Santas Nunilo e Alódia
A Igreja celebra hoje, dia 22 de outubro, a memória de Nunilo e Alódia: duas jovens irmãs martirizadas na Península Ibérica por serem cristãs.
Redação (22/10/2021 09:31, Gaudium Press) A subida ao trono de Abderramão II, na terceira década do século IX, iniciara um período difícil para os cristãos do Emirado de Córdoba, pois, embora não houvesse um clima de perseguição acirrada, quem desobedecesse abertamente às leis do Alcorão devia ser denunciado às autoridades.
Conta a tradição que um rico muladi da vila de Adahuesca, situada bem ao norte da Península, casou-se por aqueles anos com uma cristã, e desta união nasceram duas meninas: Nunilo e Alódia. Ambas foram educadas na Religião verdadeira pela mãe, porém ocultamente, para evitar ser acusada de “apostasia”.
Ainda adolescentes viram-se órfãs de pai e mãe, sendo confiadas à custódia de um parente paterno, adepto ferrenho do islamismo. Entretanto, mesmo naquele ambiente hostil, as irmãs perseveraram na Fé recebida no Batismo.
Temendo ser denunciado por manter duas jovens cristãs em sua casa e cobiçando o prêmio prometido a quem delatasse os seguidores de Jesus, seu tutor as entregou a Jalaf ibn Rasid, governador de Alquézar. Este tentou convencê-las, com lisonjas e ameaças, a abandonar a Religião, mas todas as suas propostas foram rechaçadas com energia pelas irmãs, que lhe declararam estarem dispostas a viver ou morrer por Cristo.
Admirando sua perseverança e comovido pela juventude das duas, Calaf ordenou que retornassem a casa, sem fazer-lhes nenhum mal.
“A morte nos levará aos braços de Cristo!”
Desgostoso com o inesperado desenlace, o ímpio parente apelou para a autoridade de Zimael, governador de Huesca.
Novamente as moças foram chamadas a interrogatórios. Se abjurassem a Fé, receberiam ouro, prata, vestidos e joias, além de ricos e nobres esposos; se não o fizessem, seriam sentenciadas com a pena de morte. Mas nada movia as heroicas irmãs, que responderam:
“Não te empenhes em separar duas virgens do culto de Deus! […] Com Cristo está a vida e, sem Ele, a morte. Permanecer a seu lado e viver com Ele é a verdadeira alegria; separar-se d’Ele é a eterna perdição! Nós consagramos a Ele a integridade de nossos corpos e temos o firme propósito de jamais abandoná-Lo. Nós desprezamos todas as vantagens terrenas que nos ofereces. […] Receberemos com alegria a morte com que nos ameaças, pois sabemos que ela nos abre as portas do Céu e nos leva aos braços de Cristo!”
Percebendo o governador que o fato de as duas irmãs estarem juntas as fortalecia em suas convicções, mandou separá-las. Foram destinadas à casa de famílias diferentes, que as tratavam muito bem, ao passo que procuravam persuadi-las com promessas e ameaças, dizendo: “O que fazes? Tua irmã já renegou e deseja seguir a nossa lei”.
Quarenta dias depois, Nunilo e Alódia se encontraram novamente diante do iníquo governador. Neste derradeiro interrogatório, o ataque foi mais sutil, sendo-lhes apresentada a proposta de apenas simularem uma renúncia à Fé. Ante a recusa enérgica das jovens, imediatamente foi proferida a sentença de morte por decapitação.
Nobre gesto nascido de um coração puro
Por ser a mais velha, coube a Nunilo ser a primeira.
Descobrindo sua garganta para facilitar o trabalho do carrasco, Nunilo preparou-se para receber a coroa do martírio. Mas, tendo este errado o primeiro golpe, ela caiu ao chão e, nos estertores da morte, seu vestido se descompôs.
Alódia correu para junto da irmã para ajeitar-lhe as roupas. E, como visse sua alma voar como uma pomba para o Céu, exclamou cheia de júbilo: “Irmã, espere-me um pouco! Espere-me um pouco!”
Alódia então se preparou para receber o golpe fatal, mas antes tirou a fita que lhe segurava os cabelos e, para evitar o acontecido com sua irmã, prendeu a própria túnica à altura dos pés.
Seus corpos foram abandonados no local, a fim de que se tornassem alimento dos animais. Estes, porém, não se atreveram a tocá-los, pois uma força divina velava sobre os restos mortais das duas irmãs. Vendo isso, os infiéis arrastaram-nos para fora da cidade, onde os cristãos os sepultaram.
Sem dúvida, aquela jovenzinha intrépida que correu para cobrir o corpo de sua irmã não poderia sequer imaginar que a consideração desse seu singelo gesto, lembrado com admiração ao longo dos séculos, valeria mais do que muitas palavras neste mundo tão avesso à virtude e, em especial, à modéstia!
Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n.226, outubro 2020.
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