Bento XV, uma resposta falecida há 100 anos
Eis os traços do Papa responsável por conduzir a Igreja nos conturbados anos da 1ª Guerra Mundial
Redação (21/01/2022 18:27, Gaudium Press) Recorda-se hoje, 22 de janeiro, o centésimo ano do falecimento de Bento XV, o Papa da religio depopulata, segundo a alcunha de Malaquias.
As encruzilhadas em que estiveram presentes seu labor apostólico e ação pastoral dificultaram muitíssimo a sua missão: de um lado, a primeira guerra mundial fazia seus estragos bem sob seus olhos, quando eram dizimadas as massas fervorosas de soldados católicos nas inúteis lutas de trincheiras: era a cristandade que se descompunha; de outro lado, seu papel – ou o papel que lhe cabia representar –, segundo os anelos dessas ou daquelas potências civis, pelo qual sua baixa estatura, débil compleição nada mais lhe serviam do que ser a moldura de si mesmo e de seu pontificado.
Verdade é, entretanto, que Bento XV não deixou de protestar contra o “espetáculo monstruoso” daquela guerra em que corria o sangue cristão.[1] Seu clamor pela paz – que não raro era boicotado pelo governo francês –, seja publicamente ou na surdina, foi estímulo e tema para a publicação de suas primeiras encíclicas. Porém, os efeitos demoraram – será que os houve realmente? Mais de dois anos a seguir, durante o “conturbado 1917” – segundo expressão de Poincaré[2] –, o futuro da humanidade via-se inquietante.
Que tentou fazer Bento XV? Apelar outra vez mais pela paz justa e estável. Sua personalidade, contudo, parecia não convencer nem os imperadores do Centro europeu, tampouco aos aliados: o insucesso de sua ação foi notório.
Embora seja difícil afirmar haver propensão para este ou aquele lado, por parte de Bento XV, fato é que suas iniciativas – até mesmo a simbólica canonização de Santa Joana D’Arc, em 1920, como estímulo à nação francesa – carecem de frutos: no final das contas, pelo desprestígio e desgaste das muitas tratativas por ele promovidas, a Santa Sé achou-se fora, ou pelo menos insensível nas relações diplomáticas para o soerguimento de uma Europa cristã.
Num outro viés, porém, talvez Bento XV tenha enxergado com mais acuidade sua missão: ao criar a Congregação para as Igrejas Orientais e o Instituto dos Estudos Orientais o olhar da Igreja voltou-se complacente àqueles povos, quiçá numa tentativa de fazer florescer aí as sementes que não sobreviveram à guerra na Europa…
Somando seus anos de pontificado, do que foi plantado e do que foi colhido, bem podemos nos perguntar: foi Bento XV a resposta da Igreja face à guerra? Uma palavra sua define a atitude que decidiu tomar: “O Papa não é neutral; é imparcial”.[3]
Mas se vivesse, São Pio X teria sido imparcial? Não teria sido, ele mesmo, uma resposta aos apelos feitos pela Virgem de Fátima em 1917? Mas essa é uma outra história…
Bonifácio Silvestre
[1] Cf. ROPS, Daniel. A Igreja das Revoluções – II. São Paulo: Quadrante, 2006, p. 310.
[2] Raymond Poincaré. Presidente da França de 1913 a 1920.
[3] Cf. Op. cit.
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