São Simão Stock
16 de maio, memória de São Simão Stock, carmelita que recebeu das mãos de Maria o escapulário do Carmo, prenunciando um período de glória para a devoção mariana e para a Santa Igreja.
Redação (16/05/2024 08:44, Gaudium Press) Filho de nobre família de barões ingleses, nasceu ele em 1164, no Castelo de Harford, condado de Kent, do qual seu pai era governador. Complicações durante a gestação, decorrentes da robusta compleição do nascituro, faziam temer a perda da vida materna na hora de seu nascimento. Não obstante, a piedosa baronesa consagrou o menino a Nossa Senhora e ele veio ao mundo sem maiores dificuldades. E, “desde o berço, Simão teve pela Mãe de Deus a mais terna devoção”.
Em sinal de gratidão, costumava a mãe, antes de amamentá-lo, renovar seu oferecimento rezando de joelhos uma Ave-Maria. Quando se esquecia, por distração, o bebê se recusava a alimentar-se.
Conta-se que o menino se abstinha do leite materno aos sábados e vésperas das festas marianas, e que para apaziguá-lo em qualquer mal-estar bastava apresentar-lhe uma imagem da Virgem Maria.
Dotado de rara inteligência, antes de completar um ano sabia a Ave-Maria e aprendeu a ler tão logo começou a falar. Seguindo o exemplo dos pais, começou muito cedo a recitar o Pequeno Ofício à Santíssima Virgem, costume que nunca abandonou. Com seis anos compreendia o latim e, abrasado de amor, rezava os Salmos várias vezes por dia, ajoelhado, por respeito à Palavra de Deus.
Crescimento em ciência e virtude
Sentindo-se incapaz de orientar os estudos de um filho tão precoce, depois de guiá-lo nas primeiras letras, seu pai o levou para Oxford, onde ele “foi sábio na idade em que as crianças começam a estudar”.
À medida que crescia em ciência, acrisolava-se sua devoção a Nossa Senhora. Aos doze anos, lendo um tratado da Imaculada Conceição – sete séculos antes da proclamação do dogma! –, sentiu um tal arroubo de amor que, movido pelo “desejo de ter alguma semelhança com a mais pura das virgens, a quem sempre tomou como sua Mãe, consagrou a Deus sua virgindade”.
A delicadeza de sua consciência e o temor de manchar sua pureza ajudaram-no a evitar até o que aparentava ser pecado. E sua ascese o fazia fugir da vigilância paterna para, por penitência, tomar como ração diária ervas cruas, salada de legumes e frutas silvestres, com pão e água.
Tudo isso despertou enorme inveja em seu irmão mais velho que, a despeito dos conselhos paternos, levava uma vida dissoluta e mundana. A santidade do jovem Simão lhe era, pois, uma constante censura. Inicialmente, armava ciladas à sua inocência, seguidas de debiques à sua piedade, para depois passar à perseguição aberta, com calúnias e maus-tratos.
Longo período de solidão
Temendo cair nas seduções do mundo e movido por uma moção interior da graça, em seus curtos doze anos Simão decidiu abraçar a solidão, refugiando-se numa vasta floresta vizinha a Oxford. Encontrou ali uma árvore de dimensões extraordinárias com uma ampla cavidade no tronco e nela improvisou uma cela. Um crucifixo e uma imagem de Nossa Senhora, únicos objetos que trouxera consigo, serviram de adorno para a sóbria moradia. Como alimento recolhia ervas, raízes amargas e frutos silvestres.
Em meio a consolações, começava para Simão uma nova via, de tentações e provas. O demônio provocava-lhe escrúpulos, temores e cruéis remorsos por pecados que nunca cometera. Para vencê-los, intensificava suas austeridades e orações e, com a ajuda da Santíssima Virgem, sempre saía vencedor.
Célere passava o tempo! Muito favorecido por graças especiais, recebeu uma visita de Nossa Senhora, que lhe manifestou o contentamento de Deus pelos vinte anos de vida solitária já decorridos. A seguir lhe revelou que fora escolhido para unir-se à Ordem do Carmo quando esta viesse da Terra Santa para a Inglaterra, porém enfrentaria as contradições de que ela seria objeto sob sua direção.
Entrada na Ordem do Carmo
A fim de se preparar melhor para estes futuros acontecimentos, Simão regressou a Oxford para completar os estudos de Teologia e receber o ministério sacerdotal. Sem embargo, os planos de Deus não se regem segundo os ritmos humanos: os primeiros carmelitas ainda tardariam quinze anos para pisar em solo inglês…
Nesse ínterim, voltara nosso Santo à vida solitária. Em 1212 chegam à Inglaterra, por fim, os primeiros religiosos provenientes do Monte Carmelo. Ao receber tão alvissareira notícia, anunciada pela própria Santíssima Virgem, Simão se apressa a juntar-se a eles, que haviam recebido o encargo de dar início à fundação de mosteiros na ilha.
Esperando dias melhores, os religiosos se retiram a um bosque em Aylesford, propriedade de um frade carmelita de origem inglesa, e começam a viver como anacoretas. Ali o noviço recebe o hábito carmelitano das mãos do Bem-aventurado Alain, então prior da pequena comunidade.
Conhecendo este superior os raros talentos de nosso Santo, ordena-lhe regressar a Oxford e doutorar-se em Teologia, malgrado sua repugnância pelos ambientes mundanos que seria obrigado a frequentar. O religioso obedece, mas, uma vez obtido o título, aproveita a circunstância favorável oferecida pela fundação de um eremitério carmelitano nas proximidades de Norwich para retornar à vida solitária, junto com outros religiosos vindos da Palestina.
