem do amigo. E, nesse sentido, diz-se que alguém tem ciúmes de seu amigo, quando procura rechaçar tudo o que se diz ou faz contra o bem do amigo. Assim, também se diz que alguém tem ciúme da glória de Deus quando procura repelir, de acordo com suas possibilidades, o que é contra a honra ou a vontade de Deus, segundo o que diz o livro dos Reis: “Eu me consumo de ciúme pelo Senhor dos exércitos”; e sobre o que afirma o Evangelho de João: “O zelo de tua casa me devorará”, comenta a Glosa que “é devorado pelo bom zelo quem se esforça em corrigir qualquer mal que vê; e, se não o pode, tolera-o gemendo”.
Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I-II, q. 26, a. 4, co. Trad. Aldo Vannucchi et al. São Paulo: Loyola, 2009, 2 ed., v. 3, p. 356-357.
[1] Segundo o sentido que lhe dá a Filosofia medieval, o desejo de prazer gerado por uma realidade física, material.
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