“Dar meia-volta e retornar ao caminho certo”
Prestar aos homens os deveres devidos e a Deus a religião necessária, cumprem ser virtudes indispensáveis para a sã manutenção da sociedade.
Redação (31/03/2022 10:40, Gaudium Press) Propor-se esclarecer o acúmulo de fatos acontecidos nesses últimos dias não é tarefa fácil; de um lado, são muitas ocorrências; de outro, as linhas de um único artigo tornam-se, em consequência, curtas.
Para elencar alguns: os quase quatro milhões de refugiados ucranianos que foram forçados a emigrar para terras vizinhas;[1] o inquietante pronunciamento do Secretário de Estado Norte-Americano, Antony Blinken, que busca esclarecer a tergiversação entre a Rússia e a Ucrânia, assinalando que não há “sinais de verdadeira seriedade” entre as tratativas diplomáticas pelo fim da guerra;[2] a volubilidade financeira que tem assolado muitos países, europeus e americanos, como decorrência das sanções impostas à Rússia, etc.
Tudo isso aponta para uma situação bastante indesejada pelo homem contemporâneo: a instabilidade e o medo.
Esses incidentes – para chamá-los assim – têm, entretanto, o valor de sinais. São meras tentativas de ajeitar ou reformar uma situação cujo desenlace parece ignorado até pelos seus próprios promotores; e que têm se mostrado tão ineficazes quanto numerosas.
No entanto, o problema maior é que muitos deixam de assestar sua objetiva com a verdadeira e única lente capaz de indicar-lhes o alvo (a solução): Deus.
Se o homem parece resvalar encosta abaixo, não seria este o momento para recordar-lhe aquelas verdades mais sobrenaturais que humanas encerradas na Imitação de Cristo? “Se agora parece que sucumbes e passas por uma confusão que não mereceste, não te irrites por isto, […] ergue teus olhos ao céu, para Mim, que te posso livrar de toda a confusão e injúria e dar a cada um conforme a sua obra”.
Tais malogros, longe de fazerem mal, produzirão o bem; qual remédio – amargo e, por vezes, indigesto – curarão não poucas moléstias em que se vê atolada grande parcela dos homens (católicos).
Tu leitor, há quanto não vias tanta gente rezando com braços em cruz, piedosamente, – e aqui friso a importância do advérbio, piedosamente –, pelo futuro da humanidade?
Contudo, se no passado houvesses também tu rezado pelo presente, teríamos nós a situação de hoje?
* * *
Quiçá rememorando certa verdade esquecida se possa elucidar a etiologia das catástrofes humanas e naturais de que temos sido alvo: a virtude social da piedade e a da religião compõem a panóplia das virtudes anexas da justiça, segundo ensina a Escolástica. [3]
Em primeiro lugar, a justiça para com Deus, prestando-lhe o culto devido, a religião. Em segundo lugar, a piedade para com os homens, mediante uma honesta atividade na grande rede de deveres que uns têm (ou devem) aos outros, consoante ao grau de hierarquia correspondente a cada indivíduo.
Neste sentido, se falta a religião para com Deus, como poderá haver a piedade entre os homens? As desventuras sociais serão consequências dessa imperfeição.
Como um antídoto, que da atual impiedade entre os homens possa ressurgir a religião para com Deus; desde que também tu, leitor, sejas capaz de reconhecer tua trilha errada – se nela estiveres. E, nesse caso “o progresso significará dar meia-volta e retornar ao caminho certo”,[4] promovendo que do mal da guerra renasçam a estabilidade e a ordem, bens que só a virtude é capaz de alcançar.
Por Bonifácio Silvestre.
[1] Cf. Dados fornecidos pela Europa press.
[2] Cf. www.clarin.com/mundo/guerra-rusia-ucrania.
[3] Cf. SANTO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. II-II, q. 101, a. 1. São Paulo: Loyola, 2012, 3. ed., v. 3-5.
[4] LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. Trad. Gabriele Greggersen. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017, p. 60.
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