Patriarca dos monges do Ocidente
São Bento teve uma irmã chamada Escolástica que desenvolveu uma obra que é entrelaçada com a de São Bento, a fundação das beneditinas.
Redação (19/11/2021 10:21, Gaudium Press) O convento no qual ela se instalou ficava numa colina situada ao lado de Monte Cassino. Entre ambos, havia um vale e ali foi erigido um pequeno oratório, onde São Bento mantinha um colóquio com sua irmã uma vez por ano.
Certo dia, acompanhado de alguns monges, ele foi até o oratório para conversar com Santa Escolástica. Após horas de colóquio, percebendo que seu irmão iria encerrá-lo, ela lhe disse:
– Eu vos rogo que não me deixeis esta noite para podermos continuar a falar das alegrias do Paraíso.
– Que me pedis, minha irmã? Não me é possível passar a noite fora de minha cela…
Então, ela colocou os cotovelos sobre a mesa, curvou a cabeça apoiada pelas mãos com os dedos entrelaçados e se pôs a rezar, derramando torrentes de lágrimas. De repente, o céu, que estava radioso até aquele momento, se toldou e desatou-se uma violenta tempestade. Tal era a quantidade de água, raios e trovões que se tornou impossível sair do local.
Voltando-se para sua irmã, São Bento disse:
– Que fizestes?
– Eu vos pedi e me recusastes. Então, voltei-me a Deus e Ele me atendeu.
Assim, a conversa continuou pela noite inteira e, de manhã, eles se despediram.
Papel insubstituível e incomparável de Santa Escolástica
Três dias depois, da janela de sua cela São Bento viu a alma de Santa Escolástica, sob a forma de uma pomba, voar ao céu. Mandou que buscassem o venerável corpo e o colocassem na sepultura que ele havia providenciado para si mesmo, em Monte Cassino.
Transcorrido algum tempo, o Santo reuniu seus monges e anunciou-lhes que se aproximava a hora em que iria deixá-los. Tendo sido tomado por uma intensa febre, ele recebeu a Sagrada Eucaristia; depois ficou de pé, abriu suas veneráveis mãos, se pôs a rezar e sua alma foi levada ao Céu. Era o dia 21 de março de 547.
Enterraram-no ao lado de sua irmã, no túmulo que ele mandara edificar no mesmo local onde existia o altar de Apolo, destruído pelo varão de Deus .
Sobre Santa Escolástica, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira afirmou que ela “desenvolveu uma obra entrelaçada com a [de São Bento], fundando as beneditinas.
“Numa época em que a ação social destas religiosas pareceria tão necessária, elas se empenharam em algo muito mais importante: rezavam e se sacrificavam. E, pelo seu exemplo, deixaram bem claro que a fecundidade do ramo masculino se devia ao fato de haver um ramo feminino que rezava e se imolava.
“Vemos, assim, o papel admirável, insubstituível e incomparável de Santa Escolástica.”
Perfume do bom feudalismo medieval
A respeito de São Bento e da obra que ele realizou, disse Dr. Plinio:
Esse varão de Deus “foi o Patriarca dos monges do Ocidente, pois o monaquismo ocidental nasceu dele. Ele fundou uma Ordem religiosa gloriosa que se estendeu por toda a Europa, e produziu a conversão de bárbaros numa das situações mais duras da vida da Igreja Católica, que se encontrava internamente devorada por germes de corrupção do paganismo romano, ao qual ela mesma havia combatido.
“Ademais, esse próprio mundo pagão era hostilizado pelos bárbaros invasores do Império Romano do Ocidente, os quais eram arianos pervertidos por um bispo, Úlfilas, ou completamente pagãos; mas a um ou outro título ambos inimigos da Igreja.
“Quando se deu o estrépito tremendo da invasão do Império do Ocidente pelas hordas bárbaras, foram os frades beneditinos que trabalharam para a conversão dos bárbaros, sobretudo na parte mais difícil, ou seja, onde não houvera Império Romano, o Cristianismo não tinha penetrado e se tratava de trabalhar em plena selva.”
“São Bento teve um número incontável de filhos espirituais, os religiosos beneditinos, que se expandiram pelo continente e deitaram uma prodigiosa influência na formação e na difusão da Idade Média. […]
“Inglaterra, Alemanha, Suécia, Noruega, Dinamarca, Boêmia, Áustria e também parte da Hungria se converteram graças ao impulso dessa imensa família religiosa dos beneditinos, que empreendiam sua gesta apostólica de modo altamente prestigioso.
Aliás, seja dito de passagem que prestígio e beneditinismo são coisas quase que indissociáveis. Em toda a vida da Igreja, a Ordem de São Bento conservou uma espécie de influência e de categoria que ainda guardam um perfume do bom feudalismo medieval.
Os povos iam ao encalço dos beneditinos
“Mas como agiam os filhos do santo Patriarca?
“Eles se dirigiam até os povos infiéis, pregavam missões e fundavam um mosteiro. Este, em geral, edificado num lugar ermo. Ali começavam a cantar, a praticar a Liturgia, a distribuir esmola aos pobres que se apresentavam, a derrubar florestas, a fazer plantações regulares, a secar pântanos, etc.
“Por causa da influência que adquiriam sobre as almas, especialmente por suas virtudes, as populações e as cidades iam se constituindo em torno de seus mosteiros. Quando permaneciam solitários, das cidades ia-se visitá-los, e sua ação se irradiava à distância, auxiliando a atuação do clero secular.
“Tornou-se uma preciosidade para qualquer povoação ter um mosteiro beneditino instalado nas suas vizinhanças. Na verdade, não era o próprio desses conventos e abadias existirem nos limites urbanos. Mantinham-se sempre afastados, até o momento em que não mais podiam se subtrair ao afluxo da gente que desejava estar cada vez mais próxima deles, e então os cercava.
“Seu apostolado característico, porém, era esse que, de longe, se punha a refulgir com todo o seu brilho, a atrair com todo o seu perfume, fazendo com que os povos viessem ao seu encalço. O que não deixa de ser uma linda forma de atuar em benefício das almas.”
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
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