Primeiros obstáculos a vencer
Passo a passo, as profecias de Nossa Senhora vão se cumprindo. São Brocardo, segundo Superior ocidental da ordem, conhecendo as maravilhas da graça operadas entre os solitários de Norwich, especialmente em favor de Simão, quis tê-lo como coadjutor, e no Capítulo Geral de 1215 o nomeia Vigário-Geral para toda Europa, onde as casas se haviam multiplicado em pouquíssimo tempo.
Devido ao bem enorme feito à Igreja, o pai da inveja insufla tremenda perseguição contra a ordem: animadas por falso zelo, algumas personalidades tentam suprimi-la, sob o pretexto de estar contrariando os ditames do IV Concílio de Latrão.
Vigilante, Simão une todo o Carmelo em oração e recorre ao Papa Honório III. O Pontífice envia dois comissários para se informarem da situação in loco, mas estes se deixam seduzir pelos opositores. Maria Santíssima, no entanto, vem Ela mesma em socorro de seus filhos: o Papa declara que a Rainha do Céu lhe ordenara “aprovar a regra do Carmo, confirmar a ordem e protegê-la contra a investida de seus adversários”.
Recolhimento no Monte Carmelo
Soara afinal a hora marcada pela Providência para a Ordem do Carmo partir da Terra Santa para lugares mais favoráveis, como predissera Nossa Senhora. Por disposição do Bem-aventurado Alain, já eleito Superior-Geral, Simão Stock viaja para o Monte Carmelo a fim de participar do Capítulo Geral, convocado para pôr remédio aos males sofridos no Oriente, por causa da intolerância sarracena. O carmelita inglês teve uma indizível alegria ao conhecer o profético monte no qual tudo começara com Elias.
No Capítulo se decidiu, de fato, a emigração de todos os carmelitas para a Europa, apesar da objeção de alguns dos presentes que diziam não poder abandonar, em consciência, os poucos cristãos do Oriente. São Simão ponderou, entretanto, ser inútil exporem-se a tão grave perigo, lembrando um princípio evangélico: “Se vos perseguirem numa cidade, fugi para outra” (Mt 10, 23).
Narra a tradição do Carmelo que ele permaneceu por seis anos levando uma vida de oração na montanha de Elias, à espera de uma ocasião propícia para retornar a seu país. Esta se deu quando certos nobres ingleses, que haviam lutado na Terra Santa, ofereceram aos religiosos para embarcar em seus navios, de regresso à pátria, onde haveriam de se distribuir nos diversos mosteiros já existentes. São Simão e o Superior-Geral dirigiram-se para Aylesford.
Sinal de predileção e aliança com Nossa Senhora
Corria o ano de 1245 quando o Bem-aventurado Alain convocou o primeiro Capítulo Geral na Europa, durante o qual ele apresentou sua renúncia ao cargo, sendo eleito por unanimidade São Simão Stock para substituí-lo, aos oitenta anos de idade. Sob seu governo a ordem se expandiu notavelmente, sobretudo na França, onde se multiplicaram as fundações, graças ao amparo de São Luís IX.
Mesmo contando com a proteção da Santa Sé, o Carmo foi alvo de novas e virulentas perseguições que visavam suprimi-lo. No auge da aflição, o Santo entregou-se a orações, jejuns e penitências, que acabaram se prolongando por alguns anos. Foi nesse transe que compôs a célebre antífona Flos Carmeli, que passou a recitar todos os dias.
Contudo, “nas obras que Nossa Senhora ama, as coisas podem chegar a ponto de se despedaçarem, se estraçalharem quase completamente. Tudo parece perdido, mas é o momento que Ela reserva para intervir”.
Em 16 de julho de 1251, a oração do venerando carmelita, “como a do profeta Elias, abriu o Céu e fez descer a Rainha dos Anjos”. Nesta data, “a Virgem Santíssima lhe apareceu, vestida do hábito da ordem, coroada de cintilantes estrelas, e tendo o seu Divino Filho nos braços”. Trazia nas mãos o escapulário, que lhe entregava como tesoureiro de seu sinal de predileção e de uma aliança sempiterna.
No mesmo dia, São Simão entregou ao Pe. Pierre Swayngton, seu secretário e confessor, uma carta dirigida a todos os seus irmãos de hábito, na qual registrava a promessa da Mãe de Deus de que fora depositário:
“Recebe, meu amado filho, este escapulário de tua ordem, como sinal distintivo e a marca do privilégio que Eu obtive para ti e todos os filhos do Carmelo; é um sinal de salvação, uma salvaguarda nos perigos e garantia de uma paz e uma proteção especial até o fim dos séculos. Ecce signum salutis, salus in periculis. Quem morrer revestido deste hábito será preservado do fogo eterno”.
Vida longeva unida a Maria
A partir de então, a Ordem do Carmo se estendeu prodigiosamente e no fim do século XIII, poucos anos depois da morte do Santo, já possuía, segundo fontes da época, mais de sete mil mosteiros e eremitérios, com cerca de cento e oitenta mil religiosos.
São Simão Stock dedicou os anos que lhe restavam para visitar os carmelos. Esteve em várias cidades da Bélgica, Escócia, Irlanda e outros países, e em 1265 chegou a Bordeaux, na França, onde no dia 16 de maio entregou sua alma a Deus. Suas últimas palavras foram as primeiras que aprendera a dizer: Ave Maria.
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n.185, maio 2017. Por Ir. Juliane Vasconcelos Almeida Campos, EP.
Deixe seu comentário